É uma expressão que ganhou tração nas redes sociais, atravessou oceanos e entrou no léxico do mundo laboral moderno: Quiet Quitting. A tradução literal — ‘demissão silenciosa’ — é, talvez, enganadora. Não se trata de abandonar o emprego, mas de um recuo interno: trabalhadores que se limitam a cumprir o mínimo necessário para não serem despedidos, rejeitando tarefas extra, responsabilidades não reconhecidas ou disponibilidade fora de horas. Agora, um grupo de investigadores, liderado pela portuguesa Maria João Guedes, dá um passo decisivo: a definição rigorosa e científica do conceito e a criação de uma escala validada para o medir.O estudo, conduzido através de quatro amostras independentes — desde estudantes de pós-graduação a trabalhadores de diferentes geografias — permite, pela primeira vez, quantificar este padrão de comportamento laboral que muitos gestores já identificam como um dos maiores desafios de produtividade da década.Uma nova métrica para um velho problema com nome novoA investigação, publicada recentemente, propõe uma escala de dois eixos que traduzem as dimensões centrais do quiet quitting. A ferramenta será crucial para compreender não só a extensão do fenómeno, mas também as suas causas, correlações e consequências. Entre os principais pontos, o estudo sublinha que este comportamento se acentua em contextos de exigência crescente, ambientes pouco recompensadores ou culturas organizacionais onde o esforço extra raramente é reconhecido.A ausência de um envolvimento ativo por parte dos trabalhadores — não por falta de competência, mas por falta de motivação, confiança ou sentido de propósito — pode ter impactos profundos no desempenho das organizações, sobretudo numa economia marcada pela complexidade e mudança constante.Liderança portuguesa e financiamento nacionalMaria João Guedes, docente e investigadora, assume a coordenação do estudo, que contou com o apoio financeiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). A participação portuguesa no debate internacional sobre o futuro do trabalho volta assim a marcar posição, com investigação aplicada, robusta e com implicações práticas para líderes empresariais, decisores políticos e gestores de recursos humanos.Num tempo em que se fala tanto de envolvimento, propósito e bem-estar no trabalho, o quiet quitting obriga a fazer perguntas difíceis: até que ponto as empresas conseguem, de facto, criar condições para que os seus colaboradores se sintam parte ativa e valorizada da organização?A resposta, agora, já pode começar a ser medida.O conteúdo Quiet Quitting: o novo rosto da desmotivação no trabalho tem agora uma escala científica para ser medido aparece primeiro em Revista Líder.