Uso de lenha para cozinhar mostra contradição energética brasileira

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O Brasil é considerado uma potência global quando o assunto é energia limpa. O país tem acesso a diversas matrizes, como a solar e eólica, e tem investido pesado no desenvolvimento destas alternativas pensando em uma transição energética.No entanto, em muitas regiões brasileiras, especialmente em áreas rurais, o fogão a lenha ainda é o principal meio de cozinhar. Em alguns casos, a prática é mantida por tradição. Em outros, é resultado da dificuldade de acesso a combustíveis mais limpos.Brasil é considerado uma potência no setor de energia limpa (Imagem: MDV Edwards/Shutterstock)Lenha representa 25% do consumo de energia residencial brasileiroSegundo o Observatório Brasileiro de Erradicação da Pobreza Energética (Obepe), cerca de 440 mil pessoas vivem em situação de pobreza energética no Brasil.Os piores cenários são observados no Norte e Nordeste do país. Já os dados mais recentes do Balanço Energético Nacional (2024) revelam que a lenha representou 25% do consumo de energia residencial brasileiro.Esta alternativa supera o gás liquefeito de petróleo (GLP), por exemplo, em 21,1%.O problema é que a queima da lenha libera poluentes no ar, gerando impactos para a saúde das famílias e para o meio ambiente.E evidencia uma importante contradição em um país que é saudado como potência energética global.Leia maisBrasil pode se tornar protagonista na transição energética globalUm ciberataque poderia derrubar a energia no Brasil?Esferas no fundo do mar podem revolucionar o armazenamento de energiaCerca de 440 mil pessoas ainda são obrigadas a usar soluções como a queima de lenha para cozinhar (Imagem: Pavel Svoboda Photography/Shutterstock)Impactos para a saúde das pessoas e do meio ambienteEm artigo publicado no portal The Conversation, Adriana Gioda, professora do Departamento de Química da PUC-Rio, cita um trabalho realizado por ela que traçou o perfil das famílias que utilizavam lenha como fonte principal de energia no Brasil. A pesquisa identificou que, além das limitações econômicas, o uso da lenha está muito ligado a aspectos culturais. Ela representa tradição, sabor característico dos alimentos e práticas transmitidas entre gerações. Isso torna a substituição completa por fontes mais limpas um desafio ainda maior.Por isso, são essenciais iniciativas que ofereçam soluções intermediárias, como os fogões ecoeficientes, capazes de melhorar significativamente a qualidade do ar e da vida, mesmo em contextos de vulnerabilidade. Políticas públicas de transição energética eficazes e de longo prazo precisam contemplar múltiplas frentes: viabilidade econômica, aceitação cultural e redução dos impactos ambientais.Adriana Gioda, professora do Departamento de Química da PUC-RioUm dos efeitos da queima da lenha é a redução da qualidade do ar (Imagem: Helen Sushitskaya/Shutterstock)O trabalho ainda demonstrou que é possível ver essas melhorias com tecnologias acessíveis e adaptadas à realidade local, desde que seja realizada em parceria com as comunidades. A pesquisadora afirma que reduzir a poluição nas cozinhas é uma medida concreta de proteção à saúde pública, especialmente de mulheres e crianças, que ainda são mais expostas à poluição do ar doméstico.Além disso, a substituição dos fogões rudimentares contribui para reduzir as emissões de carbono negro, um dos poluentes de maior impacto no aquecimento global. Se quisermos avançar rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, como energia limpa, saúde e bem-estar e ação climática, precisamos começar por onde a fumaça ainda é invisível: dentro das casas.Adriana Gioda, professora do Departamento de Química da PUC-RioO post Uso de lenha para cozinhar mostra contradição energética brasileira apareceu primeiro em Olhar Digital.