Em reestreia de 'Petra', Bete Coelho ressalta amor trágico e patético pelo jogo teatral

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Por Folha de São Paulo 25/02/2025 15h00 — emArte e CulturaSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dizem que por trás de todo grande homem existe uma grande mulher. Em "Petra", porém, não há homem algum em cena. Mas, como nenhuma mulher é uma ilha, Petra von Kant, a personagem-título, é quase ninguém sem sua muda assistente, Marlene -tanto quanto Bete Coelho, protagonista da peça, depende de Lindsay Castro Lima, intérprete da fiel escudeira e diretora de produção da Cia.BR 116."Se a peça não dá certo, a culpa é da produção", diz, às risadas, Coelho, que dirige a montagem ao lado de Gabriel Fernandes, lembrando Lima como um pilar do espetáculo. "Ela organiza tudo, vê tudo, escuta tudo, mas não se ouve sua voz." É ela -personagem e contrarregra- quem passa pela plateia e sobe ao palco, anunciando o terceiro sinal, enquanto Petra resmunga na cama, pedindo o telefone e um suco de laranja para sua terrível sede.A montagem do texto do Rainer Werner Fassbinder, originalmente para o teatro e filmado pelo próprio autor, em 1972, reestreia em março, no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, após uma temporada lotada no Teatro Cacilda Becker, no ano passado.Obra da fase melodramática do alemão, o público acompanha a paixão de uma estilista de alta-costura confinada em seu quarto, onde recebe a amiga Sidonie, papel de Clarisse Kiste, quem apresenta a ela Karin, vivida por Luiza Curvo, jovem por quem se apaixona a ponto de derramar suas amargas lágrimas.O trágico e o patético estão bastante em relevo na montagem -era comum o público gargalhar perante os rompantes de Petra, diferente da abordagem tétrica do filme-, algo que Coelho promete intensificar desta vez. Mas a artista também reforça a iluminação brechtiana do espetáculo. "As pessoas riem ou estão às lágrimas, e aí lembramos que isso também é teatro," diz.Esse distanciamento, segundo Fernandes, o diretor, é visto na cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara, com grandes espelhos em frente à cama e nos carrinho de bebidas que Marlene movimenta, monta e desmonta a cada trecho, além das passagens entre os atos.Nesses momentos, o palco se transforma num cabaré, e Laís Lacôrte entoa, em perfeita dicção germânica, canções do cinema fassbinderiano, como as de "Lola" e "Lili Marlene", acompanhada por Chicão ao piano. "É uma homenagem à obra do Fassbinder e às suas mulheres", afirma Coelho. "Vem a calhar por sermos uma companhia que tem encenado personagens como Medeia, Ana Lívia, Molly Bloom."Afinal, "língua é música". A frase é de Hanna Schygulla, uma das musas de Fassbinder e intérprete de Karin no filme de 1972, numa conversa com Coelho e Giulia Gam, em 2010, promovida por este jornal.A atriz lembra que, após o extenso papo, por ocasião da retrospectiva promovida pela Mostra de Cinema de São Paulo, as atrizes seguiram conversando noite adentro sobre a arte e as obsessões de Fassbinder. "Ele criava uma constelação inteira e depois passava para outra coisa. Não era a tradição do cinema. E tampouco é a essência do teatro", disse Schygulla à época. Fassbinder morreria de uma overdose, aos 37, após uma prolífica carreira, com quase 40 obras para TV e cinema em 13 anos de trabalho.Esse embate entre ator e diretor é, de certa forma, encapsulado na própria peça, conforme percebemos que Petra é vítima do seu próprio vampirismo. Depois que Karin suga o que pode de seu dinheiro e de sua paixão cega, ela parte atrás do marido, deixando a burguesa aos frangalhos. "Karin é um amor sexual, transformador. A relação de Marlene é com a submissão, é um amor de aceitação e cuidado", diz Fernandes.Ao final, Petra é surpreendida pela mãe -Renata Melo- e pela filha -Miranda Diamant Frias-, recebidas aos coices. "Sofrer de amor, embora seja uma dor escruciante, legítima, quando você vê de fora, pode rir do ridículo. Outra parte engraçada é quando a Petra rompe com todas as relações familiares. Ela xinga todo mundo. Quem nunca quis matar a família e ir ao cinema?", diz o diretor, responsável por complementar o trabalho de Coelho. "Tudo o que me falta, ele preenche", diz ela.Marcos Renaux, outra figura fora de cena, também participou ativamente dos ensaios para garantir que o texto realista, de tom quase cotidiano, mantivesse os sentidos do original alemão. "É um privilégio ter um tradutor nos bastidores", diz a atriz, que pensa em trazer mais da obra fassbinderiana.PETRAQuando Sex. e sáb., às 20h; dom., às 16h. No dom. (23), às 18h. De 7 a 30 de marçoOnde Teatro Sérgio Cardoso - r. Rui Barbosa, 153, São PauloPreço R$ 40 a R$ 70Classificação 14 anosElenco Bete Coelho, Luiza Curvo, Lindsay Castro LimaDireção Bete Coelho e Gabriel FernandesLink https://bileto.sympla.com.br/event/103142/d/303149Bastidores da PolíticaA rebelião dos novos excluídos"; // imagens[1] = // ""; // imagens[4] = // ' source src = "/sites/all/themes/v5/banners/videos/vt-garcia-07-2023.mp4" type = "video/mp4" >'; // imagens[2] = // ""; // imagens[4] = // ""; // imagens[3] = // ""; // imagens[4] = // ""; index = Math.floor(Math.random() * imagens.length); document.write(imagens[index]);//]]>