«Construir estradas em vez de muros diz mais sobre Cabo Verde do que qualquer outra coisa», defende David Simas

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Grandes mudanças trazem grandes desafios e os tempos geopolíticos que o mundo atravessa são exemplo disso. Para se adaptar, há que ser o promotor da mudança e esperar pela ignição pode ser tarde de mais. «A mudança não acontece se esperarmos por uma pessoa ou por um momento. Nós somos aqueles por quem temos estado à espera. Nós somos a mudança que procuramos».Quem o diz é David Simas, Managing Director de Investigação e Impacto da Emerson Collective e ex-presidente da Fundação Obama, que inaugurou o palco da Leadership Summit Cabo Verde, na Cidade da Praia.A sua talk ‘Cape Verde’s Future: Confidence, Connections, and Global Transformation’ foi o primeiro momento de uma cimeira recheada de conhecimento sobre liderança estratégica, que aconteceu no TechParkCV, nos dias 22 e 23 de maio.Sobre aquele polo tecnológico, Simas não teve rodeios em afirmar que representa a essência de Cabo Verde, na vida e nos negócios. «Já estive em muitos tech parks como este na minha vida e posso garantir-vos que, se qualquer outro tivesse sido construído ao lado de um bairro como este, haveria um muro alto. Aqui, construíram uma estrada. Que visão do potencial humano para a transformação!», referiu, sem conter o entusiasmo.A ideia de construir uma estrada e não um muro diz mais sobre o vosso povo do que qualquer outra coisa O espírito da morabeza estende-se a todos os setores do arquipélagoDavid Simas é filho de imigrantes portugueses e, mesmo tendo nascido nos EUA, fez questão de começar o seu momento em palco a falar português. Relembrou um amigo de infância cabo-verdiano que lhe trouxe os primeiros contactos com a hospitalidade e simpatia daquela cultura.«Até chegar aqui a Cabo Verde, eu não sabia que isso é parte da vossa cultura. Eu nunca tinha ouvido a palavra morabeza», explicou, referindo-se ao sentimento que resume o estilo de vida do arquipélago, sinónimo de calor humano e gentileza.É este sentimento que dá o mote à sua admiração pelo povo cabo-verdiano e pela forma como encaram a liderança. A morabeza transcende a forma de estar de um povo e aplica-se também às empresas e instituições. «Quando não se pode confiar nas coisas que se vendem e podem alavancar, concentramo-nos nas pessoas e no talento. O talento é a magia e o maior ativo que vejo neste momento», esclarece.Adicionalmente, o continente africano esconde um diamante em bruto: a força de trabalho jovem que continua a nascer. «A Europa está a diminuir a sua população, a Ásia Oriental também. Na América do Norte, aconteceria a mesma coisa, exceto no que diz respeito à imigração», explica.O mercado e o grupo de pessoas mais rápidos, mais dinâmicos e mais inovadores do planeta estão prestes a chegar à África Ocidental. Por isso, a forma como se pensava sobre África ou na África Ocidental acabaram.A diáspora é outra das grandes forças de Cabo verde, com uma população extensa que se espalha pelos quatro cantos do mundo. Reforçou ainda a sua proximidade cultural e geográfica com Portugal e Brasil, que pode abrir portas a conexões empresariais. Estabilidade e oportunidade são as competências do futuroNos tempos geopolíticos que o mundo enfrenta, Simas não deixa de reforçar que é uma altura de grandes dificuldades, onde «os sistemas que construímos durante centenas de anos» podem colapsar.Estas ocasiões «trazem uma incerteza tremenda, mas grandes oportunidades para fazer crescer e transformar as nações». «Não se pode desenvolver uma estratégia ou uma liderança sem ter uma visão muito clara e sem rodeios. Uma visão a preto e branco do que é o mundo neste momento», explica.O Managing Director exultou os 50 anos da independência do arquipélago, assinalados a 31 de maio, acrescentando que o país está mesmo na vanguarda do desenvolvimento em África, «com um dos melhores sistemas de ensino e de formação» e «a diáspora como outra força imbatível do arquipélago». São estas as características que podem chamar a atenção do resto do Mundo.Em tempos de incerteza, turbulência e mudança, o que as pessoas dos EUA, da Europa e da China vão procurar é estabilidade. Estado de direito, democracia, liberdade são algumas das coisas mais extraordinárias que notei no meu tempo em Cabo Verde.Sobre todas estas oportunidades, David Simas reforça que o arquipélago tem à sua disposição as ferramentas para atingir grandes objetivos nos anos que se avizinham. «Que fantásticos serão os próximos 50 anos em que poderão transformar não só o vosso povo, mas também a vossa pequena nação numa incrível alavanca global».O conteúdo «Construir estradas em vez de muros diz mais sobre Cabo Verde do que qualquer outra coisa», defende David Simas aparece primeiro em Revista Líder.