Apenas 15% das escolas públicas brasileiras têm psicólogos

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Lei que prevê profissionais em toda rede pública só será cumprida em 2058 se país seguir o ritmo atual de contratações. Apenas 15% das escolas públicas brasileiras têm psicólogosRicardo Wolffenbüttel/Secom/DivulgaçãoApesar da saúde mental dos estudantes ter se consolidado como um grande tema no ambiente educacional, apenas 15,7% das escolas públicas brasileiras possuem psicólogos. O dado é do Censo da Educação, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).Eles mostram que ainda há um grande caminho para o cumprimento da Lei nº 13.935/2019, que assegura a presença de psicólogos e assistentes sociais na rede básica de ensino. Se o ritmo atual das contratações dos profissionais seguir pelos próximos anos, demorará 33 anos para que todas as escolas sejam contempladas.Isso porque desde quando a Lei foi sancionada, em dezembro de 2019, o avanço foi lento: 2,47 pontos percentuais por ano. Em 2020, os psicólogos estavam presentes em 5,8% das escolas da rede básica. A coordenadora pedagógica Renata Grinfeld, que atua na Roda Educativa, organização que desenvolve ações para melhoria de práticas educativas na rede pública de ensino, pontua que as escolas devem ser um espaço onde estudantes encontrem uma rede de proteção dos seus direitos. "Isso impacta o desenvolvimento emocional, físico e cultural. Se a criança ou adolescente não se sente ouvida na escola, ela pode se sentir ouvida em outros ambientes que não são positivos, como em algumas plataformas de internet”, diz Grinfeld. Segundo ela, é necessário que a escuta no ambiente educacional ocorra como parte da rotina.Os maiores desafios, no entanto, passam pela questão orçamentária, assim como por uma mudança de mentalidade da sociedade. "É preciso uma mudança cultural. A gente tem uma herança de que é melhor não falar, melhor deixar pra lá", completa.Em nota, o Ministério da Educação (MEC) disse que acompanha, monitora e apoia a expansão e a melhoria contínua dos serviços de psicologia e serviço social que devem ser disponibilizados pelas redes de ensino. A pasta cita o Programa Saúde na Escola, além de um Grupo de Trabalho “com o objetivo de coligir e sistematizar subsídios e recomendações para a aperfeiçoar e fortalecer a implementação da Lei nº 13.935/2019”.VEJA TAMBÉM:Nas escolas sem notas e sem provas, quais alunos se dão bem?Disparidade nas redes estaduaisComo apontam os dados, a situação é ainda mais complicada nas redes estaduais. Além disso, a disparidade entre as redes de ensino de alguns estados chama atenção. No Rio Grande do Sul, por exemplo, somente uma a cada mil escolas possuem psicólogos à disposição dos alunos. O estado gaúcho é o pior colocado entre todos do país. A GloboNews entrou em contato com a Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul, mas não obteve resposta.Em seguida, vem o Paraná, onde apenas 0,3% das escolas estaduais possuem psicólogos, e o Rio Grande do Norte com somente 0,5%.Segundo a Secretaria da Educação do Paraná, no entanto, 300 psicólogos e assistentes sociais foram contratados em fevereiro de 2024, após a coleta de dados do Censo Escolar. Já a lista dos estados que mais possuem psicólogos na rede estadual de ensino é formada por Alagoas (52,9%), Tocantins (60,7%), Espírito Santo (65,1%) e Pará (45,90%). Já São Paulo, quinto da lista, esse número é de 24,90%, de acordo com o Inep.A psicóloga educacional Verônica Custódio, que atende em escolas da rede estadual de São Paulo, explica que o atendimento é feito somente em grupos de cerca de 10 alunos, e não de maneira individual. "A maioria dos alunos que fazem parte dos meus grupos de atendimento é a própria escola que seleciona, e todos com algum motivo específico. Através do grupo, vou conhecendo melhor os alunos, vendo as dificuldades e percebendo quem precisa de apoio", explica.Ela ainda que detalha que, quando percebe que um aluno está com alguma dificuldade emocional ou em algo que esteja para além da escola, os pais são chamados para fazer um encaminhamento para uma Unidade Básica de Saúde (UBS), para que ele consiga receber atendimento individualizado.Verônica também atua em mais de uma unidade. Em São Paulo, um mesmo profissional atende em até oito unidades. São 650 psicólogos, de acordo com dados do governo.A psicóloga educacional complementa que o papel dos pais nesse processo é fundamental: "apelo aos pais que participem da vida dos seus filhos. E reforço que a escola está ali para apoiar, não para apontar o dedo".