3G Capital na Skechers: o que antigos negócios podem contar sobre a estratégia

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Quase um mês após a compra da marca de calçados Skechers pela 3G Capital, pouco de novo foi divulgado pelas partes. Era de se esperar. Sob um perfil de investimento a longo prazo, a gestora de private equity fundada por brasileiros ganhou fama no mercado pelo seu perfil discreto.Seus últimos negócios, no entanto, sinalizam para alguns preceitos.No apagar das luzes de 2021, em 31 de dezembro, a companhia criada pelo trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Herrmann Telles fechou a compra da Hunter Douglas, multinacional holandesa de persianas, cortinas e fabricante de produtos arquitetônicos, por US$ 7,1 bilhões.Pela negociação, Ralph Sonnenberg, da família que fundou a companhia há mais de 100 anos e então co-CEO, assumia a cadeira de presidente executivo. João Castro Neves, sócio da 3G Capital, se tornou o CEO. Era a concretização do fortalecimento de uma relação entre família e gestora que se construiu durante a transação.Na Skechers, os principais cargos executivos continuam na mão da família. Robert Greenberg, atual CEO, e Michael Greenberg, presidente, seguem à frente do negócio. Mas a ideia é a mesma: as condições para a compra da marca de calçados foram alinhavadas em uma aproximação de anos junto à família.Estrategicamente, a complementariedade das visões dos fundadores ajuda a construir o projeto de (muito) longo-prazo que define a filosofia de investimentos da firma com mais de US$ 14 bilhões sob gestão ao fim de 2023. A compra do Burger King pode ser o melhor exemplo disso.Investimento de longo prazoEmbora não se trate da aquisição de uma companhia familiar — na verdade, o Burger King tinha passado por muitas mãos antes de chegar até a 3G Capital –, o padrão foi similar: uma dança das cadeiras nos altos cargos executivos que abre espaço para os sócios colocarem a “mão na massa” com foco em retornos de longo prazo.Em um investimento de aproximadamente US$ 1 bilhão em equity em 2010, a Restaurant Brands International, controladora do Burger King, saltou para um valor de mercado de US$ 28 bilhões, disse o sócio da 3G, Alex Behring, ao podcast “Capital Allocators”, em maio de 2024. As unidades da marca (que incluem também redes como Popeye’s, Tim Horton’s e Firehouse Subs) aumentaram de 12 mil para 32 mil. O retorno aos acionistas foi próximo de 30% ao ano.Nem sempre é assim. Em 2013 a 3G Capital se associou à Berkshire Hathaway para fechar o capital da Kraft Foods. Em 2015, fundiria a companhia com a Heinz. Em 2023, a 3G já tinha se desfeito de toda a sua posição na empresa resultado da operação. A saída ocorreu em prazo curto para os padrões da gestora — há 35 anos na AB Inbev e 15 anos na Restaurant Brands International — e, ao menos no caso da Kraft, ficou no “zero a zero”.O financiamento das aquisições da 3G são feitos majoritariamente com capital próprio somado a um grupo muito seleto de investidores. Para cada nova empreitada, um novo fundo. Foi como aconteceu com a Berkshire Hathaway, do bilionário Warren Buffet. É o que ajuda a companhia a sustentar uma tese mais longa.“Ao contrário das empresas de private equity clássicas, a 3G não tem apego à visão de curto prazo, sem pressão para pagar dividendos, desinvestir ou fechar negócios só por fechar negócios”, diz o professor adjunto da London Business School, Dominic Houlder.Um estudo da McKinsey mostra que a captação no mercado de private equity caiu 24% em 2024 na comparação com o ano anterior, terceira queda consecutiva. Não é incomum que a gestora decida por fazer negócios quando o mercado está em baixa — e com longos espaços.Quando comprou a Hunter Douglas, o último investimento da 3G Capital havia sido em 2015, com a Kraft Heinz. O negócio pelo Burger King ocorreu cinco anos antes, em 2010, pouco depois da crise do subprime nos Estados Unidos.A diferença de alguns anos entre um investimento e outro será mantida após a aquisição da Skechers, e a 3G não sinaliza para novas empreitadas em curto prazo. “Nossa equipe na 3G Capital foi criada para fazer parcerias com empresas como a Skechers”, disseram Alex Behring, cofundador e sócio-gerente, e Daniel Schwartz, sócio-gerente da 3G Capital, no anúncio de aquisição.The post 3G Capital na Skechers: o que antigos negócios podem contar sobre a estratégia appeared first on InfoMoney.