Uma nova técnica de extração de ouro, desenvolvida por especialistas em química verde, engenharia e física da Universidade Flinders, na Austrália, promete unir o melhor de dois mundos: obter o precioso metal — cada vez mais demandado por bancos centrais e investidores —, porém de uma forma menos tóxica e ecologicamente segura para o planeta.Divulgada recentemente na revista Nature Sustainability, a tecnologia tem metas ambiciosas. A primeira é reduzir a poluição da mineração tradicional, que emprega sais de cianeto e mercúrio metálico, e a segunda é explorar recursos desperdiçados no lixo eletrônico, criando uma solução duplamente sustentável. Descubra: De onde vem todo o ouro da Terra? A ciência responde!A nova técnica usa substâncias atóxicas, eliminando a geração dos resíduos perigosos que, armazenados em barragens de rejeitos, eventualmente vazam e contaminam solo e água. Além disso, ao extrair ouro de alta pureza de placas de circuito impresso de computadores descartados, o método apresenta uma forma lucrativa de gerir outro grave problema ambiental: o lixo eletrônico. O problema do lixo eletrônico e os riscos da mineração artesanalO mercúrio usado na mineração é um dos principais poluidores dos rios amazônicos. (Fonte: Universidade de Flinders/Divulgação)O lixo eletrônico é uma das crises ambientais que mais crescem no planeta: só em 2022, foram geradas globalmente 62 milhões de toneladas, segundo o pesquisador líder Justin Chalker, das quais somente 22,3% foram adequadamente recicladas. Os resíduos, com substâncias perigosas — como dioxinas, chumbo e mercúrio — representam um sério risco à saúde pública.A mineração artesanal de ouro emprega hoje entre 10 e 20 milhões de pessoas em mais de 70 países, incluindo 5 milhões de mulheres e crianças. Esses trabalhadores utilizam mercúrio para formar amálgamas com ouro, liberando vapores tóxicos durante o aquecimento. Essas operações geram 37% da poluição mundial por mercúrio, causando intoxicação em 33% dos mineradores.Apesar de produzirem 20% do ouro mundial e gerar US$ 30 bilhões anuais, esses garimpeiros permanecem economicamente excluídos e vulneráveis. Sem acesso ao financiamento formal, mineradores são obrigados a vender ouro por apenas 70% do valor de mercado. O desamparo e a falta de treinamento perpetuam o uso de mercúrio nessas comunidades marginalizadas.Perspectivas de uma nova forma de extração sustentável de ouroO método integrado para extração de ouro de alto rendimento foi utilizado em várias fontes. (Fonte: Universidade de Flinders/Divulgação)No estudo, Chalker e seus colegas criaram um método inédito de extrair ouro de lixo eletrônico, usando um reagente reciclável derivado do ácido tricloroisocianúrico, um desinfetante de piscinas. A técnica dissolve o outro em água salgada, e depois o captura em um novo polímero sorvente reciclável rico em enxofre, que se liga seletivamente aos íons de ouro, que é recuperado.A ideia é substituir práticas perigosas, como o uso de cianeto ou mercúrio na mineração, reduzindo riscos à saúde e ao ambiente. A equipe trabalhou em colaboração com parceiros nos EUA e no Peru, buscando validar a técnica em minérios reais e oferecer alternativas às operações artesanais, que ainda empregam mercúrio, um dos granes poluidores dos rios amazônicos.Entenda: Rochas vulcânicas sugerem que interior da Terra está cheio de ouroAlém de reduzir impactos ambientais, a solução pretende recuperar ouro de materiais eletrônicos cada vez mais abundantes e valiosos. Em um comunicado o coautor Harshal Patel afirma: "Mergulhamos em um monte de lixo eletrônico e saímos com um bloco de ouro! Espero que esta pesquisa inspire soluções impactantes para desafios globais urgentes".O que achou dessa solução que conseguiu integrar mineração sustentável com reciclagem de eletrônicos? Divulgue nas redes sociais e aproveite para compartilhar esta matéria com seus amigos que se preocupam com a questão ambiental. Para ajudar nessa luta, que tal aprender como descartar o lixo eletrônico corretamente?