Dois módulos robóticos de pouso, um dos Estados Unidos e outro do Japão, estão atualmente a caminho da Lua — e, nesta semana, um terceiro se juntará a eles.O mais recente concorrente se destaca: a espaçonave, chamada Athena, foi construída pela Intuitive Machines, uma empresa com sede em Houston que, até agora, é a única do setor privado na Terra a ter realizado um pouso seguro na Lua.O módulo lunar, que será lançado a bordo de um foguete SpaceX Falcon 9, está programado para decolar do Centro Espacial Kennedy da NASA, na Flórida, às 21h17 (horário de Brasília) nesta quarta-feira (26). A agência espacial transmitirá o evento ao vivo pelo NASA+. Leia mais Nasa lançará telescópio para investigar o que aconteceu após o Big Bang Asteroide 2024 YR4 tem quase zero chance de atingir a Terra Anéis de Saturno desaparecerão no dia 23 de março; entenda Athena, em uma missão chamada IM-2, tentará posteriormente uma ousada descida em direção ao polo sul da Lua. A região é considerada crucial para a atual corrida espacial lunar, pois os cientistas acreditam que seja rica em depósitos de gelo de água, um recurso que pode ser convertido em ar respirável, água potável ou até mesmo combustível para foguetes.Como parte do programa Commercial Lunar Payload Services (CLPS) da Nasa, o módulo de pouso da Intuitive Machines será equipado com um conjunto de tecnologias — incluindo uma broca, um pequeno robô saltador e um minirrover — que permitirão explorar o terreno acidentado e repleto de crateras, em busca de evidências de água.“É uma missão muito dinâmica, com muitas partes móveis”, disse Steve Altemus, cofundador e CEO da Intuitive Machines, em uma entrevista no início deste mês.A espaçonave Athena, um módulo de pouso de seis patas com aproximadamente o tamanho de uma cabine telefônica, levará cerca de uma semana para chegar ao seu destino. Sua trajetória até a Lua será mais curta em comparação com os módulos lançados no mês passado: o Blue Ghost, da Firefly, sediada em Austin, Texas, que deve pousar neste fim de semana, e um módulo da empresa japonesa Ispace, que não deve aterrissar antes da primavera.Segunda tentativa lunar com objetivos maioresA Intuitive Machines fez história no ano passado quando seu primeiro módulo lunar, Odysseus — ou “Odie”, como era chamado pelos funcionários da empresa — realizou um pouso suave na superfície da Lua.Odie teve sucesso onde muitos falharam: cerca de metade de todos os módulos de pouso lunares não alcançam seu destino pretendido ou acabam se chocando contra a superfície.Antes da missão IM-1, como foi chamada a jornada de Odie, apenas alguns programas espaciais civis nacionais haviam conseguido pousar suavemente na Lua.No entanto, a missão não foi perfeita. Um problema crítico surgiu quando os engenheiros da Intuitive Machines perceberam que não haviam conectado corretamente um telêmetro — um laser projetado para medir a altitude com precisão.Esse erro obrigou a empresa a depender de uma carga experimental da Nasa que, por sorte, estava a bordo e pôde ser usada para suporte na navegação.Embora Odie tenha pousado com segurança perto da cratera Malapert A, na região do polo sul da Lua, a espaçonave acabou tombando na borda de uma cratera e ficou de lado.As equipes da missão conseguiram reconfigurar o método de comunicação da espaçonave para recuperar dados valiosos dos seis instrumentos científicos da Nasa a bordo. No entanto, o veículo não operou pelo tempo esperado pela Intuitive Machines.Na missão IM-1, Odie teve como objetivo testar diversas tecnologias de navegação e coletar dados científicos por meio dos instrumentos da agência norte-americana. Ele apenas precisava permanecer no local enquanto transmitia as informações de volta à Terra.Já na missão IM-2, os desafios são ainda maiores. O módulo de pouso Athena será equipado com vários robôs menores que serão implantados na superfície, além de uma broca projetada para perfurar o solo lunar em busca de gelo de água.“Esta é uma missão muito mais complexa, dinâmica e empolgante”, disse Altemus. “Uma coisa é pousar na Lua. Agora, estamos realmente entrando no jogo na segunda tentativa.”Jornada até Mons MoutonApós alcançar o espaço a bordo do foguete Falcon 9, Athena iniciará o que Altemus descreveu anteriormente como “um arremesso rápido e energético em direção à Lua”.A jornada incluirá vários momentos de tensão.“Sendo um homem de mísseis de olhar frio e calculista, não diria que entramos em pânico — mas há momentos de ansiedade crescente”, disse Altemus. “Veremos esse nível de ansiedade quando for a hora de acionar o motor pela primeira vez. Tudo precisa se alinhar perfeitamente para que o motor funcione e nos coloque a caminho da Lua. Acho que esse será o primeiro momento em que realmente sentiremos um nó no estômago.”Em um ponto da viagem, Athena também passará por um eclipse solar, quando a Terra se mover diante do Sol, bloqueando temporariamente sua luz.“Teremos uma redução na geração de energia enquanto viajamos no escuro, sem o Sol”, explicou Altemus. “Quando isso acontecer, teremos que desligar alguns equipamentos extras para conservar energia.”A espaçonave se separará do foguete após atingir a chamada órbita de injeção translunar, um caminho elíptico que se estende a cerca de 380.000 quilômetros da Terra. Em seguida, Athena acionará seus próprios motores para se inserir no campo gravitacional da Lua.Após essa fase crítica, Athena implantará os pequenos veículos espaciais que estão a bordo como cargas secundárias. Um deles é a sonda Lunar Trailblazer, desenvolvida pela Nasa, que tem como objetivo mapear a distribuição de água na superfície lunar enquanto orbita a Lua.Outro é uma espaçonave do tamanho de um micro-ondas, criada pela startup californiana AstroForge, que continuará sua jornada no espaço profundo em busca de um asteroide rico em metais preciosos.Nave espacial AstroForge Odin vista dentro de instalações de teste e desenvolvimento • Courtesy Astroforge via CNN NewsourceCerca de uma semana após o lançamento da Flórida, Athena fará sua descida final. O destino do módulo de pouso é Mons Mouton, um planalto próximo ao polo sul lunar.“É o local de pouso mais próximo do polo sul da Lua até hoje”, disse Nicky Fox, administradora associada da Diretoria de Missões Científicas da Nasa, durante uma coletiva em 7 de fevereiro sobre os objetivos científicos da missão IM-2.Mons Mouton também oferece a Athena o que Fox chamou de “zona ideal de luz solar”.Embora muitas áreas do polo sul lunar permaneçam permanentemente na sombra — locais onde o gelo de água pode estar preservado há bilhões de anos —, Mons Mouton recebe luz solar suficiente para alimentar a missão por cerca de 10 dias, ao mesmo tempo em que mantém uma linha de visão direta com a Terra para garantir a comunicação com a espaçonave, explicou Fox.O local de pouso de Athena será “um ambiente extremamente frio, que acreditamos conter voláteis — substâncias químicas que podem facilmente mudar de estado entre líquido, sólido e gasoso”, explicou Fox. “Esses voláteis podem conter gelo de água aprisionado.”Mas chegar com segurança a esse destino será um grande desafio. As áreas próximas ao polo sul lunar são repletas de crateras de impacto, tornando difícil encontrar um terreno plano e seguro para o pouso.“A missão IM-2 precisa ser muito mais precisa do que a IM-1”, disse Mike Hansen, líder de navegação da Intuitive Machines, em uma entrevista para o podcast da empresa no ano passado. “Na IM-1, podíamos errar dentro de um raio de aproximadamente um quilômetro. Na IM-2, a margem de erro foi reduzida para apenas 50 metros.”O que Athena faráAltemus afirmou que a empresa está mirando o dia 6 de março para o pouso. E então, o verdadeiro trabalho começa.“Imediatamente, iniciaremos a campanha de perfuração na superfície, tentando realizar 10 ciclos de perfuração, avançando 10 centímetros por vez, até atingirmos um metro de profundidade”, disse Altemus, explicando como funcionará a broca da Nasa, chamada Prime-1, projetada para procurar gelo de água.O pequeno robô Micro Nova Hopper a bordo da missão IM-2 — desenvolvido pela Intuitive Machines — se desprenderá do módulo Athena. Nomeado Grace, em homenagem à pioneira da engenharia de software Grace Murray Hopper, esse minúsculo veículo realizará vários saltos de até 50 metros no ar antes de mergulhar em uma cratera próxima que permanece em sombra perpétua.Lá, o robô tentará detectar gelo antes de saltar de volta para fora da cratera e transmitir os dados para a Terra.Além disso, um rover de quatro rodas, do tamanho de um micro-ondas, desenvolvido pela Lunar Outpost, também será liberado pelo Athena. Ele carregará seus próprios instrumentos e tecnologias experimentais, incluindo um rover ainda menor, do tamanho de uma caixa de fósforos, chamado AstroAnt.Tanto o rover da Lunar Outpost quanto o hopper Grace testarão o uso de redes de comunicação celular na Lua, como parte de um experimento financiado pela Nasa e liderado pela Nokia.No total, espera-se que o módulo de pouso Athena opere por cerca de 10 dias na superfície lunar.“Vai ser uma missão muito dinâmica, com uma programação intensa”, afirmou Altemus.Quando foi a última viagem à Lua e por que o programa lunar acabou?Este conteúdo foi originalmente publicado em Nave espacial será lançada nesta quarta (26) com destino a Lua; assista no site CNN Brasil.