Por praticamente cinco décadas, o Brasil, em um esforço conjunto entre as estruturas governamentais e a iniciativa privada, desenvolveu um potencial agropecuário que hoje está entre os maiores do mundo.Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apontam que, de cada quatro produtos do agronegócio circulando no mundo, um é brasileiro. O agronegócio também representa um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do país, 20% dos empregos e quase metade do volume de exportações.Agora, o esforço que gerou esse modelo bem-sucedido de agricultura se vira para um novo objetivo: a agricultura regenerativa.Agricultura regenerativaCom um sistema de práticas que visam a restauração do solo, conservação do meio ambiente e produção com baixa emissão de carbono, o investimento em agricultura regenerativa vem avançando no país na entrega de alimentos mais saudáveis, recuperação de biomas como Cerrado e Amazônia e na geração de renda para pequenos e médios agricultores.De acordo com o estudo “Soluções em Clima e Natureza do Brasil”, lançado pelos institutos Arapyaú e Itaúsa neste mês de junho, há uma área do tamanho do Rio Grande do Sul – pelo menos 28 milhões de hectares – de pastagens em degradação que tem potencial para serem convertidas em agricultura, reflorestamento, aumento da produção pecuária ou até mesmo produção de energia.O estudo dos institutos aponta uma série de ações já em curso no país em prol da agricultura generativa, da economia circular e descarbonizada e outras medidas em prol de um futuro mais verde.Entre elas, o fato do Brasil ser líder mundial na técnica do plantio direto, que protege o solo e evita a emissão de gases estufa, além do crescimento na produção de energia solar e até a pesquisa para produção de combustível sustentável de aviação.Destacam-se ainda ações como o projeto Cacau+Sustentável, parceria entre a empresa Suzano e o próprio Arapyaú, que vem fortalecendo a iniciativa de agricultura regenerativa no extremo sul da Bahia.O projeto foca na implantação de sistemas agroflorestais combinando o cacau com outras plantações, como banana e açaí, além de incentivar a adoção de práticas sustentáveis e de baixo custo – como lavouras de resultado mais rápido, como mandioca e hortaliças, para geração de renda prévia – e de agregação de valor, como o beneficiamento da amêndoa de cacau, que tem o dobro do preço de venda da fruta.O programa envolve diretamente 360 famílias do sul baiano, englobando mais de mil pessoas na região que é reconhecida pela tradição no plantio do cacau.ParceriasDentro dessa política, grandes empresas já apontam para metas que, principalmente em parceria com comunidades e produtores locais, visam a uma produção regenerativa em alto nível.A MBRF Global Foods, uma das maiores companhias de alimentos do mundo, condiciona a entrada dos pequenos produtores na cadeia de fornecimento ao cumprimento de práticas adequadas ao meio ambiente e de conservação e recuperação de florestas.A empresa hoje já monitora 100% dos fornecedores diretos e 88,8% dos indiretos na Amazônia e 79,6% no Cerrado.O conceito da regeneração, no entanto, não fica restrito ao meio agropecuário. Gigante corporativa da área de cosméticos, a Natura tem uma meta ousada: tornar-se uma empresa 100% regenerativa até 2050.“Hoje, todas as nossas ações estão guiadas pelo conceito de regeneração. Nossas metas são focadas nas pessoas, na natureza e nas relações, com ambições para a ação climática, a preservação da biodiversidade, os direitos humanos, a economia circular, entre outros”, pontua Fernanda Facchini, gerente sênior de Sustentabilidade da Natura.A empresa iniciou o relacionamento com a comunidade agroextrativista da Amazônia há mais de 20 anos e hoje conta com uma rede de mais de 10 mil famílias, distribuídas em 45 comunidades, e 94 cadeias de fornecimento que entregam insumos como castanha, murumuru e andiroba para a produção dos cosméticos.“Também temos como meta ampliar para 3 milhões de hectares a área conservada e regenerada na Amazônia até o fim da década – nosso modelo de negócio ajudou a conservar, até hoje, cerca de 2,2 milhões de hectares de floresta em pé”, acrescenta Facchini.