Após subir quase 30% em 2024, quando superou a barreira dos R$ 6,00 e atingiu o maior valor nominal da história, o dólar à vista caiu mais de 11% em relação ao real no primeiro semestre e furou o piso de R$ 5,50.Boa parte dos analistas ouvidos pela Broadcast vê espaço para a moeda americana descer a R$ 5,40 no curtíssimo prazo. Casas como Itaú Unibanco, BTG Pactual e MCM 4intelligence reduziram neste mês as projeções para o dólar no fim do ano, mas ainda esperam que a divisa chegue a dezembro acima dos níveis atuais em razão das questões fiscais domésticas.A avaliação dos especialistas é que a tendência de enfraquecimento global da moeda americana deve se manter nos próximos meses. Leia Mais Rumo incerto em inflação de alimentos limita revisão de expectativas Campos Neto nega que problema seja juros e culpa fiscal Como organizar seu negócio para encerrar o ano no azul O índice DXY, termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, cai mais de 10% em 2025. O movimento reflete as desconfianças em torno da economia dos Estados Unidos após a guerra tarifária deflagrada pelo presidente Donald Trump.Além disso, o real vai receber o apoio da permanência da taxa básica de juros em 15% ao ano por “período bastante prolongado”, como já sinalizado pelo próprio BC (Banco Central), o que estimula as operações de carry trade.A grande dúvida é se esses dois pontos favoráveis à moeda brasileira vão conseguir se contrapor à piora sazonal do fluxo cambial ao longo do segundo semestre e a um eventual aumento da percepção de risco fiscal.No fim de junho, com a derrubada pelo Congresso do decreto que aumentava o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), voltou à baila o debate sobre descumprimento das metas fiscais — em particular a de 2026, que prevê superávit primário de 0,25% do PIB (Produto Interno Bruto).Há também um novo ingrediente que pode provocar solavancos na taxa de câmbio daqui para a frente: as apostas em torno da corrida presidencial em 2026.O economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, é um dos pessimistas em relação ao real, embora tenha reduzido no início de junho a previsão de taxa de câmbio no fim do ano de R$ 6,50 para R$ 6,00.A mudança foi para incorporar duas informações ao cenário: a permanência da Selic em 15% ao ano e a perspectiva de continuidade do recuo global da moeda americana — em razão de provável corte de juros pelo Fed (Federal Reserve) neste ano e “desconforto dos investidores” com o quadro político e fiscal dos EUA.“O problema para o real vai ser o aumento do risco soberano do Brasil por conta da preocupação com o crescimento do endividamento público, que estranhamente ainda não está fazendo preço nos mercados. A questão não é nem se o governo vai cumprir as metas fiscais, mas que as metas são insuficientes para evitar o crescimento da dívida em relação ao PIB”, diz Padovani.O economista pondera, contudo, que a percepção de piora das contas públicas pode ter seu efeito mitigado na percepção de risco por apostas de mudança de governo com a eleição presidencial de 2026.“A perspectiva de transição política pode trazer um viés positivo para o real e anular em parte as preocupações com o crescimento do endividamento público. Mas ainda vejo um real mais fraco no fim do ano”, diz Padovani.A MCM 4intelligence é outra instituição que mantém visão cautelosa para o segundo semestre, embora recentemente tenha revisado para baixo a previsão para o dólar no fim do ano, de R$ 5,80 para R$ 5,70. A avaliação da consultoria é a de que as “incertezas fiscais e políticas domésticas”, neste momento com pouca influência sobre o câmbio, “tendem a ganhar protagonismo”.Análise: Empresas adiam IPOs e recorrem a OPAs diante de cenário econômico incerto | CNN MONEY“A fragilidade fiscal do governo federal, particularmente no que concerne ao equilíbrio das contas para 2026, tem sido agravada pelo acirramento da disputa político-eleitoral antecipada, materializada na rejeição pelo Congresso das recentes medidas de ajuste tributário propostas pelo Executivo”, afirma a consultoria.“Em meio à crise de popularidade do governo, esse cenário de confronto tende a persistir e potencialmente se intensificar. O resultado deve ser a perda parcial do vigor recente da moeda brasileira ao longo dos próximos meses.”O economista do Integral Group, Daniel Miraglia, está na ponta mais otimista e acredita que o dólar tem espaço para recuar ainda mais no curto prazo e terminar o ano abaixo dos níveis atuais.Além de a moeda americana permanecer fraca no mundo, com menor risco geopolítico após o arrefecimento das tensões no Oriente Médio e provável corte de juros pelo Fed, o real pode ser beneficiado pela incorporação na taxa de câmbio de um cenário de troca de governo em 2027, segundo ele.Para Miraglia, a derrubada do IOF sugere que parte expressiva do Congresso começa a abandonar o governo Lula, cuja popularidade está em baixa, e a se posicionar para dar apoio a um candidato da oposição, em tese mais comprometido com a austeridade fiscal.Ele chama a atenção para a safra recente de pesquisas eleitorais mostrando candidatos competitivos à direita no espectro político.“Parte do mercado viu essa derrota do governo como um sinal de que Lula não vai vencer a reeleição. Ao mesmo tempo, o Congresso colocou o governo em uma sinuca de bico, recusando a agenda de aumento de impostos e forçando a um contingenciamento maior para cumprir as metas, o que é positivo para os ativos locais”, diz Miraglia.Ele acrescenta que, do ponto de vista de risco e retorno, vê até mais espaço para ganhos com Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-Bs), títulos públicos ligados à inflação, e o Ibovespa.O economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto de Almeida, reduziu em junho a expectativa para a taxa de câmbio no fim deste ano, de R$ 6,00 para R$ 5,50, em razão do enfraquecimento global da moeda americana.Mansueto também diminuiu a projeção para o dólar em 2026, de R$ 6,10 para R$ 5,50, ressaltando que a trajetória do câmbio no ano que vem vai depender de fatores domésticos, “especialmente do processo político e da expectativa de como a próxima administração enfrentará o problema fiscal estrutural”.O Itaú Unibanco revisou em junho as projeções para a taxa de câmbio no fim de 2025 e de 2026 de R$ 5,75 para R$ 5,65. Além da perda de força global do dólar, o real é beneficiado pelo diferencial de juros elevado e por um prêmio de risco relativamente bem comportado.O banco pondera que, diante das dúvidas relacionadas às contas públicas e de um quadro de contas externas pressionadas, optou por uma postura mais cautelosa em suas estimativas.Brasil tem a 2ª maior taxa de juro real no mundo após alta da Selic