Em crise política e econômica, Alemanha escolhe o novo Parlamento

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A outrora forte economia alemã, que ditava as regras para toda a União Europeia, cambaleia desde 2019, a aliança “semáforo” — entre a centro-esquerda, os verdes e os democratas livres — não deu conta do recado e implodiu em novembro. Enquanto isso, as questões migratórias nunca resolvidas explodiram na forma de atentados, dando mais poder fogo ao discurso da extrema-direita.É neste cenário que os alemães vão às urnas neste domingo, para escolher a formação do Bundestag, o parlamento da Alemanha, que por sua vez nomeará o próximo primeiro-ministro, em substituição a Olaf Scholz. A disputa foi antecipada pela crise político-econômica, uma vez que as eleições deveriam acontecer apenas daqui a sete meses.Leia também: Alemanha não tolerará interferência em eleições, diz Scholz, em resposta a JD VanceLeia também: Carro atropela multidão em Munique e deixa pelo menos 28 feridosAs forças políticas mais relevantes são as mesmas das últimas décadas e a fragmentação já observada em 2021 permanece. Naquela ocasião, os social-democratas do SPD (de cor vermelha) conseguiram montar um governo com o Aliança 90 (os “Verdes”) e o Liberal Democrático (FDP), identificados com o amarelo, levando Olaf Scholz ao cargo de premiê.Devido às cores dessas agremiações, a coalizão ficou conhecida como semáforo.No período de negociações, a mídia alemã costuma dar nomes diferentes às alianças possíveis: em 2017, quase vingou uma coligação Jamaica (preta, amarela e verde). Para este ano, já se falou numa união vermelho e preta que, com a possível aproximação dos amarelos, seria uma aliança Alemanha – devido à bandeira do país.Leia também: “Ressaca eleitoral” e pressão nos governantes; confira as eleições de 2025 pelo mundoVolta da centro-direita?Na última eleição, o “semáforo” retirou do governo a União Cristã Democrata (CDU), partido da ex-primeira-ministra Angela Merkel e que se identifica com a cor preta, que governou por 16 anos ao lado do partido bávaro CSU (que opta pelo preto ou o azul nas propagandas).Essas forças de centro-direita, que perderam por muito pouco há três anos e meio, estão liderando novamente as pesquisas — por pequena margem, é verdade – e há uma chance razoável que Friedrich Merz seja o novo premiê alemão.Assim como em 2021, o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), de cor predominantemente azul, tem mostrado ganho de espaço entre as preferências, desta vez chegando próximo a 20% das intenções de votos. Essa parcela ainda é insuficiente para encabeçar alguma coalizão, mas serve para que algumas de suas pautas sejam ao menos discutidas no Bundestag.Recentemente, Merz permitiu que o CSU unisse forças ao AfD para tentar aprovar uma resolução vinculativa no Parlamento sobre migração, o que irritou Angela Merkel, defensora da política “Brademauer” (o correspondente ao inglês ‘firewall’), que impede uma negociação entre os centristas com os extremistas de direita.Segundo mostram as pesquisas, além desses partidos grandes, existe a possibilidade de alguns pequenos conseguirem umas poucas cadeiras no Bundestag, por regras das eleições que permitem tanto o voto num representante como em uma lista. Os partidos de esquerda BSW, de cor violeta, e The Left (vermelho ou púrpura) podem se aproveitar disso em algumas regiões.Que é Friedrich MerzFriedrich Merz, de 69 anos, é um advogado e ex-integrante de vários conselhos de administração de bancos de investimento. Católico e conservador, ele não é unanimidade dentro de seu partido. Ele teve sua ascensão na hierarquia interna do partido bloqueada diversas vezes por Merkel, afastou-se do CDU e só voltou quando a premiê anunciou em 2018 que não iria mais buscar uma reeleição. Mas Merz fracassou por duas vezes na tentativa de ocupar o lugar de sua rival.Caso chegue mesmo ao poder, o político, famoso por pilotar seu próprio avião, deve imprimir uma atuação mais à direita do que a exercida por Merkel, com propostas de melhorar o bem-estar interno, atrair investimentos estrangeiros, incentivar a energia nuclear e facilitar o fluxo de capital para empresas alemãs. Ele também quer tirar algumas amarras constitucionais de elevação da dívida pública.O cenário corporativo hoje na Alemanha é de grandes grupos industriais lutando com os altos preços da energia — alavancados pela guerra na Ucrânia –, impostos altos desde antes da pandemia, excesso de burocracia e escassez de mão de obra. A icônica indústria automotiva alemã, por exemplo, tem sofrido muito com a concorrência dos veículos elétricos chineses.Espera-se que a resposta da Alemanha à nova investida protecionista por parte dos Estados Unidos – com a nova gestão de Donald Trump – seja de retaliações pontuais.Sobre a Ucrânia, a linha de discurso do político do CDU é similar à de Trump: buscar acelerar conversações de paz com a Rússia e, assim, reduzir a necessidade de liberação de mais bilhões de euros para o esforço de guerra.(Com Project Syndicate, Deutsche Welle, The Economist, Reuters e France 24)The post Em crise política e econômica, Alemanha escolhe o novo Parlamento appeared first on InfoMoney.