Tarifas de Trump e risco fiscal no Brasil: Como os gestores avaliam o cenário econômico

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O retorno de Donald Trump à Casa Branca está dividindo a opinião do mercado: enquanto alguns estão otimistas com a política econômica do republicano, outros avaliam que o novo presidente dos Estados Unidos traz incertezas para o mercado.Felipe Guerra, CIO da Legacy Capital, está do lado dos gestores otimistas com Trump. “Apesar das políticas contraditórias do Trump com relação ao que ele deseja e o que ele ameaça fazer, e as incertezas com relação às intensidades, a gente entende que ele tem uma equipe econômica por trás de alta qualidade”, disse, durante o evento CEO Conference 2025, realizado pelo BTG nesta terça-feira (25).Segundo ele, qualquer movimento de corte de gastos que for feito pelo governo americano será positivo e permitirá a extensão do benefício do corte de impostos para as empresas. As projeções também indicam queda da inflação global, convergindo para níveis mais próximos da meta.O gestor ainda aponta que vê a economia americana em um crescimento mais forte, o que acaba sendo positivo para o mundo e, consequentemente, para os ativos, “porque você afasta a necessidade do Banco Central americano voltar a discutir alta de juros”.Fabiano Rios, CIO da Absolute Investimentos, também considera a nova equipe do governo Trump “muito boa”.“Scott Bessett [Secretário do Tesouro Americano] é um cara diferente, que vende mercado e com uma visão muito diferente da [Janet] Yellen ou do governo anterior. Ele tem sido vocal não só no pós-governo Trump, mas antes, durante a campanha. Ele tem repetido a questão do 333, que eles vão buscar 3% de déficit público, 3% de crescimento, assim estabilizaria a dívida e um aumento de 3 milhões de barris de petróleo”, disse.Rios ainda afirma que tem visto uma preocupação muito grande com o fiscal — uma preocupação que não existia no governo passado e nem no próprio governo Trump 1 —, embora se questione se isso realmente vai ser implementado ou não.Ele destaca que o governo Trump está exercendo forte pressão para que outros países façam ajustes fiscais e aliviem a responsabilidade dos Estados Unidos.LEIA MAIS: 3 categorias de ações para buscar proteção e retorno no atual cenário econômicoTrump pode pressionar a economiaPor outro lado, Rios destaca a preocupação do mercado com o tamanho da margem de segurança dos Estados Unidos.“O S&P 500 está com múltiplos muito altos, ou seja, uma margem de segurança menor, e o dólar também se valorizou absurdamente. Eu não questiono o excepcionalismo americano, acho que os EUA têm vantagens competitivas enormes. Eu questiono o quanto disso está no preço. Na hora que eu olho a margem de segurança, confesso que tenho algum receio com relação a se a gente não pode ter uma correção um pouco maior nos próximos meses”, completa.Carlos Woelz, sócio-fundador da Kapitalo Investimentos, é menos confiante em relação ao governo Trump.“Sobre a questão fiscal, que é algo que tem, de fato, um guidance muito positivo, eu acho que vão ter pressões para todos os lados. Você tem um Congresso que pode ou não ter a mesma visão do Trump a respeito do gasto. Uma coisa meio parecida com o Brasil”, afirma.Ele aponta que, na parte internacional e das tarifas, deve haver um impacto gigantesco ao longo dos próximos quatro anos, devido ao uso de impostos como forma de pressão, o que aumenta a incerteza sobre onde investir ou como construir uma cadeia de suprimento.Woelz afirma que as medidas de Trump são contraditórias. “Ou você vai construir uma coisa global para ser competitivo, ou você vai ser isolacionista. Se você quiser ser competitivo, você não tem que olhar tanto a balança comercial e individual, porque você vai ter vantagens competitivas diferentes”, diz.Risco fiscal no BrasilSobre o risco fiscal no Brasil, Woelz avalia que o cenário econômico brasileiro continua “tão ruim quanto era em dezembro”, mesmo com o rali do Ibovespa no início do ano — que, segundo ele, não passou de uma reação do mercado à queda de popularidade do atual governo.“Se olhar as previsões do mercado, mudaram muito, muito pouco, tá? O que mudou no Brasil para piorar a situação, assim é a base. A base era muito ruim, o arcabouço é muito ruim, porque o governo fez um aumento de gastos gigantesco. Ele começa com uma base não sustentável, e com uma velocidade de correção muito ruim, e uma regra de campeonato estadual, toda complicada, mas no final tem duas taças”, afirma.A piora, segundo o gestor, está relacionada ao fiscal e aos incentivos ao crédito e ao parafiscal. Isso levou a uma elevação dos juros reais, piorando a trajetória da dívida. Woelz diz que subir os juros demanda responsabilidade, pois, quando há alta nas taxas, é necessário um plano fiscal que garanta a sustentabilidade da dívida.Rodrigo Carvalho, sócio-fundador da Clave Capital, afirma que “essa grande melhora vista no mercado brasileiro no início do ano tem como fator dominante o vetor internacional”.“Esse refluxo parcial do excepcionalismo americano é um consenso muito grande e que foi um start de tarifa mais lights do que o mercado achava. Acho que isso explica 80% do movimento dos ativos brasileiros. Os outros 20%, você consegue atribuir à popularidade e à própria desaceleração da atividade econômica, que traz uma tranquilidade”, aponta.Sobre a taxa Selic, Carvalho projeta que o Banco Central elevará os juros em 1 ponto percentual em março, seguido de uma segunda alta de 0,75 pp em maio, antes de interromper o ciclo de aperto monetário. Mas isso vai depender da resposta do governo com relação a essa queda de popularidade.Segundo Carvalho, “o mercado entrou em um capítulo em que o governo está preocupado e vai começar a reagir, o que pode pressionar a inflação e as decisões do BC”.Ibovespa: prévia da inflação de fevereiro e novos anúncios de Lula movimentam o mercado hoje; assista ao Giro do Mercado e fique por dentro do que mexe com seu bolso: