Estrangeiros aportam R$ 26,9 bi na B3, recorde desde 2023; eles voltaram para ficar?

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O Ibovespa saltou 15,44% no primeiro semestre, a melhor primeira metade do ano desde 2016, muito guiado pela forte entrada de capital estrangeiro. Conforme aponta a consultoria Elos Ayta, o fluxo líquido de estrangeiros para a B3 foi positivo em R$ 26,9 bilhões, considerando aportes em IPOs e follow-ons, melhor desempenho desde o segundo semestre de 2023 e, entre primeiros semestres, o mais robusto desde 2022, quando o saldo foi de R$ 68,75 bilhões.Mas mesmo desconsiderando as operações primárias – ou seja, levando em conta apenas o comportamento de compra e venda no mercado secundário – o otimismo permanece. O saldo foi de R$ 26,45 bilhões, também o maior desde o segundo semestre de 2023 (R$ 27,84 bilhões) e, no recorte de primeiros semestres, o melhor resultado desde os R$ 51,91 bilhões registrados em 2022. Einar Rivero, CEO da Elos Ayta Consultoria, aponta que o segundo trimestre de 2025 reforçou essa virada no comportamento dos investidores internacionais. O saldo líquido foi de R$ 15,92 bilhões (com IPOs e follow-ons), o melhor resultado desde o quarto trimestre de 2023 (R$ 35,95 bilhões). Nos últimos 14 trimestres – desde o início de 2022 – o saldo foi positivo em nove e negativo em cinco, evidenciando a volatilidade e seletividade dos fluxos, muitas vezes guiados por fatores macroeconômicos globais e ruídos locais.Leia também:“Mercado no Brasil ficou raso, qualquer fluxo faz preço”, diz Pedro Jobim, da Legacy“Tem 4 reuniões do Copom neste ano, BC deve ficar parado em 3”, diz Jobim, da Legacy“A reversão do fluxo estrangeiro em 2025, especialmente no segundo trimestre, é um sinal relevante de reaproximação dos investidores internacionais com o mercado brasileiro. No entanto, ainda é cedo para falar em um novo ciclo sustentável. O comportamento dos estrangeiros tem sido reativo a sinais de estabilidade macroeconômica e expectativas fiscais”, aponta. Assim, avalia Einar, em um ambiente global ainda sensível a juros e risco-país, o Brasil precisa continuar entregando credibilidade para sustentar esse movimento.Diversificação e Bolsa barata guiam fluxo gringoEm relatório, Fernando Ferreira e a equipe de estratégia da XP ressaltam alguns motivos para essa forte entrada de capital estrangeiro. Para os estrategistas, o aumento das tensões comerciais ao longo do primeiro semestre causou um aumento na volatilidade dos ativos globais, enquanto o Brasil e a América Latina se destacaram como vencedores relativos, beneficiados por sua posição menos exposta à guerra comercial e um dólar mais fraco.Como resultado, a Bolsa brasileira registrou fortes entradas de capital estrangeiro, que foram a principal causa por trás do rali recente. “Por isso, entendemos que o rali do 1S25 foi impulsionado principalmente por um movimento de rotação global de capital — beneficiando a América Latina como um todo — e não por fatores exclusivamente domésticos”, avalia a XP. O Itaú BBA também avalia que o alto aporte líquido de recursos estrangeiros no mercado acionário nacional veio em grande medida motivado pela busca dos investidores globais por maior diversificação geográfica de seus portfólios, após anos de exposição bastante concentrada em ativos norte-americanos. Em junho, mês em que o Ibovespa subiu 1,3%, a dinâmica não foi diferente – o fluxo trazido pelo “gringo” foi de cerca de R$ 4 bilhões – mesmo sem qualquer mudança relevante nos fundamentos internos capaz de motivar um ingresso deste porte.Esse movimento também se somou à avaliação de uma bolsa brasileira barata. Isso porque, após a forte correção do mercado no final de 2024, as ações do país começaram 2025 “esquecidas” de um ponto de vista técnico. A XP ressalta, destacando o índice de Sentimento XP, que ele indicava níveis de pessimismo extremo, enquanto o Preço/Lucro do Ibovespa estava em 6,8 vezes, bem abaixo da média histórica de 15 anos, de 10,8x. À medida que os ruídos macroeconômicos diminuíram, houve uma descompressão dos prêmios de risco locais, o que causou uma recuperação dos ativos. “Por exemplo, nosso indicador de sentimento atingiu recentemente níveis de otimismo extremo e o prêmio de risco das ações do Ibovespa caiu abaixo da média histórica pela primeira vez desde 2021”, aponta. Para a casa de análise, com a América Latina começando a brilhar e em forte alta neste primeiro semestre, o Brasil deve permanecer no centro das atenções, por conta de: i) valuation atrativo e fundamentos micro sólidos; ii) taxa de juros no topo, com o ciclo de contração monetária chegando ao fim, o que tende a favorecer as ações; iii) a aproximação do “trade eleitoral” com a eleição de 2026 no radar; e iv) maior tamanho, liquidez e “profundidade” de mercado em relação a outros países da região. Além disso, um novo regime de mercado os torna construtivos para o curto prazo, com a sinalização de uma transição do ambiente “Inflação em alta, Juros em alta” para um novo regime: “Inflação em alta, Juros em queda”. “Esse ponto de inflexão é relevante, já que o regime de juros vigente segue sendo um dos principais vetores de retorno dos ativos”, aponta. A XP mantém a estimativa de valor justo do Ibovespa para 150 mil pontos para 2025, avanço de 8% frente o fechamento do primeiro semestre.Fiscal? O olhar é para 2026O JPMorgan avalia que o mercado ignora as preocupações relacionadas à política fiscal – apesar da recente deterioração -, e passa a olhar para temas ainda relativamente distantes, como o ciclo de corte na taxa Selic e as eleições presidenciais de 2026. O banco, porém, destaca que o mercado de ações do Brasil – que tem recomendação overweight – segue como uma das principais apostas, ao lado de Índia, Coreia do Sul, Filipinas, Grécia, Polônia e Emirados Árabes. Na visão da equipe de estratégia do banco, o país “é uma das histórias mais interessantes nos mercados emergentes” atualmente.O JPMorgan traça três cenários para o Ibovespa ao fim de 2025: um base, um otimista (bull) e um pessimista (bear). O cenário-base é 145 mil pontos (potencial de alta de 7% frente o fechamento de quarta), o bull é 155 mil (upside de 15%) e o bear é 130 mil pontos (queda de 4%).Leia também: Com América Latina em destaque, Brasil é “bola da vez” entre as ações de emergentes?No fim do mês passado, o UBS elevou a recomendação do Brasil de neutra para overweight como parte de sua revisão de meio de ano para mercados emergentes.O banco apontou ter evitado tornar sua visão positiva para o Brasil até que houvesse maior conforto de que o ciclo de taxas de juros está mudando. Alguns desenvolvimentos recentes ajudam. O Banco Central (BCB) recentemente aumentou a taxa de juros para 15% ao ano, surpreendendo boa parte do mercado, mas a sua equipe macro vê isso como provavelmente o último aumento neste ciclo.Além disso, após conversas com investidores, a avaliação geral do mercado é de que uma mudança do governo para a centro-direita no poder poderia ajudar a retomar a prudência fiscal — algo que os mercados de títulos (e, consequentemente, as ações) poderiam gostar.Assim, de uma maneira geral, o cenário que se aponta é de otimismo com o mercado brasileiro e continuidade da entrada do fluxo estrangeiro, mas com alguma volatilidade, conforme ressaltou o JPMorgan em relatório sobre o fluxo para o mercado brasileiro. “No médio/longo prazo, acreditamos que o mercado adotou uma posição tendenciosa comprada em ações brasileiras, com os principais gatilhos para os fluxos sendo o ciclo de flexibilização e as eleições de 2026. Ainda assim, a configuração atual fornece um piso para as ações, com os investidores agora mais resilientes a notícias fiscais, por exemplo”, aponta. Dito isso, pode-se observar entradas marginais no Brasil ao longo do tempo, especialmente à medida que os gatilhos domésticos ganham mais visibilidade. Mas, para isso, o cenário global também deve jogar a favor.The post Estrangeiros aportam R$ 26,9 bi na B3, recorde desde 2023; eles voltaram para ficar? appeared first on InfoMoney.