Seu pai trabalhava como encarregado de almoxarifado da antiga loja de departamentos Mesbla em Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, quando aos 42 anos teve que se afastar do emprego por conta de aneurismas múltiplos.A mãe então precisou procurar um emprego para ajudar no sustento da casa. Assim, foi trabalhar em um colégio em Venda da Cruz, no modesto bairro onde a família morava em São Gonçalo, também no Grande Rio.Cristina Atalla, então com 10 anos, lembra bem quando a mãe a levava para escola que trabalhava e, ao mesmo tempo, fazia o ensino médio. Não havia com quem deixar a filha e o jeito era carregá-la para dentro da sala de aula. “Costumo dizer que fiz duas vezes o ensino médio, acompanhada de minha mãe e sozinha”, conta.Leia mais: Ele fez Uber, mas virou o jogo, tornou-se sócio de escritório e assessor premiadoPrimeiro empregoA mãe concluiu o ensino médio e se tornou professora do estabelecimento. Ela recorda que a ajudava muito nos afazeres domésticos. Estudiosa, Cristina aos 12 anos recebia crianças vizinhas em casa para dar reforço escolar em troca de algum dinheiro. Com 15 anos, entrou como escriturária de um grande banco de varejo, mas saiu quatro anos depois.Sem opção e precisando trabalhar, acabou entrando na administração de um hospital em Alcântara. “Quando entrei, tinha um senhor que ficava dentro do hospital. Ele era de uma funerária e impedia que os enfermeiros fossem dar a notícia aos parentes quando um paciente morria. Ele queria fazer isso para encaminhar o falecido para o serviço dele. Na primeira semana eu expulsei o cara do hospital”, relata.Não demorou muito e recebeu uma proposta para trabalhar numa empresa de gases industriais. Mas cinco anos depois a empresa fechou a unidade em que trabalhava. De novo saiu em busca de um emprego.Acabou indo distribuir vídeos de fornecedores para locadoras de filme. “Fui até o Paraguai, onde comprei fitas e revendia. Mas esse negócio começou a cair”, conta. Nesse vai e vem, ainda tentou fazer faculdade três vezes. “Ficava um, dois semestres, mas tinha que sair porque não tinha condições de pagar”, diz.Leia também: Há 10 anos no mercado, ela é sócia de escritório que gere R$ 2 bi: “Estudei muito”ConcursoEm 1999, passou num concurso de um banco estatal e um ano depois tomou posse numa agência em Niterói.“Assim que entrei no banco, fui direcionando meu trabalho para investimentos”, recorda. Em menos de dois anos ela já era gerente de pessoa física. Em 2005, foi implantar serviços de atendimento personalizado em uma agência de Contagem, na Grande Belo Horizonte. Em 2012, assumiu o atendimento private do banco em João Pessoa (PB) e, depois, no Recife (PE). “No banco, ganhei muitas premiações”, lembra.Mas a grande virada mesmo veio em 2019. Em março daquele ano, tornou-se sócia-fundadora da Fatto Capital. Desde que começou no escritório ela figura na lista Top 100 dos maiores assessores da rede XP.Veja mais: Após ser baleado em serviço na PM, ele se tornou líder de assessores de investimentoDeterminaçãoA Fatto tem hoje sob custódia R$ 1,8 bilhão e, somente ela, R$ 600 mi sob gestão. Morando atualmente em João Pessoa, onde trabalha na unidade do escritório na cidade, ela diz que às vezes nem ela acredita o quanto a vida dela mudou.“Posso dizer que a favela venceu. Venho de uma família muito humilde”, diz. “Não vou dizer que passei fome, mas a minha realidade era marmita de arroz, feijão e ovo ou hambúrguer”, conta.“Às vezes entro no meu quarto e vejo aquilo que tenho hoje e fico pensando como isso aconteceu. Me pergunto se eu mereço essa mudança de vida tão drástica. Tive muito foco de entender qual o caminho que eu precisava seguir e fazer todo o necessário para que isso se realizasse”, relata emocionada.“Nunca imaginei em chegar onde cheguei”, diz. Cristina Atalla ressalta que sempre foi muito determinada. “Quando a gente vem de uma realidade onde a gente é obrigada a crescer, não tem outra possibilidade a não ser olhar para frente e crescer o tempo todo, e todas as oportunidades a gente agarrar com unhas e dentes”, afirma. E foi o que ela fez, como a história dela conta.The post Da origem humilde à elite do mercado: a virada de Cristina Atalla; “favela venceu” appeared first on InfoMoney.