Deputados e senadores do PT enviaram R$ 5,5 milhões em emendas parlamentares para a fundação que administra a TV dos Trabalhadores (TVT), canal de notícias alinhado ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).Os recursos foram encaminhados ao longo de sete anos por 21 políticos políticos petistas. Entre eles, estão os atuais ministros Alexandre Padilha (Saúde), Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário).Segundo Maurício Júnior, diretor e membro do conselho da TVT, a Fundação Sociedade, Comunicação, Cultura e Trabalho, responsável pelo canal, é custeada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, e “os recursos das emendas são complementares para a criação de novos quadros e programas que tenham, como objetivo principal, a comunicação pública e educativa”. Leia também São Paulo Bancada evangélica promove cidade paulista a “paraíso” das emendas Pix São Paulo CGU investigará emenda de deputado para recapear condomínio onde mora São Paulo Por que a Faria Lima está preocupada com a eleição do PT São Paulo Com medo de avanço bolsonarista, PT cogita lançar Haddad ao Senado Júnior disse, ainda, que as emendas financiam projetos que mostram “o Brasil real, com suas periferias, juventudes, mulheres, povos do campo e comunidades tradicionais”.“Essas produções fortalecem a democracia, ampliam o acesso à informação de qualidade e contribuem para a construção de uma comunicação mais inclusiva e plural. Sem esse apoio, muitas dessas histórias deixariam de ser contadas — e, com elas, perderíamos narrativas essenciais para entender e transformar a sociedade brasileira”, disse o diretor da TVT.Os diretores do canal buscam parlamentares de esqeurda para mostrar os projetos que são formulados anualmente pela TV. Deputados e senadores retornam os contatos com a rede de televisão e “explicam como as verbas podem ser destinadas para esses objetivos”, segundo Maurício.A TVT faz parte da Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP) e firmou convênios com a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), durante os governos petistas. Um dos contratos, de 2010, teve duração de 10 anos para transmitir a programação da RNCP. Em 2023, com a volta do PT ao Palácio do Planalto, o canal firmou um novo contrato com a EBC.No fim de 2024, a TVT fez dois novos convênios com a estatal de comunicação. Um deles, no valor de R$ 1,8 milhão, foi para “aquisição de equipamentos para aprimorar as operações da TVT”. Outro, de R$ 800 mil, tem como objeto a “produção de 100 programas jornalísticos inéditos”. Os R$ 2,6 milhões dos dois contratos foram pagos com emendas parlamentares.Ministros enviaram recursosA atual ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, foi uma das parlamentares que bancou os convênios da TVT com a EBC. A equipe da SRI confirmou a destinação das emendas, mas não respondeu se o repasse tinha um viés eleitoreiro por causa da linha editorial da TVT.Eleita pelo Paraná, Gleisi enviou, em fevereiro deste ano, R$ 250 mil para a TV ligada aos sindicatos paulistas. Em abril de 2023, a deputada já havia enviado R$ 100 mil à TVT.Já a assessoria do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que enviou emendas à TVT em 2021 e 2023, disse, por meio de nota, que “a TVT tem programação educativa, não se trata de um veículo comercial nem partidário”.“Todas as emendas de Alexandre Padilha, enquanto deputado, foram amplamente declaradas no Portal da Transparência, sem qualquer questionamento dos órgãos de controle”, completou.O deputado Paulo Teixeira informou que enviou emendas para a produção de 12 episódios sobre culturas e artes periféricas. Ele destinou, em 2021, R$ 100 mil, e disse, por meio de nota, que o mérito da emenda foi aprovado pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).“A análise do mérito, do interesse público e da legalidade do objeto proposto são responsabilidade do poder Executivo, assim como o empenho e o pagamento da emenda, no caso, a Secretaria Nacional de Cultura do governo Bolsonaro”.Em dezembro de 2023, quando já havia assumido o Ministério do Desenvolvimento Agrário, ele destinou mais R$ 100 mil à fundação que gere a televisão. “A TVT cumpre uma função social importante, o que justifica os repasses”, diz a nota.O que é a TVTA origem da TVT é datada de 1983, quando Lula, então diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, voltou de uma viagem da Europa com uma câmera.Em 1984, o sindicato criou um departamento de vídeo financiada por meio de convênio com uma entidade holandesa. Três anos depois, o sindicato pediu a concessão de um canal de TV, que foi negado pelo governo federal. Em 1994, durante nove meses, o sindicato manteve um programa, com horário comprado na grade de programação da TV Record.Em 2010, a TVT foi inaugurada como uma emissora de televisão, fundada por Elizeu Marques da Silva, sindicalista que morreu em 2013.Embora a Fundação Sociedade, Comunicação, Cultura e Trabalho seja dirigida na prática pelo conselheiro Maurício Júnior, o presidente oficial é Paulo Roberto Salvador.Em 2020, Paulo Salvador virou réu no âmbito da Operação Lava-Jato. Ele administrava a Editora Gráfica Atitude, e foi acusado de, por meio da empresa, “lavar” R$ 2,4 milhões, lastreados em dois contratos contratos de 2010 e 2013.Em setembro de 2025, Salvador deve deixar a presidência da fundação que gere a TVT e Maurício Júnior deverá ser empossado como presidente.Autores das emendas defendem acesso à informaçãoOs parlamentares que mais enviaram recursos à fundação por meio de emendas foram o senador Jaques Wagner (PT-BA) e o deputado federal Alfredinho (PT-SP), que destinaram R$ 500 mil, cada.Ao Metrópoles, Alfredinho disse que o valor enviado à TVT é “muito inferior” aos milhões de reais em emendas que ele manda para custeio da saúde. Ele reforça que a destinação das emendas para a fundação foi “dentro da legalidade” e que tem certeza de que o recurso contempla o plano de trabalho apresentado pela TVT.“Destinei porque eu tenho uma origem no setor metalúrgico E conheço o trabalho que a TVT faz já de alguns anos, e só destinei porque sei que eles fazem um trabalho sério”, afirmou o parlamentar.O senador Jaques Wagner afirmou, em nota, que “sempre incentivou a comunicação pública e alternativa no país com o objetivo de promover a democratização dos meios de comunicação e o livre debate público”. Wagner não explicou porque encaminhou recursos a uma fundação paulista, embora tenha sido eleito pela Bahia.Outra emenda é da deputada Benedita da Silva (PT-RJ). Ela defendeu que o repasse é importante para “garantir o acesso da população à informação de qualidade”, uma necessidade para garantir direitos “em tempos de desinformação em massa”.Por meio de nota, a petista também afirmou que as emendas enviadas para São Paulo “reflete o seu compromisso sólido com o setor cultural não somente no Rio de Janeiro, mas em todo o país”.