Estamos observando um processo de rearmamento global. Com o aumento das tensões globais, em especial a guerra entre Rússia e Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio, diversos países passaram a investir de forma pesada na criação de novos arsenais.E é claro que as armas nucleares não ficariam de fora desta corrida armamentista. Um cenário que pode trazer impactos para a segurança global no futuro próximo, e que obriga até mesmo países como o Brasil a fazerem um importante escolha.Brasil é capaz de desenvolver armas nucleares (Imagem: sweet_tomato/Shutterstock)País conta com programa nuclear próprioO nosso país é conhecido por sua importante posição na diplomacia mundial.No entanto, engana-se quem acredita que o Brasil não é capaz de desenvolver armas nucleares.Na verdade, temos o nosso próprio programa nuclear e dominamos a tecnologia de enriquecimento de urânio. Além disso, estamos investindo na construção de um submarino de propulsão nuclear. Mas isso não quer dizer que o governo brasileiro esteja interessado na produção de bombas atômicas.Para o professor Armando Alvares Garcia Júnior, da Universidad Internacional de La Rioja, na Espanha, este entendimento pode acabar mudando no futuro.Leia maisA que distância você sobreviveria a uma bomba nuclear?Irã e Israel têm armas nucleares mesmo? EntendaPaís europeu planeja espalhar armas nucleares pelo continentePaís está investindo na construção de um submarino de propulsão nuclear (Imagem: zayatsphoto/Shutterstock)Brasil precisará tomar uma decisãoEm artigo publicado no portal The Conversation, o especialista explica que, desde a redemocratização, o Brasil tem se posicionado como defensor do desarmamento e do uso pacífico da energia atômica. A Constituição de 1988, por exemplo, proíbe expressamente o uso da energia nuclear para fins militares. Além disso, o país é signatário tanto do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) quanto do Tratado de Tlatelolco, que estabelece a América Latina e o Caribe como zona livre de armas nucleares. Mas alguns posicionamentos brasileiros são motivo de discussão.A entrada do Irã no BRICS, oficializada em janeiro de 2024, torna essa equação ainda mais complexa. Ao lado de China, Rússia, Índia e África do Sul, o Brasil agora compartilha espaço diplomático com um país que, segundo a AIEA, apresenta indícios de violações graves de suas obrigações no regime de não proliferação. Esse novo arranjo amplia as contradições do grupo e pressiona seus membros a assumirem posições mais claras. O Brasil, historicamente comprometido com a transparência e a legalidade internacional, terá de decidir se reforça sua coerência diplomática ou se adota uma postura mais pragmática diante de seus novos parceiros.Armando Alvares Garcia Júnior, professor da Universidad Internacional de La RiojaTer ou não ter armas nucleares? (Imagem: Bordovski Yauheni/Shutterstock)Segundo o professor, ao optar por manter seu compromisso com o desarmamento, o Brasil preserva sua credibilidade internacional e pode até buscar liderar iniciativas que revitalizem o TNP, promovam a transparência e estimulem a criação de novas zonas livres de armas nucleares. Caso escolha o caminho do silêncio ou da ambiguidade, por outro lado, corre o risco de perder protagonismo mundial.Num momento em que o mundo se reaquece em disputas armamentistas, o Brasil precisa decidir se será apenas um observador ou se reafirmará seu papel histórico de defensor de uma ordem internacional baseada em regras, cooperação e segurança compartilhada. A questão ultrapassa os limites da política externa. Trata-se do lugar que o país pretende ocupar em um mundo cada vez mais volátil.Armando Alvares Garcia Júnior, professor da Universidad Internacional de La RiojaO post O papel do Brasil na nova corrida nuclear apareceu primeiro em Olhar Digital.