Um artigo publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society relata a descoberta de um “dinossauro cósmico”: uma galáxia que ficou praticamente congelada no tempo por cerca de sete bilhões de anos.Normalmente, as galáxias crescem e se transformam com o passar do tempo, principalmente ao se fundirem com outras. No entanto, a situação é diferente com as chamadas galáxias fósseis (ou galáxias relíquias). Elas se formaram muito rapidamente, logo após o Big Bang, produzindo quase todas as suas estrelas em menos de três bilhões de anos e permanecendo praticamente inalteradas desde então, sem novas estrelas surgindo.Em resumo:Cientistas descobriram uma galáxia fóssil que permaneceu praticamente inalterada por sete bilhões de anos;Esse tipo de galáxia forma estrelas rapidamente e depois entra em um eterno estado de adormecimento cósmico;A KIDS J0842+0059 é a galáxia fóssil mais distante já identificada fora do Universo local;Sua estrutura compacta e ausência de estrelas jovens indicam seu envelhecimento precoce e estabilidade prolongada;Novos telescópios, como o europeu Euclid, podem ajudar a revelar mais fósseis e entender a evolução galáctica.KIDS J0842+0059 observada com o VST (à esquerda) e com o Grande Telescópio Binocular (à direita). Créditos: C. Tortora/Inspire/VST/ESO/LBTTecnologia avançada detecta galáxia fóssil mais distante já observadaConduzido por uma equipe internacional liderada pelo Instituto Nacional de Astrofísica da Itália (INAF), o novo estudo detectou a galáxia fóssil mais distante já observada, que recebeu o nome KIDS J0842+0059. Esta é a primeira galáxia massiva desse tipo confirmada fora do chamado Universo local, graças a imagens e espectros de alta resolução. Os pesquisadores usaram o Grande Telescópio Binocular (LBT), localizado no Monte Graham, no estado norte-americano do Arizona, que reúne tecnologias avançadas para observar o cosmos. Segundo Crescenzo Tortora, pesquisador do INAF e primeiro autor do estudo, KIDS J0842+0059 é como um achado arqueológico do Universo. “Ela nos conta como as primeiras galáxias surgiram e ajuda a entender a evolução do cosmos até hoje”, disse ele em um comunicado, onde se refere às galáxias fósseis como dinossauros do espaço. “Estudá-las nos permite entender as condições ambientais em que se formaram e como as galáxias mais massivas que vemos hoje evoluíram”.KIDS J0842+0059 foi identificada inicialmente em 2018 por meio do projeto Kilo Degree Survey (KIDS), um levantamento público do Observatório Europeu do Sul (ESO) realizado pelo telescópio italiano VST, localizado no Observatório do Paranal, no Chile.Imagens do KIDS revelaram que ela é compacta, cerca de cem bilhões de vezes mais massiva que o Sol e não apresenta sinais de formação de novas estrelas há muito tempo.Galáxia fóssil NGC 1277 registrada pelo Telescópio Espacial Hubble, da NASA. Crédito: M. Beasley (Instituto de Astrofísica de Canarias)/NASA/ESAPara confirmar essas características, foram feitas observações com o LBT, que tem um sistema de óptica adaptativa chamado Soul que corrige os efeitos da turbulência da atmosfera e permite obter imagens dez vezes mais detalhadas que as anteriores. Isso possibilitou estudar a forma e o tamanho da galáxia como nunca antes.Chiara Spiniello, pesquisadora da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e coautora do estudo, destaca que KIDS J0842+0059 tem uma estrutura compacta semelhante à NGC 1277, um dos poucos exemplos de galáxias relíquias já confirmados. “É a primeira vez que conseguimos observar uma galáxia fóssil tão distante com esse nível de detalhes”.Leia mais:Veja: foto detalhada mostra galáxia com milhares de coresCientistas encontram “mini galáxia” que não deveria existirGaláxia “atacando” rival é registrada no espaço profundoTelescópio Euclid pode encontrar outras relíquias no UniversoA existência de galáxias como KIDS J0842+0059 mostra que nem todas as galáxias seguem o mesmo caminho de crescimento. Algumas se formam rápido, ficam pequenas e densas, e depois permanecem adormecidas, sem mudanças importantes por bilhões de anos.Representação artística do telescópio Euclid, da Agência Espacial Europeia (ESA), que pode trazer dados ainda mais detalhados sobre as galáxias fósseis. Crédito: ESAEstudar esses fósseis cósmicos ajuda os cientistas a entender como as galáxias maiores e mais complexas que vemos hoje se formaram, já que elas provavelmente cresceram ao redor desses núcleos antigos por meio de fusões galácticas.Com o avanço de tecnologias como a óptica adaptativa e o apoio de telescópios modernos, os pesquisadores esperam encontrar mais exemplares como esse no futuro. O Telescópio Espacial Euclid, lançado em 2023 pela Agência Espacial Europeia (ESA), pode trazer dados ainda mais detalhados para continuar essa busca, ajudando a revelar a história completa da formação das galáxias no Universo.O post Galáxia congelada no tempo por sete bilhões de anos é um “dinossauro cósmico” apareceu primeiro em Olhar Digital.