A recomendação do JPMorgan para as ações da Camil (CAML3) foi rebaixada “duplamente” de overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda), o que indica que o banco acredita que a empresa terá um desempenho inferior ao do mercado ou de seus concorrentes. Às 11h40 (horário de Brasília) desta terça-feira (25), as ações da companhia enfrentavam queda de 8,52%, sendo comercializadas a R$ 3,76.Entre os principais fatores para essa revisão, o banco cita o aumento da taxa de juros no Brasil, que elevou o endividamento da Camil para um patamar superior a quatro vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). Com isso, a geração de caixa livre da empresa está negativa, ou seja, o dinheiro gerado pelas operações não é suficiente para cobrir despesas e investimentos, aumentando a necessidade de captação de recursos.Outro ponto levantado é a valorização considerada excessiva das ações da Camil em relação ao seu desempenho operacional. O JPMorgan calcula que os papéis estão sendo negociados a um múltiplo de 6,7 vezes o Ev/Ebitda, um indicador que relaciona o valor da empresa (Enterprise Value, ou EV) ao seu Ebitda.Esse número está acima da média do setor, que é de 4,2 vezes, e até mesmo da média histórica da empresa nos últimos cinco anos, de 5,9 vezes. Quando o múltiplo de uma empresa está muito acima do mercado, pode indicar que a ação está cara em relação ao seu desempenho financeiro.Leia tambémIbovespa Ao Vivo: Bolsa sobe com PETR4 e bancos e retoma os 126 mil; VALE3 caiBolsas dos EUA operam mistas em meio a preocupações contínuas sobre guerra comercialA revisão também leva em conta os desafios enfrentados pelos principais segmentos da empresa. No açúcar, a falta de uma estrutura verticalizada — ou seja, sem produção e refinamento próprios — faz com que a Camil dependa de terceiros e enfrente margens mais apertadas. No arroz, um dos carros-chefes da companhia, a previsão de uma colheita maior tende a pressionar os preços para baixo, reduzindo a rentabilidade.A estratégia de crescimento da Camil por meio de aquisições também foi impactada. Com os juros mais altos, a empresa viu sua alavancagem subir (a relação entre dívida e Ebitda), dificultando novos investimentos e atrasando a recuperação dos ativos adquiridos. A tentativa de diversificação para segmentos como massas, café e biscoitos não trouxe os retornos esperados, o que mantém as margens pressionadas.Para avaliar a empresa, o JPMorgan utilizou um modelo de fluxo de caixa descontado (Discounted Cash Flow, ou DCF), que estima o valor presente da companhia com base nas projeções de geração de caixa futura, descontando o custo de capital. O banco assumiu um custo médio ponderado de capital (Weighted Average Cost of Capital, ou Wacc) de 15,1% e uma taxa de crescimento nominal de 2,5% na perpetuidade. Também aplicou um múltiplo-alvo de Ev/Ebitda de 5,5 vezes para 2026, considerando a participação da Camil em categorias de marca, que costumam ter maior previsibilidade de receita.Com base nessas premissas, o JPMorgan estima que o valor justo para as ações da Camil está entre R$ 3 e R$ 6,30, abaixo do preço atual de mercado. Diante desse cenário, o banco decidiu retirar o preço-alvo de R$ 12 por ação que havia estabelecido anteriormente para dezembro de 2024.Apesar dessa visão mais cautelosa, existem fatores que podem favorecer a empresa no futuro. Se a demanda do consumidor se mostrar mais forte do que o esperado, mesmo com inflação elevada e juros altos, a Camil pode ter uma recuperação mais rápida. Além disso, se houver problemas climáticos que reduzam a oferta de arroz, os preços podem subir, beneficiando a empresa. Entretanto, o JPMorgan considera esses fatores incertos e mantém uma perspectiva conservadora para a ação.The post Camil sob pressão: JPMorgan corta recomendação, vê ações caras e CAML3 cai forte appeared first on InfoMoney.