Agências de inteligência holandesas e alemãs reuniram evidências do uso generalizado de armas químicas proibidas pela Rússia na Ucrânia, incluindo o lançamento de um agente asfixiante de drones para expulsar soldados das trincheiras e permitir que sejam baleados, disseram os serviços nesta sexta-feira (4).O ministro da Defesa holandês, Ruben Brekelmans, pediu sanções mais duras contra Moscou.“A principal conclusão é que podemos confirmar que a Rússia está intensificando o uso de armas químicas”, disse ele à agência de notícias Reuters.“Essa intensificação é preocupante porque faz parte de uma tendência que observamos há vários anos, na qual o uso de armas químicas pela Rússia nesta guerra está se tornando mais normalizado, padronizado e disseminado”, acrescentou. Leia Mais Último ataque contra a Ucrânia é um dos maiores até agora, diz Zelensky Por que Vladimir Putin não vem à Cúpula do Brics? Entenda Ataque russo com drones deixa feridos em Kiev durante a noite, diz Ucrânia A BND (agência de inteligência estrangeira alemã), confirmou as descobertas, afirmando em um comunicado que obteve as evidências juntamente com o serviço holandês.A Reuters foi a primeira a reportar a informação.O chefe da MIVD (Agência de Inteligência Militar Holandesa), Peter Reesink, falou que as conclusões seguem “nossa própria inteligência independente, então nós mesmos a observamos com base em nossas próprias investigações”.Usos da substância CloropicrinaOs Estados Unidos acusaram a Rússia pela primeira vez de usar cloropicrina em maio do ano passado.A substância é um composto químico mais tóxico do que agentes antimotim e usado pela primeira vez pela Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial.Kiev alega milhares de casos de uso de armas químicas por Moscou.O Ministério da Defesa da Rússia não respondeu imediatamente a um pedido de comentário para esta matéria.Moscou negou o uso de munições ilegais e acusou a Ucrânia de usá-los.Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, falou na quarta-feira (2) que o Serviço Federal de Segurança descobriu um esconderijo ucraniano de dispositivos explosivos no leste do país contendo cloropicrina.O país negou consistentemente tais acusações.A OPCW (Organização para a Proibição de Armas Químicas), uma agência de desarmamento em Haia com 193 Estados-membros, disse no ano passado que as acusações iniciais feitas por ambos os países eram “insuficientemente fundamentadas”.Não foi solicitada a realização de uma investigação completa, que deve ser iniciada pelos participantes.Pelo menos três mortes de ucranianos foram relacionadas ao uso de armas químicas, disse o ministro da Defesa holandês, Ruben Brekelmans, enquanto mais de 2.500 pessoas feridas no campo de batalha relataram sintomas relacionados às armas químicas às autoridades de saúde ucranianas.O aumento do uso destes tipos de arma pela Rússia representa uma ameaça não apenas para a Ucrânia, mas também para outros países, falou Brekelmans.“Devemos aumentar ainda mais a pressão. Isso significa considerar mais sanções e, especificamente, não permitir que a Rússia participe de organismos internacionais como o Conselho Executivo da OPCW”, acrescentou ele.O chefe da MIVD (Agência de Inteligência Militar Holandesa), Peter Reesink falou de “milhares de casos” de uso de armas químicas, citando também um número ucraniano de nove mil.Assentos rotativos de dois anos no conselho da OPCW serão negociados nos próximos meses.As descobertas da inteligência foram apresentadas em uma carta ao parlamento holandês nesta sexta-feira (4).Programa de grande escalaA Rússia é um integrante da OPCW e, assim como os Estados Unidos, destruiu os estoques declarados de armas químicas.O aumento das sanções pode ocorrer em conjunto com a Comissão Europeia, que propôs a inclusão de 15 novas entidades e indivíduos no quadro, inclusive por suspeita de uso de armas químicas na Ucrânia.As agências militares e de inteligência geral holandesas, em colaboração com parceiros estrangeiros, afirmam ter descoberto evidências concretas da intensificação da produção russa de armas químicas.Isso inclui o aumento da capacidade de pesquisa e o recrutamento de cientistas para o desenvolvimento de armas químicas, disse Reesink. Ele acrescentou que autoridades russas deram instruções aos soldados sobre o uso de agentes bélicos tóxicos.“Isso não é apenas uma manipulação improvisada na linha de frente; é realmente parte de um programa de grande escala. E isso, claro, também é preocupante, porque se não esclarecermos e divulgarmos o que a Rússia está fazendo, é altamente provável que essas tendências continuem”, disse o chefe da agência militar.Ele chamou o uso de químicos pelas forças armadas russas de “um procedimento operacional quase padrão”.“Nós associamos especificamente o uso de cloropicrina a munições improvisadas, como lâmpadas cheias e garrafas vazias penduradas em um drone”, falou Reesink.Quando se trata de gás lacrimogêneo, vemos que eles também estão fazendo mau uso e convertendo munições existentes para atuar como transportadoras do gás”, acrescentou.A cloropicrina é listada como um agente asfixiante proibido pela OPCW, organização criada para implementar e monitorar o cumprimento da CWC (Convenção sobre Armas Químicas) de 1997.O produto pode causar irritação grave na pele, nos olhos e no trato respiratório.Se ingerido, pode causar queimaduras na boca e no estômago, náuseas e vômitos, além de dificuldade para respirar ou falta de ar.