Uso de IA reduz o aprendizado e pensamento crítico, revela pesquisa

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Pesquisa do MIT gera alerta para a dependência da inteligência artificial (imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog) Resumo Um estudo do MIT aponta que o uso do ChatGPT e outros chatbots de IA reduz o engajamento cerebral e prejudica o pensamento crítico.Participantes que usaram IA tiveram menor esforço cognitivo, dificuldade de lembrar o conteúdo e sensação de desapropriação do texto.A pesquisa cunhou o termo “dívida cognitiva”, sugerindo que o uso frequente da IA pode comprometer funções mentais básicas.Usa o ChatGPT frequentemente para atividades criativas e sente que não consegue mais desenvolver nada sem consultá-lo antes? Aparentemente, não é só com você: um estudo do MIT indica que, sim, o uso da ferramenta pode diminuir o engajamento cerebral e afetar o pensamento crítico.Na pesquisa “Your Brain on ChatGPT: Accumulation of Cognitive Debt when Using an AI Assistant for Essay Writing Task“, conduzida pelo MIT Media Lab, os pesquisadores monitoraram a atividade cerebral de voluntários enquanto escreviam redações em diferentes condições. Durante os testes, observou-se que o grupo que usou a IA apresentou níveis mais baixos de esforço cognitivo.Além da menor atividade neural, esse grupo também teve pior desempenho em se lembrar do que foi desenvolvido no texto. Com isso, o estudo sugere que o uso contínuo de assistentes de IA pode atrapalhar processos mentais, como o raciocínio e a criatividade. Como o estudo foi realizado? O experimento contou com 54 participantes, entre 18 e 39 anos, que foram divididos em três grupos para escrever sobre temas do SAT, o exame de admissão universitária dos Estados Unidos. Cada grupo recebeu instruções para realizar a tarefa com uma ferramenta diferente: Grupo 1: utilizou o ChatGPT para gerar os textos;Grupo 2: pôde usar o Google para pesquisar informações, mas não teve acesso a ferramentas de IA;Grupo 3: escreveu os textos sem qualquer apoio.Durante os 20 minutos de escrita, os participantes usaram um equipamento de EEG (eletroencefalograma) com 32 sensores que registravam a atividade cerebral em tempo real.A equipe analisou os sinais neurais com foco em métricas de engajamento, esforço cognitivo e conectividade entre áreas do cérebro ligadas à criatividade, memória e tomada de decisão. Além do monitoramento neural, os pesquisadores também avaliaram o comportamento dos participantes, a capacidade de lembrar o conteúdo produzido e a percepção de autoria em relação aos textos. Menos esforço cerebralParticipantes que usaram o ChatGPT fizeram pouco esforço cognitivo (ilustração: Vitor Pádua/Tecnoblog)A análise dos sinais captados pelo EEG mostrou que o grupo que utilizou o ChatGPT teve o menor nível de engajamento cerebral, especialmente em áreas relacionadas ao controle executivo e ao processamento semântico (regiões importantíssimas para o pensamento crítico). Os participantes que usaram a IA também apresentaram menor conectividade entre diferentes regiões cerebrais, ou seja, um indicador de que o esforço cognitivo foi menor.Essa economia de energia mental também foi perceptível ao serem questionados, minutos depois, sobre os textos que haviam escrito. Muitos tiveram dificuldade em lembrar pontos-chave ou explicar o raciocínio por trás dos argumentos usados.Outro dado relevante foi a baixa percepção de autoria. Os usuários da IA relataram sentir como se não tivessem sido realmente os autores das redações. No começo deste ano, a Microsoft — que também investe pesadamente em assistentes de IA — divulgou uma pesquisa na qual seus funcionários relataram a mesma sensação.E quanto à qualidade dos textos? Em uma etapa, dois professores de inglês corrigiram as redações, mas sem saber qual grupo havia escrito cada uma. Os textos gerados com ajuda da IA foram avaliados como “muito parecidos entre si” e “sem alma”.E quem não usou IA?Ondas alfa, associadas à ideação criativa, são mais fortes naqueles que usaram apenas o cérebro — grupo “Brain” na ilustração (imagem: reprodução/Nataliya Kosmyna/MIT)O grupo 3, dos participantes que escreveram sem ajuda de nenhuma ferramenta além do próprio conhecimento, apresentou o maior nível de engajamento cerebral. De acordo com a pesquisa, ondas alfa, teta e delta — que estão associadas a processos como a criatividade, memória ativa e organização semântica — tiveram uma atividade intensa. Já o grupo que usou o Google para realizar buscas, mas não teve acesso ao ChatGPT, também apresentou níveis mais elevados de conectividade cerebral. A busca ativa, leitura crítica e seleção de informações na web exigiram esforço cognitivo, ainda que diferente do processo de criação totalmente autônomo.Mas calma: isso não significa que só por usar IA você automaticamente vai ficar menos inteligente. Em uma fase extra, os pesquisadores pediram que participantes do terceiro grupo utilizassem o ChatGPT após redigir uma redação por conta própria.Nessa situação, os dados cerebrais mostraram um pico de conectividade — indicando que, quando a IA é usada depois de um esforço cognitivo inicial, ela pode funcionar como um reforço, não como substituição.“Dívida cognitiva”Os autores do estudo chamaram o efeito observado de dívida cognitiva, condição em que o uso constante de assistência por IA acaba substituindo processos mentais importantes. A longo prazo, isso pode comprometer a capacidade do cérebro de desenvolver habilidades fundamentais para o pensamento independente. Segundo os pesquisadores, essa “dívida” se acumula conforme o usuário recorre à IA sem qualquer esforço prévio. A conveniência de respostas rápidas e bem formuladas pela IA costuma desestimular a reflexão, a criatividade e o pensamento crítico. No entanto, os cientistas reconhecem que o escopo do estudo é limitado e que pesquisas futuras devem incluir um grupo mais diverso de participantes. Ainda assim, a autora principal, Nataliya Kosmyna, do MIT Media Lab, destacou a importância de discutir esses riscos com urgência.À revista Time, ela afirma que o estudo foi divulgado antes da revisão por pares para alertar sobre os impactos potenciais do uso indiscriminado de IAs, especialmente em escolas. “Cérebros em desenvolvimento estão sob o maior risco”, alerta Kosmyna.Com informações da Time MagazineUso de IA reduz o aprendizado e pensamento crítico, revela pesquisa