Prestes a completar 15 anos de carreira, Gabriella Di Grecco reflete sobre trajetória em múltiplas frentes

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Atriz, cantora, compositora, diretora, apresentadora, performer — Gabriella Di Grecco não assume uma função por vez, mas incorpora todas como extensões de uma mesma pulsação criativa. Nascida em Cuiabá, ela transita entre linguagens com fluidez, sem dispersar o centro de gravidade que a move: o desejo de transformar expressão em experiência, e experiência em arte.Sua primeira aparição em cena foi aos sete anos, no ballet clássico. Começo canônico, quase disciplinar, mas já ali despontava uma inquietação que, anos mais tarde, a levaria para Nova York, onde estudou na prestigiada American Academy of Dramatic Arts. Essa base sólida logo desembocaria em um repertório cênico plural, passando por novelas como “Além do Tempo”, da Rede Globo, e “Cúmplices de um Resgate”, do SBT, até protagonizar montagens de peso como “Cinderela” e “Cinza”, nas quais a interseção entre corpo, voz e presença ganhou potência real.“O balé clássico foi o meu primeiro contato com a prática da arte. Não gostava! Hahaha! Foi por insistência da minha mãe. Mas hoje, percebo a importância que isso teve na minha vida e o quanto ter essa formação me ajudou a ter um diferencial no mercado, sobretudo no teatro musical. É muito difícil encontrar atores que dançam e tem uma formação em dança. Outra coisa que me ajudou muito na constituição da minha carreira foi ter sido atleta de kung fu por alguns anos. Assim como o balé, as artes marciais demandam disciplina e rigor. Entretanto, o conhecimento de luta ampliou as minhas possibilidades, trazendo também pro meu repertório as cenas de ação e aventura. Sempre gostei de explorar minhas possibilidades e atividades. Por isso, ao longo da vida fiz muitas coisas além de atuar, mas que contribuem e muito para o universo artístico. Como vôlei, atletismo, hipismo, luta de espadas, yoga, entre muitas outras atividades. Também já trabalhei em produtoras como montadora, microfonista, sonoplasta, operadora de câmera, entre várias outras funções no audiovisual. E isso se reflete na minha carreira e na forma como conduzo a arte. Na minha experiência, quanto mais plural eu sou, maior são as minhas possibilidades dentro da arte, e eu amo isso”, conta a artista. Foi sob o selo Disney que Gabriella ganhou força no imaginário internacional. Na série “Bia”, exibida em mais de 40 países, ela não apenas encarnou a personagem Helena Urquiza — figura que dobrava em Ana da Silva —, como emprestou sua voz a uma trilha sonora que alcançou milhões de ouvintes no Spotify. O que poderia ser apenas uma incursão juvenil em um produto mainstream tornou-se, na verdade, um exercício de atuação e construção de uma base de fãs fiéis.“‘Disney Bia’ com certeza foi um projeto muito marcante na minha vida e na minha carreira. Sou muito feliz por ter conquistado uma base de fãs muito fiéis que gostam e acreditam no meu trabalho e na mensagem que quero entregar às pessoas. É muito bonito ver esse amor, carinho e fidelidade que atravessam o tempo, vindo dos fãs. Eles são um motor importante pra eu continuar e muito feliz com o meu trabalho e com a minha arte”, revela.Esse mesmo impulso criativo a conduziu para trás das câmeras, onde, na função de diretora artística, revelou um olhar estético apurado e singular. Assinou a direção de videoclipes do duo pop formado pelas irmãs, DIGRECCO; entre eles, “Checkmate”, “Veneno” e “Na Minha Mão”, este último registrado ao vivo durante O Festival de Inverno de Chapada que reuniu mais de 30 mil pessoas, desafiando limitações técnicas e evidenciando a precisão de alguém que domina a arte de traduzir intensidade em imagem.Gabriella também integra o time de compositores da Warner Chappell Brasil, braço do Warner Music Group, onde desenvolve canções para outros artistas — exercício de deslocamento autoral que exige sensibilidade para traduzir vozes alheias sem apagar a própria.“Creio que o meu treinamento e trajetória como atriz ajudam a me colocar no lugar do outro artista e compreender quem ele é e a mensagem que ele quer passar com a sua arte. Eu, pessoalmente, acho esse exercício maravilhoso e totalmente compatível com a arte da atuação, justamente porque o ator, pela sua natureza, ele não quer aparecer, quem precisa aparecer é o personagem. Então esse treinamento acaba sendo muito conveniente e produtivo para compor e dirigir pra outra pessoa. Sem contar que é um exercício de olhar para além de você mesmo. Acho isso muito enriquecedor como artista. Aprendo muito com esse processo. E claro, dentro do escopo que o artista quer para sua música e seu clipe, é onde eu tenho a permissão para criar e imprimir a minha assinatura como artista”, Gabriella comenta. Em tempos recentes, viveu a vilã da série musical “O Coro: Sucesso, Aqui Vou Eu”, no Disney+; no palco, se destacou em “Elvis: A Musical Revolution”, interpretando tanto Dixie Locke quanto Priscilla Presley; em “Uma Babá Quase Perfeita”, deu vida à filha adolescente do protagonista, vivido por Eduardo Sterblitch. Três papéis, três registros distintos, e a mesma entrega de sempre.“O estudo para os personagens é sempre variado. Depende do tempo de ensaio, se é audiovisual, se é teatro de prosa ou musical. Por exemplo, para a Nora, de ‘O Coro’, eu tive um bom tempo de preparação com a equipe e em casa. Tive a chance de me orientar com psicólogos, psiquiatras e com o próprio Miguel Falabella para a construção dessa personagem. Para Priscilla Presley em ‘Elvis: A Musical Revolution’, meu trabalho foi mais pautado em algumas técnicas de estudos que aprendi nos Estados Unidos, como Chubbuck e Lee Strasberg, nos quais há um mergulho na experiência vivida na psiquê da personagem, usando como alicerce as nossas próprias experiências emocionais. Para Lydia, em ‘Uma Babá Quase Perfeita’, a base de estudos foi uma mistura das minhas vivências na época da  adolescência, junto com um trabalho específico de corpo e voz. Os adolescentes têm uma forma específica de se comportar, falar, andar, etc. Fiz um trabalho aprofundado nesse lugar também. Cada personagem e tipo de produto demanda uma técnica de estudo diferente e como nós atores somos instrumentos orgânicos, tem dias que uma técnica vai ser mais eficiente e em outros, será outra técnica. É tudo uma questão de se observar com profundidade, observar o personagem com profundidade e a obra com profundidade”, revela. Enquanto colhe os frutos dessa trajetória múltipla, a artista mira o futuro com a mesma inquietação criativa que sempre a guiou. Novos projetos estão em gestação, alguns ainda em sigilo, outros já em fase de produção, e tudo indica que a próxima fase será, mais uma vez, marcada pela expansão. “Atualmente, tenho me empolgado com a ideia de ampliar minha atuação com a educação, acho que a arte e a educação têm um papel inestimável na formação humana e cidadania. Também tenho colocado energia em exercer meu viés de comunicadora. Todas as experiências que tive nesse lugar foram muito positivas e eu mal posso esperar para compartilhar mais disso com o mundo!”, antecipa Gabriella.