«África precisa de equilíbrio socioeconómico», realça Mónica Sofia Duarte

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Mónica Sofia Duarte chegou ao palco com uma mensagem simples: é possível transformar o país com conhecimento, persistência e propósito. Mas não basta sonhar — é preciso fazer. Na 3ª edição da Leadership Summit Cabo Verde, a cabo-verdiana falou com a voz de quem sabe o que custa construir.«Nasci em Santa Cruz. Um dos concelhos mais pobres de Cabo Verde. E quando digo mais pobre, é mais pobre mesmo.» Foi assim, e num registo sem floreados nem falsa modéstia, que a Investidora da Diáspora iniciou o seu discurso.«Acordava às cinco da manhã, andava onze quilómetros para a escola e outros tantos para voltar».  Mais de vinte anos depois, é engenheira física e financeira, viveu doze anos na República Checa, quatro em Portugal, e regressa a Cabo Verde com um discurso diferente dos habituais: não pede mudança — propõe e faz. Este foi o mote da sua talk titulada ‘Investir com Propósito: Como a Diáspora Pode Financiar a Transformação Real de Cabo Verde‘.Hoje lidera dois instrumentos que criou de raiz: a Duarguema Investment, com o objetivo declarado de se tornar o primeiro banco da diáspora, e a Fundação Nayé, com sede na zona de Cancelo, Santa Cruz, focada em programas sociais, transportes escolares e construção de uma nova maternidade. «Comecei com zero. Sem dinheiro, mas com muita vontade. Não existe dificuldade maior do que a força de vontade. Essa é a minha verdade.»A sua intervenção foi uma mistura crua de biografia, apelo e provocação. «Vivi e trabalhei mais de dez anos na gestão de fundos privados, focada no setor imobiliário, num dos mercados mais competitivos da Europa. Mas percebi que o conhecimento e a experiência que estava a aplicar lá fora faziam muito mais falta aqui.»É aí que entra o seu propósito. «O meu regresso não foi emocional. Foi racional. Estudei os dados. Avaliei as lacunas. E percebi que a maior falha de Cabo Verde não é a falta de dinheiro — é a falta de articulação. A diáspora tem poder económico. Mas ainda tem medo de investir. E enquanto isso, o capital estrangeiro ocupa o espaço.»A franqueza e as palavras blandiciosas de uma filha da terraÉ com uma franqueza rara que aponta o que está por fazer. O país não precisa de mais discursos sobre esperança. Precisa de projetos concretos. Precisa de estrutura. Precisa de mulheres e homens que não esperem por apoios, que venham com a coragem de começar sem nada. Nas suas palavras, «infelizmente, 90% da população africana ainda não entendeu isto: a África está como está porque falta equilíbrio. Um equilíbrio socioeconómico real. Sem isso, não há desenvolvimento possível. Nem justiça. Nem futuro.»Para inverter a tendência, Mónica Sofia Duarte olhou para as suas raízes com atenção redobrada. E, a partir daí, começou algo novo. A Fundação Nayé, a qual fundou, já transporta dezenas de crianças por dia, apoia famílias carenciadas em Santa Cruz e São Domingos, e está a construir uma maternidade. «Não fazemos caridade. Fazemos investimento social. Só assim existe crescimento sustentável.»No setor privado, lidera também a Cabo Verde Real Estate, com presença no Sal, Boa Vista e Santiago. Mas não aceita o estigma: «O imobiliário não é só construção. É ordenamento. É emprego. É base para o turismo, para a habitação, para a fixação de pessoas no território.»Uma das frases mais fortes da manhã foi dita quase de passagem e logo ao início: «Não vim vender ideias. Vim mostrar resultados. Não usei o ChatGPT para preparar esta apresentação — não porque não conheça a ferramenta, mas porque não preciso de inteligência artificial para contar o que vivo todos os dias no terreno.»No fundo, é como estar a ver a casa a arder e continuar a discutir se compramos baldes ou mangueiras. A transformação de Cabo Verde depende da coragem e de assumir responsabilidades.Veja a galeria de imagens completa do evento aqui.O conteúdo «África precisa de equilíbrio socioeconómico», realça Mónica Sofia Duarte aparece primeiro em Revista Líder.