Entre avanços e ausências, o Plano Safra exige mais que cifras

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Por mais um ano, o Governo Federal apresenta um Plano Safra robusto em termos de volume: são R$ 516,2 bilhões para a agricultura empresarial e R$ 89 bilhões voltados à agricultura familiar.Em meio à crise fiscal que pressiona as contas públicas e limita a margem de manobra do Estado, o anúncio surpreende positivamente pelo esforço de manutenção — e até ampliação — do crédito rural. Ainda assim, o custo desse crédito é uma preocupação crescente.A taxa básica de juros, a Selic, permanece elevada — reflexo de um ambiente macroeconômico desafiador. Essa realidade afeta diretamente o agro, já que o volume reservado para equalização dos juros não acompanha a escalada da taxa.CONFIRA: Qual a carteira recomendada para o seu perfil de investidor? Simule com o Money Times as melhores opções de investimento para vocêO resultado é um crédito mais caro, que pode sufocar a capacidade de investimento e custeio dos produtores, sobretudo os de menor porte, que têm menos acesso a instrumentos financeiros privados ou a operações estruturadas fora do sistema oficial de crédito.A crítica aqui não é ao plano em si, mas à conjuntura econômica que o limita.A política monetária segue restritiva para conter a inflação, mas seu impacto sobre o agronegócio é concreto: maior custo de produção, menor margem, menor competitividade.Apesar disso, é preciso reconhecer avanços. A ampliação da aplicação do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) como critério para concessão de crédito reforça a importância da gestão de risco e do uso da informação técnica no planejamento agrícola. Essa evolução é bem-vinda e dialoga com uma agricultura mais sustentável e eficiente.Outro ponto digno de nota foi a inclusão, no Plano Safra, da possibilidade de financiamento de equipamentos para prevenção e combate a incêndios em propriedades rurais. Essa é uma inovação relevante em um país que, a cada ano, convive com incêndios de grandes proporções, afetando áreas produtivas, reservas legais e biomas inteiros. Tratar a prevenção como parte do investimento rural é um passo na direção certa.No tocante à agricultura familiar, os R$ 89 bilhões anunciados representam um salto expressivo em relação ao ciclo anterior (que contou com R$ 76 bilhões). O foco nos alimentos da cesta básica é estratégico: fortalece a segurança alimentar nacional e garante renda a quem produz arroz, feijão, leite, mandioca e hortaliças — pilares da dieta brasileira.Contudo, uma ausência importante no anúncio foi a não divulgação do valor destinado à Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). Trata-se de um instrumento essencial para a proteção da renda do produtor frente a eventos climáticos extremos, que se tornam cada vez mais frequentes.Em 2024, o orçamento do PSR já havia sido considerado aquém do necessário. Repetir essa falha compromete a expansão da área segurada e gera insegurança no planejamento das lavouras.Em resumo, o Plano Safra 2025/26 demonstra compromisso com o setor produtivo, traz inovações relevantes e amplia o acesso ao crédito, especialmente para a agricultura familiar. Mas a política monetária atual e a indefinição sobre o PSR colocam em xeque a eficácia plena das medidas.O agro brasileiro precisa de previsibilidade — e isso só será possível quando a gestão de risco for tratada com a mesma prioridade que o volume de crédito ofertado.