A reunião de líderes da Otan, a aliança militar ocidental, na quarta-feira (25), na Holanda, proporcionou ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, uma grande vitória ao conseguir que o grupo aumente suas metas de gastos com defesa.Mas os comentários que Trump fez durante o voo para a conferência levantaram novas preocupações sobre seu compromisso com o princípio fundamental da aliança: a defesa coletiva.A dinâmica dividida, com os líderes adaptando a reunião para atrair Trump, mesmo quando ele questiona a condição essencial de integrante do bloco, criou uma atmosfera tensa no início da conferência em Haia. Leia Mais: Países da Otan prometem ampliar gastos em defesa; Ucrânia é escanteada EUA precisam "tomar medidas" para garantir estabilidade no mundo, diz Otan Otan se compromete a aumentar gastos e reafirma defesa coletiva Ainda assim, Trump prometeu apoiar os outros países da Otan um dia após ter se limitado a apoiar o pacto do Artigo 5 da aliança, que diz que um ataque contra um integrante é um ataque contra todos.“Estamos com eles até o fim. Se você olhar os números, estamos com eles”, comentou o presidente.Ele chamou a promessa que seria firmada na quarta-feira pelos países da Otan de aumentar seus gastos com defesa de “uma grande notícia”.“A Otan se tornará muito forte conosco”, destacou.Trump participou da única sessão plenária da cúpula antes de se reunir com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e conceder uma entrevista coletiva.A ida à Holanda foi rápida e planejada especialmente pelos líderes da Otan para manter a atenção de Trump e garantir que ele não tivesse tempo de colocar por terra a pretendida demonstração de unidade.O resultado central da reunião — a promessa de aumento nos gastos com defesa para 5% do PIB em uma década — é exatamente o que Trump vem exigindo nos últimos anos.O comunicado final em que a meta de gastos foi confirmada foi drasticamente encurtado, omitindo qualquer linguagem controversa que pudesse gerar resistência dos Estados Unidos.E embora a Ucrânia e seu presidente ainda estejam na agenda, a guerra do país com a Rússia ocupou um lugar bem menos proeminente do que em cúpulas anteriores da Otan, um sinal das divergências emergentes entre a Europa e os Estados Unidos sobre como resolver o conflito.O chefe da aliança militar, Mark Rutte, cujo relacionamento com Trump remonta aos seus anos como primeiro-ministro holandês, optou por colocar as metas de gastos no centro da cúpula e fez questão de dar crédito a Trump por isso em uma mensagem privada.Posteriormente, o líder americano publicou a mensagem nas redes sociais.“Vocês conseguirão algo que nenhum presidente americano conseguiu em décadas. A Europa vai pagar em GRANDE escala, como deveria, e será a sua vitória”, escreveu Rutte, antes de desejar ao presidente americano uma viagem segura à Holanda.O tom bajulador provocou um certo estranhamento entre autoridades europeias, mas Rutte negou qualquer desconforto quando um repórter perguntou se o episódio não era um pouco constrangedor.E Rutte usou uma linguagem ainda mais evocativa no final do dia, chamando Trump de “papai” que teve que intervir, depois que o presidente dos EUA comparou Israel e o Irã a “duas crianças no pátio de uma escola”.Acontece que Trump não precisava estar presente no encontro da Otan para levantar novas preocupações sobre seu compromisso com a aliança, que ele não hesitou em criticar no passado.Em declarações a repórteres a bordo do Air Force One, o avião presidencial dos EUA, Trump não chegou a oferecer um apoio total ao compromisso fundamental da aliança, o Artigo 5, de defesa coletiva.“Depende da sua definição. Existem inúmeras definições para o Artigo 5”, disse Trump quando questionado sobre seu compromisso com o artigo, antes de acrescentar: “Estou comprometido em ser amigo deles e em ajudá-los”.Não foi exatamente a demonstração de apoio que muitos líderes europeus esperavam, embora poucas autoridades tenham expressado surpresa com os comentários de Trump à medida que a cúpula se iniciava.Por sua vez, Rutte disse não estar preocupado com o compromisso de Trump com a Otan.