Peruano vende livros pelas ruas de SP e conscientiza sobre imigrantes

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São Paulo — Peruano radicado no Brasil; formado em teologia, mas não praticante religioso. Com uma trajetória paradoxal, ampla e repleta de nuances, Jesus Lobatón — conhecido como “profe” Eli —, de 50 anos, mora no Brasil há aproximadamente uma década. A rotina em São Paulo engloba a venda de livros pelas ruas da cidade.No repertório, estão clássicos, como títulos do emblemático Machado de Assis. Contudo, a protagonista é uma obra autoral escrita em parceria com a filha, Mara Lobatón, de 17 anos. Durante a comercialização informal, Eli faz questão de conscientizar o público sobre a temática da imigração mundial.5 imagensFechar modal.1 de 5Jesus Lobatón é conhecido como "profe" EliMaterial cedido ao Metrópoles2 de 5O peruano vende livros em São PauloMaterial cedido ao Metrópoles3 de 5A esposa e os filhos de Eli são colombianosMaterial cedido ao Metrópoles4 de 5Família mista de cultura colombiana que trocou Bogotá pelo Brasil em 2016Material cedido ao Metrópoles5 de 5Filha de Eli e coautora do livro Nômades Invisíveis, Mara Lobatón se mudou para São Paulo na infânciaMaterial cedido ao Metrópoles“Importância da literatura é absoluta”Para Eli, a literatura guia um estilo de vida. Inspirado no cientista e astrônomo norte-americano Carl Sagan, o peruano acredita que cada novo livro é a possibilidade de comunicação com outras pessoas, inclusive com quem não está mais presente no tempo e no espaço.“A importância dos livros, para mim, é absoluta”, avalia. “O horizonte do ser humano se amplia, se abre à medida que ele compreende o mundo. Quanto mais ignorante for o seu horizonte, mais estreito e curto ele será, e também suas possibilidades”.Na visão do vendedor de livros, que também atua como corretor de imóveis em meio período, o ato da leitura é uma ferramenta de “catarse”.  Além disso, escrever é uma “terapia”.“Pessoalmente, não associo o conhecimento da cultura ou dos livros à educação. Também não associo à escolaridade. Acho que a educação é um pouco mais, para além de todas as figuras estereotipadas”, destaca Eli. “A educação acompanha aspectos de caráter, aspectos do ambiente familiar. Os livros ‘produzem’ seres humanos mais conscientes, mais esclarecidos”.Imigrantes em São PauloPeruano casado com uma colombiana, Eli tem dois filhos, que nasceram em Bogotá, na Colômbia. Com a mais velha, Mara, ele divide a paixão pela escrita.“Ela gosta de escrever porque gosta de se comunicar e de transmitir. Também ama as ciências e está neste momento numa ‘batalha’ de vocação, porque gosta de astrofísica. Ela tem medalhas de ouro e de prata, e fala três idiomas com 17 anos”, conta, orgulhoso.Em 2023, a dupla publicou a obra Nômades Invisíveis. O pai foi responsável por capítulos baseados em fatos e dados reais, enquanto Mara idealizou personagens fictícios em espaços verdadeiros.“Ela descreve quadros, eventos, pessoas, sentimentos, emoções, situações, de uma forma profunda. Ela cria romances, transforma tragédias em aventuras. Diferente dos capítulos que eu escrevo, ela aborda todas as colônias e os grupos migratórios que caracterizam São Paulo. Ela descreve o entorno, como começou, descreve como foram construídos os bairros”, detalha.Na totalidade, o trabalho aborda narrativas que comunicam o desafio de ser imigrante, sob uma ampla perspectiva. A vivência da própria família está inserida na essência das palavras nas páginas.“No Brasil, os nossos desafios são normais do ser humano. Tentamos caminhar e viver, e nos sentir brasileiros, com as alegrias e as tristezas dos próprios brasileiros. E tentamos evitar que essa percepção seja dramática, essa também é a intenção do livro”, acrescenta. “Em 99% das vezes, me sinto confortável, me sinto em casa. Há pessoas estúpidas em todos os lugares, mas nunca como nos Estados Unidos ou na Europa, em relação à xenofobia ou ao racismo”.Eli conta que, no início, ao chegarem ao Brasil, as crianças enfrentaram um amadurecimento acelerado e prematuro, ao lidarem com uma nova cultura, um novo idioma. No entanto, na visão do peruano, eles também aprenderam a ser fortes, resilientes e a se adaptar. Um fato que a família percebeu desde a chegada foi a polarização sociopolítica no país.“A minha filosofia me faz entender o mundo e a sociedade como um lugar ao sol, onde todos queremos apenas existir e encontrar sentido na vida. Os títulos adjetivos de imigrante, refugiado ou estrangeiro correspondem à política, à diplomacia”, analisa.