A Circle, emissora da stablecoin USDC, protagonizou uma das aberturas de capital mais comentadas de 2025 até agora. A empresa estreou na Bolsa de Valores de Nova York em 5 de junho sob o ticker CRCL, com preço inicial de US$ 31 por ação. Em menos de três semanas, o papel bateu um recorde: ontem (23), atingiu US$ 298,99 durante o pregão,uma valorização de 860%. Com esse aumento no preço da ação, a Circle chegou a um valor de mercado de US$ 65,7 bilhões, superando a capitalização da USDC, estimada em US$ 61 bilhões na mesma data. Outro grande destaque é que o IPO teve como coordenadores os bancos JPMorgan, Goldman Sachs e Citigroup. Além disso, atraiu o fundo ARK Invest, que teria alocado até US$ 150 milhões em ações da empresa. Por que ação da Circle faz sucesso? Enquanto outras fintechs competem com bancos, a Circle quer ser o que os bancos vão usar. Seu modelo de lucro vem do spread sobre os ativos que lastreiam o USDC — ou seja, a empresa lucra com os rendimentos dos dólares depositados. Mas o diferencial está na distribuição. A stablecoin é bastante utilizada em exchanges, wallets, apps e integrações corporativas, muitas delas feitas via Coinbase. Segundo relatório da Cobo, provedora de infraestrutura para ativos digitais, investidores já enxergam ativos estáveis como infraestrutura de rede, não apenas meios de pagamento. E, nesse cenário, investir na Circle é apostar em uma nova camada da internet financeira. Apoio regulatório O IPO da Circle não foi apenas impulsionado por fundamentos financeiros. O ambiente político e regulatório também jogou a favor. Em junho, o Congresso dos Estados Unidos (EUA) aprovou o chamado GENIUS Act (Guaranteed Electronic Neutral Issuance and Utility of Stablecoins), marco regulatório que define, pela primeira vez, regras claras para emissores de stablecoins nos EUA. A nova legislação estabelece que: Com isso, a Circle — que já opera dentro dessas exigências e mantém reservas 100% em caixa e Títulos do Tesouro dos EUA — passou a ser vista como a principal emissora compatível com o novo padrão regulatório estadunidense. Assim, fundos institucionais passaram a preferir a Circle como uma aposta segura e alinhada com o sistema financeiro tradicional. O que dizem os analistas? O desempenho da ação da Circle também chamou atenção das casas de análise e bancos de investimento. A Seaport Global iniciou a cobertura com recomendação de compra e preço-alvo de US$ 235, destacando o potencial de crescimento da receita em 25–30% ao ano. Para a corretora, o modelo da Circle — baseado em juros de reserva e distribuição institucional — a posiciona como “um dos disruptores mais promissores das finanças digitais”. No entanto, outros analistas pedem cautela. A plataforma Seeking Alpha publicou um alerta sobre valorização excessiva, possível pressão nas margens em caso de corte de juros nos EUA e a dependência da Coinbase, pois boa parte da receita da Circle é compartilhada com a plataforma cripto. Muito além do “1 para 1” A Cobo apontou que o modelo de lucro da Circle é sustentado principalmente pelo Net Interest Margin (NIM) — mecanismo típico de instituições financeiras, em que a receita vem da diferença entre os juros recebidos e os juros pagos. No caso da Circle: Essa margem líquida entre o que a empresa ganha com os ativos e o que ela não precisa pagar aos usuários é o que a Cobo destaca como o coração do modelo de negócio da empresa. A Cobo argumenta que esse modelo torna a Circle parecida com um banco, embora ela não ofereça empréstimos nem contas correntes. Em vez disso, a empresa opera como uma infraestrutura de liquidez digital, funcionando 24 horas por dia, com baixo risco e receita previsível. Essa estrutura é o que impulsiona o valor de mercado da empresa em ambientes com taxas de juros elevadas, como o atual nos EUA — onde o retorno das reservas pode ultrapassar 5% ao ano.