A Medida Provisória (MP) que estabelece uma série de mudanças na tributação de aplicações financeiras foi publicada na noite de quarta-feira (11), mas o mercado segue analisando os impactos das mudanças. Nas ações, as instituições financeiras estão em um dos grupos mais afetados, dizem analistas. Afinal, a MP prevê a elevação da Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL) das fintechs e aumento do Imposto de Renda sobre a distribuição de Juros Sobre Capital Próprio (JCP) – de 15% para 20%. O setor financeiro foi rapidamente apontado como um dos mais impactados pelo aumento da tributação nos Juros sobre Capital Próprio porque, historicamente, o segmento é um dos que mais usa esse mecanismo para remunerar os acionistas. Leia também: Vai investir no exterior? MP cria “bom momento” para diversificar portfólioA MP, que ainda precisa do aval do Congresso Nacional, pode diminuir em até 7% o retorno com dividendos dos bancos e mudar a forma de distribuição de proventos no setor, dizem especialistas ouvidos pelo InfoMoney. Por que os bancos usam mais JCP?Ao contrário do que acontece com os dividendos, o pagamento de Juros sobre Capital Próprio pode ser deduzido do lucro antes do cálculo de Imposto de Renda das empresas. Então, na prática, usar essa forma de distribuição significa, para a companhia, pagar menos IR, já que o lucro líquido será menor – reduzindo, consequentemente, a base para o cálculo do imposto. As instituições financeiras não são as únicas a usar JCP na distribuição de proventos, mas, como geralmente as margens do setor são maiores, o mecanismo vira uma forma de remunerar acionistas e diminuir a carga tributária ao mesmo tempo. “Hoje, grande parte da remuneração do setor vem de JCP, em alguns casos, mais de 70%”, diz Tales Barros, líder de renda variável da W1 Capital. Marcos Camilo, CEO da Pulse Capital, diz que, para as empresas, a mudança na tributação “reduz o benefício do modelo, mas ainda há um bom desconto tributário”.O que muda para o investidor? A explicação para a redução do benefício do JCP citada por Camilo está justamente em como o investidor passa a analisar os proventos que as empresas pagam. Afinal, quem vai arcar com a alíquota maior de IR na distribuição via Juros sobre Capital Próprio é quem compra as ações das companhias.Agora, portanto, as empresas precisam encontrar um novo equilíbrio entre o benefício fiscal de remunerar acionistas via JCP e a atratividade de suas distribuições, que, se muito reduzidas, prejudicam a atração de investimentos. Barros explica que se não houver mudança na forma como o setor financeiro distribui proventos, a rentabilidade menor pode afetar o valuation das companhias, “sobretudo se o mercado ainda não tiver precificado totalmente a mudança”. Para o especialista, “a maioria dos bancos deve aumentar a proporção de dividendos tradicionais, pois o JCP deixa de ser vantajoso”. Leia também: Como MP que compensa alta do IOF afeta seus investimentos? Saiba TudoSobre os investimentos nas empresas do setor financeiro, Ricardo Schweitzer sócio-fundador da Garoa Wealth Managemen diz que “o foco continua sendo geração de caixa e retorno ao acionista; as empresas podem reter menos, recomprar ações ou pagar mais dividendos no lugar de JCP”. Ele completa dizendo que “o investidor que foca em renda deve olhar para a qualidade do ativo, não apenas para a forma de pagamento”.Dividendos menores?Com o uso mais frequente de dividendos, há um efeito importante no balanço do setor. Como o montante distribuído via dividendos entra no cálculo de Imposto de Renda, a carga tributária das instituições financeiras deve subir, diminuindo o lucro líquido disponível para distribuir aos acionistas. Barros calcula que, se um banco tem, hoje, dividend yield (retorno apenas com dividendos e JCP) de 7,5% ao ano, a mudança tem potencial para reduzir o retorno para o intervalo entre 6,9% e 7,1%. “Estima-se uma redução de 5% a 7% no lucro final e se o banco mantiver o percentual de distribuição, isso significa que o valor por ação pago em proventos deve cair na mesma proporção”, diz, considerando que o preço da ação fique estável. Mesmo com as mudanças, as instituições financeiras devem continuar sendo um porto seguro para os investidores brasileiros, dizem os analistas. “No fim das contas, tudo vai para os bancos, eles emprestam dinheiro e têm uma renda mais perene. O investimento nesse setor continua sendo super vantajoso”, diz Marcos Praça. O aumento de imposto sobre JCP impacta o lucro líquido das empresas, mas não altera características essenciais do segmento: “é um setor historicamente resiliente e rentável”, segundo Tales Barros. The post Dividendos menores? Por que os bancos são mais afetados com o aumento de IR no JCP appeared first on InfoMoney.