Renovação ou perpetuação? Reflexões sobre a dinâmica dos partidos e o futuro da democracia

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Na semana de 17 de fevereiro de 2025, o Partido dos Trabalhadores (PT) anunciou que serão permitidas reeleições ilimitadas para dirigentes partidários e o aumento do limite de mandatos para seus políticos. Essa medida, além de surpreender, lança luz sobre uma realidade presente há décadas: a falta de renovação tanto nas lideranças internas dos partidos quanto no próprio cenário eleitoral. Casos emblemáticos ilustram como certos nomes se perpetuam nas estruturas partidárias. José Luiz Penna, por exemplo, renovou seu mandato à frente do Partido Verde com 61,6% dos votos, estando à frente da legenda desde 1999 – o que o torna a liderança mais longevo entre os partidos com representação no Congresso Nacional. Da mesma forma, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, está à frente do partido desde 2000, enquanto Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, fundou o PSD em 2011 sem nunca enfrentar uma chapa de oposição. Marcos Pereira, do Republicanos, e Ciro Nogueira, do PP, também figuram entre os dirigentes que há mais de uma década mantêm o controle de suas legendas.  Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp! WhatsApp Além desses, há outros exemplos que evidenciam essa tendência: Carlos Lupi, que presidiu o PDT por décadas e atualmente está licenciado; Luciano Bivar, que comandou o PSL – e depois o União Brasil – deixando o cargo apenas após intensos problemas internos; José Maria Eymael, à frente do PSDC/DC; e Zé Maria, do PSTU. Tais casos demonstram como a concentração de poder nas mãos de figuras históricas dificulta a renovação e a diversidade de ideias.A situação não se restringe apenas às lideranças partidárias, mas se estende à composição dos parlamentos. Segundo notícia da Câmara dos Deputados, em 2022 a renovação foi de apenas 39%, ou seja, a maioria dos deputados reeleitos continuou no cargo. De forma similar, na Câmara de São Paulo, a renovação dos vereadores atingiu 36,55%, com 35 reeleitos assumindo seus mandatos. Esses números evidenciam um cenário em que os quadros políticos se mantêm praticamente inalterados, o que dificulta a emergência de novas ideias e perspectivas. Diante desse panorama, surge uma pergunta central: “Como uma democracia pode avançar se os processos internos dos partidos não garantem transparência e participação efetiva dos filiados?” A concentração de poder nas mãos de lideranças centenárias impõe barreiras para que novas vozes emergam, perpetuando práticas antiquadas e dificultando o surgimento de novas figuras na política – seja no âmbito local, estadual ou federal – que não estejam atreladas a grandes nomes historicamente consolidados.Sem mecanismos que estimulem a participação dos filiados na escolha dos dirigentes, como primárias abertas e debates internos mais transparentes, corremos o risco de ver a política se transformar em um espaço de interesses fechados e privilégios, afastando, inclusive, os jovens que poderiam trazer inovações e renovar o debate público.O anúncio recente do PT é apenas mais um capítulo na longa história de perpetuação de lideranças no Brasil. Os dados demonstram que, mesmo após a redemocratização, a renovação política permanece limitada. Para que a democracia brasileira avance, é urgente repensar os processos internos dos partidos, promovendo maior transparência, participação efetiva dos filiados e mecanismos que possibilitem a emergência de novas figuras – independentes dos tradicionais nomes centralizadores. Somente com uma estrutura partidária verdadeiramente democrática e aberta poderemos criar condições para que novas ideias floresçam e que a política se torne um instrumento de transformação social, refletindo, de forma mais fiel, a diversidade e os anseios da população.*Bruno Massolini é economista e estudante de relações internacionais e Matemática. Associado  ao Livres em São Paulo.Esta publicação é uma parceria da Jovem Pan com o LivresO Livres é uma associação civil sem fins lucrativos que reúne ativistas e acadêmicos liberais comprometidos com políticas públicas pela ampliação da liberdade de escolha Leia também PPPs em educação: aos poucos o preconceito é deixado de lado no Brasil O homem é estúpido por natureza: um encontro racional por uma reforma do Estado