Uma empresa do mercado de energia solar que virou alvo da Polícia Federal (PF) na terça-feira (25/02) por suspeita de crimes financeiros e lavagem de dinheiro tinha em seu catálogo a venda de uma usina própria e falava em até 15% de desconto na conta de luz a partir da compra de créditos de energia solar com companhia. A empresa investigada é a Alpha Energy Capital, que tem escritórios em Barueri (SP) e Natal (RN). A principal atuação da Alpha é no Rio Grande do Norte, onde as placas solares estão instaladas.Segundo a investigação, a empresa promovia a captação de recursos de investidores sob a promessa de rendimentos “muito acima dos praticados no mercado”, supostamente obtidos pela comercialização de créditos de energia solar.Em um vídeo publicado nas redes da empresa, o diretor comercial da Alpha, Arthur Feráboli, aparece falando sobre as modalidades de serviço oferecidos e as vantagens de investir em seus produtos.Segundo ele, mediante a compra de créditos de energia com a Alpha, o cliente teria um desconto de 12 a 15% na conta de energia, o que seria “muito atrativo”. Por essa razão, ele diz que a compra dos créditos seria garantida.“Como a gente só comercializa para pequenas, médias e grandes empresas, imagina um empreendedor que tem uma indústria, que tem um frigorífico, que tem uma fábrica, uma loja, até um pequeno comércio, um condomínio. Negócios assim consomem muita energia”, afirma.A atuação da Alpha se dá por meio da venda de módulos que podem ser adquiridos por R$ 1 mil cada. Segundo a empresa, cada módulo tem um retorno sobre as operações de até 4% ao mês. O que a Alpha oferece, no caso, é uma participação na comercialização dos créditos.“O retorno sobre as operações é creditado todos os dias em sua conta na Alpha, sendo possível realizar a transferência do seu saldo para a sua conta do banco todos os dias 5 de cada mês”, diz o site da empresa.Dentre a cartela de vendas, também está o chamado “Alpha Black”, em que o cliente pode adquirir uma usina própria. O custo para esse produto é de R$ 350 mil, com retorno de 5% ao mês.Nesse caso, o cliente tem a usina inteira em seu nome e, de acordo com o vídeo de Feráboli, ele também conta com um “respaldo jurídico”, como o “seguro Alpha”, que coloca o cliente como beneficiário único.Operação PleonexiaA operação foi deflagrada na terça-feira pela Polícia Federal e pela Receita Federal. Foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão nas cidades de Natal, Barueri e Goiânia (GO).Segundo a PF, o grupo atraía pessoas de regiões variadas comprometendo-se a pagar um rendimento mensal de 4 a 5%, “o que se revelou insustentável e com fortes indícios de fraude”. O montante ilícito movimentado pela empresa ultrapassaria R$ 151 milhões.“No portfólio dirigido aos potenciais investidores, a empresa divulgava a existência de onze usinas de energia solar, com capacidade de geração de 1.266.720 kWh/mês, no entanto, a investigação revelou a existência de apenas uma usina efetivamente conectada à rede da distribuidora de energia local, tendo gerado somente 28.325 kWh”, diz a corporação em nota.As investigações apontam que a maior parte dos valores captados foi desviada para a compra de imóveis, veículos de alto padrão, joias, entre outros artigos de luxo.Ainda, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a empresa investigada não é titular de nenhum empreendimento de geração de energia regular e não tem pedido de outorga em tramitação em seu nome.DefesaEm nota publicada em conta da empresa no Instagram, a Alpha afirma que está ciente das investigações em curso e está colaborando com as autoridades.“Reafirmamos que nossa empresa sempre pautou suas ações pela transparência e pela legalidade, e estamos confiantes de que tudo será resolvido o mais breve possível”, diz o comunicado.A coluna entrou em contato com Arthur Feráboli, mas não obteve retorno.