Quase 80 caminhões de ajuda humanitária que seguiam pelo sul e centro da Faixa de Gaza foram saqueados por civis neste sábado (31), informou o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, enquanto a fome avança no território palestino.Em um comunicado divulgado na terça-feira (27), o PMA afirmou que 77 caminhões cruzaram a fronteira para Gaza carregados de farinha.Todos eles “foram parados no caminho, com alimentos levados principalmente por pessoas famintas que tentavam alimentar suas famílias”, explicou o PMA.A agência acrescentou que “após 80 dias de bloqueio total, as comunidades estão morrendo de fome – e não estão mais dispostas a deixar a comida passar”. Leia Mais: Israel acusa Hamas de negar proposta de cessar-fogo; grupo rebate Resposta do Hamas é “totalmente inaceitável”, diz enviado de Trump Hamas dá resposta “positiva” sobre cessar-fogo, mas busca emendas ao texto Nahed Shehaibar, chefe da associação, disse à CNN que 20 caminhões transportando farinha foram saqueados perto de Netzarim, no centro de Gaza, e cerca de 50 caminhões de farinha foram despojados de suas cargas em Khan Younis, no sul de Gaza.O PMA afirmou em uma publicação no X que “a situação humanitária em Gaza está se agravando. O fechamento de fronteiras, a fome e o desespero tornaram a entrega de ajuda instável — caminhões são saqueados, pessoas arriscam tudo por um saco de farinha”.“Para restaurar a esperança, aliviar o medo e evitar mais caos, precisamos ‘inundar’ as comunidades com alimentos — agora”, alertou.Vídeos mostraram dezenas de pessoas em Khan Younis carregando sacos de farinha. Cenas semelhantes ocorreram em Netzarim, onde rajadas de tiros podiam ser ouvidas enquanto a multidão corria para pegar os sacos de farinha.Fome se espalha na Faixa de GazaA fome se espalhou em Gaza, e agências da ONU alertam para a iminência de uma crise se não houver aumento drástico na entrada e distribuição de ajuda humanitária no território. Outros saques foram relatados na região.Os Emirados Árabes Unidos disseram na semana passada que apenas um dos 24 caminhões que organizaram havia chegado ao destino planejado.Na semana passada, o caos se instalou quando dezenas de milhares de palestinos famintos chegaram a dois novos locais de distribuição de alimentos administrados pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF).De acordo com o Ministério da Saúde palestino, 11 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas no caso.A GHF, uma fundação privada apoiada por Israel e pelos EUA, afirma que continua a ampliando a distribuição em seus quatro centros no centro e sul de Gaza.A organização pontuou que, neste sábado, distribuiu 30 caminhões de alimentos, totalizando 28.800 caixas, em seu centro em Rafah, no sul de Gaza, e ressaltou que “a distribuição de refeições de hoje foi a maior até o momento e cinco vezes maior que a de ontem”.As agências humanitárias da ONU criticaram o mecanismo de ajuda do GHF, destacabdo que ele viola os princípios humanitários e aumenta os riscos para os palestinos.Philippe Lazzarini, diretor-executivo da UNRWA – a agência da ONU que atende os territórios palestinos – comentou que 900 caminhões teriam sido enviados a Gaza nas últimas duas semanas, desde que o bloqueio israelense foi parcialmente relaxado.A ONU também pontua que está tendo dificuldades para coordenar a distribuição segura da ajuda dentro de Gaza assim que ela chegar.“Isso representa pouco mais de 10% das necessidades diárias da população de Gaza. A ajuda que está sendo enviada agora zomba da tragédia em massa que se desenrola sob nossa supervisão”, postou Lazzarini no X, comparando a quantidade aos 600 a 800 caminhões que chegavam a Gaza diariamente durante o cessar-fogo no início deste ano.“A atual fome em massa pode ser interrompida. É preciso vontade política”, disse ele.Faixa de Gaza é o lugar mais faminto do planeta, afirma porta-voz da ONU | BASTIDORES CNN