Tentando engravidar? Nem tudo que parece promissor realmente ajuda

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A fertilização in vitro (FIV) é uma das maiores conquistas da medicina moderna. Desde o nascimento do primeiro bebê de proveta, em 1978, a técnica já possibilitou a realização do sonho da maternidade a milhões de pessoas em todo o mundo.No entanto, com o crescimento desse mercado e o surgimento constante de novas tecnologias complementares, cresce também o risco de transformar um tratamento essencial em um processo oneroso, cheio de promessas que nem sempre se sustentam na ciência. Leia mais Após 18 anos de tentativas, casal consegue engravidar com ajuda de IA Quais casos de infertilidade pedem investigação genética? Entenda Congelamento de óvulos: tudo que você precisa saber antes de fazer FIV: o avanço é real, mas é preciso critérioNão há dúvidas de que a fertilização in vitro revolucionou o tratamento da infertilidade. Casais com obstrução tubária, baixa reserva ovariana, fator masculino severo ou causas inexplicadas de infertilidade encontram na técnica uma chance concreta de engravidar. Ao longo dos anos, os protocolos ficaram mais seguros, os laboratórios mais sofisticados e os embriões mais bem acompanhados. A evolução é inegável.Porém, isso não significa que todas as tecnologias complementares agregadas ao processo aumentam, de fato, as chances de sucesso. Procedimentos como hatching assistido, “cola de embrião” e exames genéticos adicionais — muitas vezes oferecidos como diferenciais — precisam ser avaliados com cautela. Em alguns casos, podem ajudar. Em outros, apenas aumentam o custo emocional e financeiro do tratamento, sem beneficiar o resultado.A armadilha das promessas sem evidênciaA Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) já se posicionou de forma clara sobre esse tema: é preciso ter cuidado com o uso indiscriminado de técnicas que carecem de comprovação científica robusta. Segundo a entidade, há um número crescente de métodos oferecidos como “otimizadores de implantação” ou “impulsionadores da fertilidade”, mas que ainda não demonstraram, em estudos controlados, aumento consistente nas taxas de gravidez ou de nascimentos vivos.É o caso, por exemplo, da “cola de embrião” — substância aplicada no momento da transferência embrionária para facilitar a adesão ao útero — e de biópsias adicionais em embriões sem indicação médica clara. Testes genéticos como o PGT-A, quando usados indiscriminadamente em mulheres jovens com embriões morfologicamente normais, também entram nesse alerta. Além de encarecer o processo, podem inclusive reduzir as chances de gravidez se forem mal indicados.Transparência e individualização: o que realmente importaNa medicina reprodutiva, o caminho mais seguro passa pelo equilíbrio. É fundamental que o tratamento seja planejado de forma individualizada, considerando idade, histórico clínico, exames prévios e, acima de tudo, expectativas reais. Nem tudo que é tecnicamente possível é necessário — e, menos ainda, garantido.A relação entre paciente e equipe médica deve ser pautada pela transparência, pelo diálogo e pela tomada de decisão conjunta. É direito do paciente entender o que está sendo proposto, quais são os benefícios reais e quais procedimentos têm respaldo científico. Questionar não é desconfiar — é participar ativamente de um processo profundamente pessoal e emocional.O avanço da medicina reprodutiva é motivo de celebração. Mas ele precisa andar lado a lado com a ética, a informação e o respeito à individualidade de cada paciente. Porque, no fim das contas, mais importante do que multiplicar procedimentos, é multiplicar as chances reais de formar uma família — com ciência, confiança e responsabilidade.*Texto escrito pelo ginecologista Luiz Eduardo T. Albuquerque (CRM-SP 61351 / RQE nº 30799 – RQE nº 307991), especialista em Reprodução Assistida e diretor médico do Centro de Reprodução Humana FertivitroQuer engravidar? Veja como se preparar para aumentar suas chances