No Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, celebrado em 28 de junho, a discussão sobre diversidade, respeito e identidade ganha ainda mais destaque. A data, marcada pela resistência e pela luta por direitos, também é uma oportunidade para ampliar o conhecimento sobre a sigla LGBTQIAPN+ e refletir sobre os desafios enfrentados por quem faz parte da comunidade.Além de representar diferentes orientações sexuais e identidades de gênero, a sigla carrega um símbolo muitas vezes negligenciado: o “+”. Mas o que ele realmente significa? E por que é essencial reconhecê-lo? Antes de entender o papel de cada letra — e o que está além delas — é fundamental compreender a diferença entre identidade de gênero e orientação sexual, conceitos centrais para entender a pluralidade que a sigla representa.Identidade de gênero e orientação sexual: qual a diferença?Identidade de gênero diz respeito à forma como a pessoa se reconhece: homem, mulher, nenhum ou ambos. Já a orientação sexual refere-se à atração afetiva, emocional e/ou sexual que ela sente por outras pessoas.“A identidade de gênero fala da forma que a pessoa se enxerga, fala mais do ‘eu’: ‘me identifico e me enxergo mais de tal forma, sendo mais feminina, ou mais masculina, ou nenhum desses dois’. É a identidade dela. Já a orientação sexual é a forma romântica, emocional e sexual de atração pelo outro, é o desejo intrínseco da própria pessoa”, explica a psicóloga Amanda Souza.O que significa LGBTQIA+?A sigla representa diferentes orientações sexuais, identidades de gênero e variações corporais, com o objetivo de incluir, dar visibilidade e reconhecer a diversidade existente. Veja o que significa cada letra:L – Lésbicas (mulheres que sentem atração por outras mulheres, G – Gays (homens que sentem atração por outros homens), B – Bissexuais (pessoas que sentem atração por mais de um gênero), T – Transgêneros (pessoas cuja identidade de gênero difere do sexo atribuído ao nascer), Q – Queer (termo guarda-chuva para identidades que fogem das normas de gênero e sexualidade), I – Intersexuais (pessoas que nascem com variações nas características sexuais biológicas), A – Assexuais (pessoas que não sentem atração sexual; também inclui arromânticos e agêneros), P – Pansexuais (pessoas que sentem atração por outras independentemente do gênero), N – Não bináries (pessoas que não se identificam exclusivamente como homem ou mulher), + – Representa todas as outras identidades de gênero e orientações sexuais não listadas. (como demissexuais, gênero-fluido, two-spirit, entre outras).O que representa o “+” na sigla LGBTQIAPN+?O símbolo “+” é um sinal de inclusão. Ele contempla outras identidades de gênero, orientações sexuais e variações corporais que não estão representadas diretamente pelas letras da sigla. Veja alguns exemplos:Demissexuais (atração sexual somente após vínculo emocional)Gênero-fluido (identidade de gênero que pode mudar com o tempo ou contexto)Agênero (ausência de identificação com qualquer gênero)Arromântic@s (pessoas que não sentem atração romântica por outras pessoas)Two-Spirit (termo cultural de povos indígenas norte-americanos para identidades diversas)Polissexuais (atração por múltiplos, mas não todos, os gêneros)Graysexuais (pessoas que sentem atração sexual com pouca frequência ou em situações específicas)Neurogênero (identidades de gênero influenciadas por neurodivergências, como autismo)Pessoas intersexo não bináries (cuja corporalidade e identidade não se alinham ao sistema binário de gênero)Outras expressões e vivências únicas que também merecem visibilidade e respeitoO símbolo “+” é mais do que um complemento: ele reconhece a diversidade de vivências que não se encaixam em classificações fechadas. Representa identidades em constante descoberta, construção ou que ainda não têm espaço nos grandes debates.“O símbolo ‘+’ representa a diversidade tanto de identidade de gênero quanto de orientação sexual, porque nem todos se sentem encaixados nos padrões tradicionais impostos pela sociedade. A comunidade LGBTQIA+ mostra que esse padrão é uma construção social, e que existe uma ampla diversidade de pessoas com gostos, identidades e individualidades que não são parecidos entre si. É uma luta por respeito e igualdade social enquanto indivíduos que vivem e contribuem na sociedade”, destaca Amanda Souza.Violência ainda marca a realidade LGBTQIAPN+Apesar dos avanços em representatividade e conquistas de direitos, a comunidade LGBTQIAPN+ segue enfrentando uma realidade marcada por altos índices de violência. Segundo o Atlas da Violência 2024, as agressões contra essa população aumentaram 39,4% entre 2021 e 2022, chegando a quase um caso por hora. Em dez anos, os casos de violência contra homossexuais e bissexuais cresceram 1.193%, enquanto as ocorrências envolvendo pessoas trans e travestis subiram 20%. O Grupo Gay da Bahia (GGB) registrou 257 mortes violentas em 2023 — sendo 127 travestis e pessoas trans, 118 gays, 9 lésbicas e 3 bissexuais — com predominância entre jovens de 19 a 45 anos. Em 2024, os números chegaram a 291 mortes, segundo levantamento feito em conjunto com a Anistia Internacional, o que equivale a uma morte a cada 30 horas.A ausência de dados oficiais e a subnotificação dificultam a construção de políticas públicas eficazes e aprofundam a invisibilidade das vítimas. O Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ alerta que o Brasil segue como um dos países mais perigosos do mundo para essa população. A violência física, simbólica e institucional continua sendo um dos principais desafios enfrentados por pessoas LGBTQIAPN+ em busca de respeito, segurança e dignidade.Saúde mental e acolhimentoA vivência de pessoas LGBTQIAPN+ ainda é atravessada por diversos desafios sociais que impactam diretamente a saúde mental. O preconceito, a exclusão e a invisibilidade seguem sendo parte da realidade de muitos, causando sofrimento psíquico. “Os impactos causados são muitos: isolamento, estresse, ansiedade, depressão ou até mesmo o suicídio, pelo medo ou a não aceitação — tanto pela família quanto por pessoas próximas”, afirma a psicóloga Amanda Souza. Muitas vezes, o receio de se expressar leva essas pessoas a esconderem quem realmente são, o que agrava ainda mais esse sofrimento.Nesse contexto, o acolhimento sem julgamentos se torna essencial. “A escuta e o acolhimento profissional direcionam a pessoa a se autoconhecer, se priorizar e entender que sua identidade não invalida a dos outros. Ao contrário, ela aprende que é um sujeito com emoções e desejos, e que está tudo bem sentir esse desejo por alguém que foge do padrão”, completa a especialista. Mais do que um cuidado psicológico, trata-se de promover dignidade, pertencimento e autoestima.Representatividade e visibilidadeO reconhecimento da diversidade é também um fator que fortalece a autoestima e o bem-estar emocional das pessoas LGBTQIA+. Sentir-se representado ajuda a romper com o silêncio, o medo e a solidão.“É importante essa representatividade e visibilidade, pois dá abertura para aqueles que ainda têm medo de dizer o que sentem, como se identificam. Permite que vistam melhor quem são, sem máscaras, e saibam que não estão sozinhos. Existe uma comunidade que apoia, luta e acolhe”, conclui Amanda Souza.A ampliação da sigla é resultado de uma sociedade que avança no reconhecimento de diferentes formas de ser e amar. Mais do que letras, ela representa trajetórias, lutas e vivências que historicamente foram apagadas ou silenciadas.Leia Mais:Reforma tributária: plataforma da CBS começará a ser testada a partir de 1º de julhoSebrae impulsiona economia do Amazonas com mais de 2,2 milhões de novos negócios em 2025