Nascido na região da Cracolândia, no centro de São Paulo, Igor Morais, fundador da rede Kings Sneakers, é o retrato de um empreendedor que venceu por insistência e visão de oportunidade. Inspirado pelo pai, um nordestino que deixou o Maranhão para tentar a vida em São Paulo e acabou montando uma pequena rede de bancas de jornal, Igor descobriu cedo que seu caminho passaria longe do emprego formal. Aos 15 anos, decidiu começar um negócio próprio, mesmo sem nenhum dinheiro no bolso. Pediu R$ 300 emprestados a um amigo e prometeu devolver o dobro em um mês. Com o valor, comprou CDs no centro da cidade e revendeu na Galeria do Rock — no mesmo dia, já tinha transformado o investimento inicial em R$ 600.“Eu fui um sobrevivente”, relembra em entrevista ao Do Zero ao Topo, programa do InfoMoney que conta a história dos empreendedores e empresários por trás das maiores empresas do país. “Nasci e cresci numa kitnet de 20 metros quadrados com meus irmãos. Meu pai sempre dizia que a gente nunca tiraria carteira de trabalho, e isso ficou na minha mente”, conta Morais em entrevista à apresentadora Mariana Amaro.Leia mais: Expansão nacional e novos produtos marcam a nova fase da Liv UpA influência da família e os primeiros passos no comércioA infância difícil moldou seu espírito empreendedor. Ele relata que o pai o “jogou na fogueira cedo”, já que com 10 anos ele já trabalhava numa loja de discos, e com 12 gerenciava dois vendedores. “Enquanto meus amigos brincavam na rua, eu trabalhava. Foi doloroso, mas me preparou pra vida”Ao lado da mãe, também maranhense e extremamente trabalhadora, a família se dividia entre o comércio e os cuidados com os filhos. “Meu pai era boêmio, ficava nos bares do centro contando histórias e ouvindo música, mas minha mãe segurava tudo. Eles eram uma dupla de muita sintonia”, lembra. Apesar das adversidades do ambiente — violência, criminalidade e pobreza —, ele salienta que os pais sempre reforçaram valores como honestidade e esforço.Leia tambémTrump diz que EUA iniciarão negociações com China sobre acordo do TikTok nesta semanaAs decisões sobre a venda da rede social ocorrem desde o ano passado Lula defende fim de combustível fóssil, mas ‘não abrirá mão para outros explorarem’Lula disse estar orgulhoso da Petrobras e que é necessária uma transição energética responsávelDa loja de CDs ao desejo de vender streetwearA trajetória como empresário teve início com a New Records, uma loja de CDs especializada em rap nacional e black music, localizada na icônica Galeria do Rock. Com um capital acumulado de R$ 20 mil, fruto das vendas dos CDs raros, Igor investiu tudo em um pequeno ponto comercial na loja 34 — número que considera seu amuleto da sorte.“Eu sempre tive uma visão voltada para o desejo. Queria vender o que ninguém vendia, os CDs raros que todo mundo procurava. Depois pensei: se vou vender música, por que não vender também o estilo que a acompanha?”O interesse pela cultura de rua, sobretudo pelo que os rappers usavam nos Estados Unidos, fez Igor começar a estudar o mercado de moda urbana, ainda nos anos 90, comprando revistas importadas e observando as tendências que não chegavam ao Brasil.Leia também: A lição de Guilherme Benchimol aos empreendedores: é preciso se transformar sempreA virada: os sneakers entram na vitrineFoi em um outlet, por acaso, que Igor teve a sacada que mudaria sua vida. Viu tênis raros da Nike por preços baixos, comprou com o limite de mil reais do cartão de crédito e colocou os modelos na vitrine da loja, entre os CDs. Vendeu todos no mesmo dia. “Ali eu entendi que eu queria trabalhar com moda e tênis”, diz. O desafio era conseguir estoque, já que não tinha acesso direto às grandes marcas. Comprava nos outlets, revendia e reinvestia tudo. Em pouco tempo, metade da loja já era ocupada por sneakers.A persistência chamou a atenção da própria Nike. Um executivo da marca visitou sua loja e, mesmo diante do improviso e da estrutura modesta, deu a Igor um crédito inicial de R$ 5 mil. “Eu falei pra ele: minha grana é contada, mas eu sou conhecedor. Acredita em mim.” Deu certo. Hoje, a Kings Sneakers compra mais de R$ 100 milhões por ano só da Nike.O fundador da Kings Sneakers, Igor Morais, no programa Do Zero ao Topo (Divulgação/InfoMoney)O nascimento da Kings e o plano de expansãoA marca Kings Sneakers surgiu como uma loja especializada em streetwear e cultura urbana, com uma proposta ousada: unir moda, música e autenticidade em um mesmo espaço. “Eu queria colocar um DJ tocando na loja todo sábado. Queria criar uma cultura, não só vender produto”, explica Igor. A estratégia de vender desejo e se diferenciar pela experiência deu tão certo que ele logo pensou em franquear o negócio.“Eu nasci pra ter uma rede de lojas, mas não tinha dinheiro. Então veio o plano de franquia”A ideia foi estruturada com base no que observava no comportamento dos consumidores, no poder da música e da moda como expressão da juventude periférica, e na escassez de lojas segmentadas no Brasil.Leia mais: Saiba como a VTEX virou gigante do e-commerce com fusão firmada “na palavra”De vendedor de CDs a referência nacional em moda urbanaHoje, a Kings Sneakers conta com mais de 160 unidades espalhadas pelo Brasil e faturou mais de R$ 350 milhões em 2024. É referência no segmento de moda urbana e calçados esportivos, liderando vendas de modelos icônicos como o Air Force 1 — o mesmo tênis que Igor prometeu à Nike que dominaria no país.Mesmo com o sucesso, ele afirma ter aprendido, nos últimos anos, a equilibrar trabalho e vida pessoal. “Até cinco anos atrás, eu trabalhava de domingo a domingo. Agora entendi que preciso viver. Fico muito com minha família e meus filhos.”A história completa está registrada no livro Nada Vem Fácil, publicado pelo próprio empreendedor.Leia também: “Eu consegui humanizar a Faria Lima”, diz humorista criador do personagem Jorginho“O óbvio só é óbvio quando você sabe a resposta”Se há uma frase que resume a filosofia de Igor Morais, é essa. Para ele, o segredo do sucesso está em observar comportamentos, identificar desejos e agir rápido. “Parece simples, mas não é. Só que pra mim, foi. Eu sabia quem tinha os CDs raros e quem queria comprar. Só conectei as pontas. E é isso que o empreendedor tem que fazer: conectar oportunidades com coragem”, comenta. E coragem nunca faltou ao ex-camelô que fez da Galeria do Rock o seu primeiro quartel-general. “A gente saiu do nada, com um empréstimo de R$ 300, e hoje temos uma das maiores redes do Brasil. Mas o que realmente importa é que tudo isso foi construído com verdade e com alma. Porque nada vem fácil”, conclui Morais. The post De R$ 300 a R$ 350 mi: o camelô da Galeria do Rock que virou gigante do streetwear appeared first on InfoMoney.