O ser humano é um ser tribal. No passado, confiar só no seu clã era questão de vida ou morte: se “eles” ganhavam, “nós” perdíamos. Nosso cérebro ainda carrega esse reflexo de soma zero. O liberalismo nasceu para quebrar essa lógica: trocas voluntárias podem beneficiar todos, e a lei deve valer igual para qualquer pessoa, não importa onde nasceu. Como essas ideias vão contra o instinto, os liberais sempre foram minoria. Para mudar leis e governos, precisaram de alianças. No fim do século XIX, juntaram-se à esquerda para conquistar voto universal, laicidade e fim dos privilégios de sangue. Depois da Segunda Guerra, o foco virou a disputa “mercado vs. socialismo”. A parceria com conservadores rendeu privatizações e globalização nas gestões de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e de Margaret Thatcher, no Reino Unido. Nos anos 1990, a “terceira via” de Bill Clinton, Tony Blair e Fernando Henrique Cardoso misturou mercado aberto com rede de proteção social — e foi o auge liberal.A crise de 2008 quebrou esse encanto. Desemprego, desigualdade e redes sociais turbinaram de novo o discurso tribal: “povo contra elite”. À direita, cresceram nacionalistas como Donald Trump, Giorgia Meloni e Marine Le Pen. À esquerda, ressurgiram vozes antimercado como Bernie Sanders e Jeremy Corbyn. Fora das democracias, Vladimir Putin e Xi Jinping lideraram o ataque ao liberalismo global.No Brasil, lulismo e bolsonarismo dominam a cena. Ambos são personalistas, atacam instituições quando incomodam e tratam quem discorda como inimigo. O eleitor que não cabe em nenhuma dessas torcidas acaba escolhendo o “menos pior”, e movimentos liberais racham tentando sobreviver em coalizões que exigem sacrificar parte de seus valores.Mas não precisa ser assim. Em 2026, o centro democrático pode romper com os dois polos e montar uma frente que defenda livre mercado, responsabilidade fiscal e uma rede de segurança bem-feita. Precisamos conseguir unir centro-esquerda e centro-direita em uma coalizão democrática e pragmática que rejeite tanto o lulismo quanto o bolsonarismo, porque a última década nos mostrou que nenhum dos dois funciona. E precisamos também continuar defendendo e disputando as instituições: um Banco Central independente, agências reguladoras competentes e um Judiciário que volte a ser confiável são mais valiosos que qualquer ganho eleitoral de curto prazo. Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp! WhatsApp O liberalismo sempre viveu da coragem de negar o tribalismo e da habilidade de costurar maiorias. A coragem segue igual, a costura ficou mais difícil num mundo de algoritmos que premiam raiva e rótulos. Mesmo assim, se quisermos preservar a prosperidade que o livre comércio e direitos iguais trouxeram, precisamos aprender de novo a liderar alianças, mas sem entregar nossa alma às tribos.* Monica Rosenberg é advogada, comentarista da Jovem Pan e líder Livres Leia também O gigante acordou?