“Ritual da cabeça pregada”: prática da Idade do Ferro era mais complexa do que se pensava

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Os povos pré-históricos na Espanha cortavam as cabeças dos mortos e cravaram pregos gigantes nos seus crânios por diferentes razões. Os motivos mais prováveis, segundo uma equipe de pesquisadores de Barcelona, eram de que esses grupos ancestrais faziam isso para celebrar antepassados e para intimidar seus inimigos.Em um novo estudo, cientistas examinaram sete crânios decepados de dois sítios arqueológicos na costa sudeste da Península Ibérica. O objetivo é identificar a origem das pessoas decapitadas.“Nossa premissa ao abordar o estudo foi que se fossem troféus de guerra não viriam dos locais analisados, enquanto se fossem indivíduos venerados, provavelmente seriam locais”, disse Rubén de la Fuente-Seoane, arqueólogo da Universidade Autônoma de Barcelona e primeiro autor do estudo, em comunicado.Uma das cabeças decepadas encontradas em Ullastret (Girona, Espanha). (Imagem: © Museu d’Arqueologia de Catalunya (MAC)-Ullastret a De Prado, 2015)Na pesquisa, publicada no Journal of Archeological Science: Reports, o grupo usou um método chamado análise de isótopos de estrôncio. A técnica permitiu identificar quais das sete pessoas eram locais e quais indivíduos vinham de outros lugares. Esse processo ajuda a revelar a origem dos sujeitos porque o elemento estrôncio penetra nos ossos e dentes durante o crescimento e desenvolvimento. A partir da análise do material, é possível ver a geografia da dieta de uma pessoa.Os crânios amedrontavam e homenageavamApós esse exame dos fósseis, os pesquisadores descobriram que três em cada quatro cabeças decepadas no sítio de Puig Castellar vieram de pessoas não locais. Enquanto isso, apenas um dos três crânios no sítio Ullastret veio de uma pessoa não local.Os dois locais, separados por cerca de cem quilômetros, já abrigam cidades antigas. Os povos abandoaram essas áreas logo após a Segunda Guerra Púnica e a chegada dos romanos por volta do final do século III a.C.“Este resultado sugere que a prática das cabeças decepadas foi aplicada de forma diferente em cada local”, disse de la Fuente-Seoane. “A seleção de indivíduos para o ritual das cabeças decepadas foi mais complexa do que se pensava inicialmente”.Crânio de uma pessoa adulta com um prego encontrado em Puig Castellar. (Imagem: Dorieo / Wikimedia Commons)Leia mais:Rituais de sacrifício eram comuns em toda a Europa neolítica; saiba maisTumba milenar no Peru guardava evidências de ritual nunca vistoMilhares de ossos revelam detalhes de ritual da Idade do FerroA equipe também examinou os locais onde os crânios estavam. Em Puig Castellar, todas as cabeças de não locais foram encontradas em muros externos ou perto deles, o que sugere que foram pregados para pessoas verem. Isso pode significar que o seu objetivo era demonstrar poder sobre os grupos de fora da comunidade.Em Ullastret, por outro lado, os pesquisadores encontraram os crânios locais em residências. Isso sugere que os membros do grupo colocaram em exposição essas partes de cadáver dentro ou fora das casas para homenagear pessoas importantes do povo, segundo propõem os pesquisadores.Outros povos relataram o ritualAs descobertas estão alinhadas com os relatos históricos dos gregos e romanos. Autores antigos desses povos escreveram que os gauleses do sul da França deceparam as cabeças dos inimigos e os mercenários ibéricos carregavam as cabeças inimigas empaladas nas suas lanças.Porém, os cientistas alertam que essa pesquisa não é a palavra final sobre o ritual da cabeça pregada. Embora a tradição pareça ter sido praticada de diferentes maneiras nos sítios ibéricos da Idade do Ferro, são necessárias mais pesquisas para ter certeza, explica de la Fuente-Seoane.O post “Ritual da cabeça pregada”: prática da Idade do Ferro era mais complexa do que se pensava apareceu primeiro em Olhar Digital.