IOF sobre fundos preocupa mercado, mas gestores veem espaço para adaptação

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A discussão sobre a nova taxação do IOF (imposto sobre operações financeiras) em operações com risco sacado e seus efeitos nos fundos de investimento ainda divide opiniões entre os gestores. No programa Stock Pickers, apresentado por Lucas Collazo, os convidados Guilherme Legatê, gestor da Root Capital, e Marcelo Urbano, sócio-fundador da Augme Capital analisaram as consequências das mudanças tributárias e como as gestoras estão ajustando seus portfólios diante do novo cenário regulatório.Segundo Legatê, os fundos da Root têm pouca exposição a FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) com estrutura de sedente – e, por isso, os impactos do novo IOF não são tão diretos. “A gente acaba ficando até um pouco mais por fora dessa discussão”, disse, explicando que os fundos da casa não carregam operações típicas de risco sacado. Ainda assim, ele reconhece que o tema tem preocupado o mercado. “O investidor olha para o FIDC e pensa: será que vou ser taxado? Vai virar problema?”, pondera.Urbano complementou dizendo que a discussão gira em torno da caracterização do que é dívida. Para ele, a decisão do governo de tributar operações com risco sacado como se fossem empréstimos pode ter origem no caso das Lojas Americanas. “Eles tinham um título de 90 dias que era rolado, virava um de 12 meses e acabava sendo uma dívida de fato”, apontou. No entanto, ele discorda da generalização: “Uma operação de risco sacado típica não é dívida. É um título de crédito com anuência da empresa devedora, sem obrigação da fornecedora original”.Leia mais: Microsoft (MSFT34): a gigante tech imune à volatidade americana, segundo a GenoaE também: Genoa: Inteligência artificial muda mercado e força gestores a reverem estratégiasImpacto sobre duplicatas Um ponto de alerta levantado por Urbano é o possível efeito da nova alíquota do IOF sobre fundos que compram duplicatas com prazos curtos. Embora o gestor admita não lembrar o número exato da nova alíquota para pessoa jurídica, ele destaca que, se o IOF chega a 2,5% e a taxa da duplicata gira em torno de 3% ao mês, a rentabilidade líquida para o comprador do crédito pode ficar comprometida. “Você vai ter que cobrar mais caro. Isso vai encarecer o custo para quem está vendendo o título”, analisa.Na avaliação dos gestores, esse cenário pode forçar uma adaptação: fundos alongando os prazos das operações ou buscando estruturas como CCBs (Cédulas de Crédito Bancário) ou debêntures privadas. “Talvez as operações fiquem mais caras para os sedentes”, afirma Urbano, prevendo que o movimento seja de reprecificação de risco em função do novo custo tributário.Alocação e estratégia Legatê detalhou a estratégia da Root Capital diante desse ambiente mais desafiador. A casa administra cerca de R$ 1,3 bilhão, com destaque para o fundo Haywood, um D+180 voltado a crédito estruturado. Segundo ele, a estratégia da Root não é necessariamente buscar ativos de maior risco, mas capturar o chamado prêmio de liquidez – o rendimento adicional por investir em ativos menos líquidos.“Nossos fundos são divididos por prazo de liquidez. O Haywood tem seis anos de histórico e já passou por momentos como o Covid e o caso Americanas. Hoje, temos o carrego mais alto da história do fundo, por volta de CDI +6%”, diz Legatê. Apesar do cenário desafiador, o fundo mantém 20% em caixa, pronto para aproveitar novas oportunidades.O gestor destaca que, mesmo sem alongar o duration – medida de sensibilidade do ativo à variação dos juros –, é possível alcançar rentabilidades elevadas com operações estruturadas e garantidas. “Nosso foco tem sido crédito estruturado, que permite mais carrego sem precisar alongar demais o prazo”, explica.Ritmo de alocação A preferência da Root Capital tem sido clara: ativos mais curtos, mais ilíquidos e com maior garantia. A gestora tem intensificado alocações em operações de crédito estruturado desde o fim de 2023, quando o mercado de crédito high grade passou a ficar mais estreito. “As operações abriram e fecharam muito rápido. A gente entendeu que era hora de migrar o portfólio”, relata Legatê.O movimento não foi isolado. Com o fechamento de spreads em ativos de melhor qualidade, diversas gestoras vêm buscando alternativas com mais garantias, maior retorno e menos dependência de liquidez imediata. A aposta em ativos com maior carrego – mesmo com mais risco de crédito – pode ser a chave para navegar o cenário atual de incerteza fiscal e regulatória.“Hoje, preferimos crédito estruturado. No D+180, D+360 e no fundo Figueira, temos a possibilidade de capturar mais esse prêmio de liquidez. E vamos manter o foco nisso”, conclui Legatê.The post IOF sobre fundos preocupa mercado, mas gestores veem espaço para adaptação appeared first on InfoMoney.