Especial redeGIFE: Tecnologia sem equidade: os novos contornos do analfabetismo no Brasil

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Voltar para o siteESPECIAL REDE GIFETecnologia sem equidade: os novos contornos do analfabetismo no Brasil No Brasil, quase 30% da população é analfabeta funcional, e a ascensão das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) têm transformado o ensino e a aprendizagem.  Especialistas apontam como o Investimento Social Privado (ISP) pode ser um ator fundamental, com potencial para fortalecer políticas públicas, fomentar inovações pedagógicas e garantir equidade no acesso às ferramentas digitaisEm um país como o Brasil, em que quase 30% da população é analfabeta funcional, os desafios da alfabetização ganham novas camadas na era digital. A ascensão das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e da Inteligência Artificial (IA) tem transformado o ensino e aprendizagem, mas também escancarado as desigualdades refletidas de maneira contundente nas salas de aula.Para Bartholomeu Silva, superintendente do Instituto Fefig, o Brasil tem feito esforços para reverter esse cenário. O problema, no entanto, é que, até muito recentemente, os municípios eram deixados muito sozinhos, inclusive do ponto de vista de alfabetização dos estudantes na idade recomendada.“Temos um grande caminho pela frente, porque também temos um dever histórico de reverter o analfabetismo funcional entre adultos. Temos avançado, mas ainda estamos longe de ter políticas integradas para zerar o analfabetismo no Brasil.”Já Isabela Tubero, gerente do Instituto Yduqs, lembra que, ainda que a redução da taxa de analfabetismo para 5,3% em 2024 seja um avanço, não podemos perder de vista que 9,1 milhões de brasileiros com 15 anos ou mais ainda não sabem ler e escrever.“Programas de alfabetização voltados para jovens e adultos têm o potencial de quebrar ciclos de pobreza, proporcionando novas perspectivas de futuro. Promove não só a melhora na qualidade de vida do ponto de vista individual, mas também a redução de desigualdades sociais do ponto de vista coletivo.”Dados recentes do INAF (Indicador de Alfabetismo Funcional) mostram que três em cada 10 brasileiros entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais no Brasil, além disso o indicador também trouxe dados sobre o desempenho digital das pessoas que participaram da pesquisa. Nesse sentido, 60% dos analfabetos funcionais tiveram baixo desempenho no contexto digital. 96% dos que nunca frequentaram a escola pontuaram com o nível mais baixo de resultado; os que possuem ensino médio alcançaram 25% no nível mais alto; e com ensino superior, 39%.0%dos analfabetos funcionais tiveram baixo desempenho no contexto digital0%dos que nunca frequentaram a escola pontuaram com o nível mais baixo de resultadoos que possuem ensino médio alcançaram 0%no nível mais alto e com ensino superior0%DesafiosUma realidade que, de acordo com Sônia Dias, gerente de Desenvolvimento e Soluções do Itaú Social, chama atenção para as desigualdades que atravessam a educação brasileira. Em 2024, a Pnad Contínua Educação do IBGE apontou que a maior parte dos analfabetos está na região Nordeste (55,6%). A desigualdade racial também aparece como um fator relevante, já que entre as pessoas de 15 anos ou mais, 3,1% dos brancos eram analfabetos, enquanto a taxa foi de 6,9% entre negros. “A falta de acesso a dispositivos, conectividade e formação digital de qualidade tende a aprofundar desigualdades já existentes, especialmente em territórios periféricos e rurais. O risco é consolidar uma nova camada de exclusão: a exclusão digital, que compromete o pleno exercício do direito à educação.”SÔNIA DIAS, gerente de Desenvolvimento e Soluções do Itaú Social“Esse cenário precisa ser combatido em todas as frentes. Não temos desigualdade apenas no acesso à internet ou à ferramentas digitais. Temos escassez de professores, lacunas e defasagem na formação dos docentes, alunos com necessidades especiais sem atendimento e muitos outros problemas.”ERICA CARVALHO, gestora da Fundação SM no BrasilA IA, por exemplo, pode ser uma aliada poderosa no processo de alfabetização, ao permitir a personalização do ensino. No entanto, seu uso exige mais do que conectividade: requer curadoria crítica, mediação docente qualificada e plataformas alinhadas às necessidades reais das redes de ensino.“Por ainda estar em fase inicial, a IA pode apresentar informações imprecisas. Por isso, seu uso deve ser cuidadosamente mediado por professores, que desempenham um papel essencial na identificação e avaliação dos aspectos emocionais da turma”, opina Sônia Dias. Embora as novas tecnologias tenham capacidade para potencializar o processo de alfabetização, Bartholomeu Silva alerta que é preciso atenção para que não seja cometido o erro de acreditar que se trata de uma panaceia, ou seja, algo que vai solucionar todos os problemas. “Antes de achar que há uma tecnologia que vai revolucionar o processo de alfabetização, precisamos fazer o básico bem feito: fortalecer o compromisso de entes federados na construção de um real regime de colaboração; estruturar processos de formação continuada; responder a lacunas da formação inicial dos professores, e investir muito forte em gestão.”BARTHOLOMEU SILVA, superintendente do Instituto FefigA educação e o ISP na era digitalNesse cenário, o ISP ganha relevância como força complementar, mas não substitui a atuação do setor público, como alertam Sônia e Erica. Organizações da Sociedade Civil (OSCs), fundações e institutos empresariais vêm atuando no desenvolvimento de soluções inovadoras, na ampliação do acesso a recursos digitais e na formação de educadores. Contudo, Erica Carvalho afirma que é preciso uma atuação ainda mais promissora. “O setor privado tem uma série de iniciativas relevantes na área da educação mas ainda é muito pouco frente aos desafios que temos e ao pouco comprometimento do poder público. O ISP precisa ganhar escala e o setor também precisa atuar conjuntamente pressionando o poder público na criação e principalmente no acompanhamento de novas políticas públicas”, observa.Para Rodrigo Rainha, especialista de inovação da Yduqs, o debate central deveria ser a recuperação do texto constitucional: a educação é um direito fundamental e um compromisso de todo o tecido social. “Assim, todas as instituições e pessoas — públicas ou privadas — deveriam estar atentas ao desenvolvimento educacional, pois a melhoria das condições coletivas impacta positivamente os cenários de negócios, qualidade de vida, equilíbrio social, redução da violência e fortalecimento dos ciclos de tolerância.”Se esse princípio for cumprido, avalia, empresas de tecnologia que reconhecem seu potencial social deveriam se tornar parceiras dos espaços de desenvolvimento. “O desenvolvimento tecnológico não pode ser tratado apenas como uma estratégia de negócios, mas como parte de um compromisso ético e social com o país. Promover o letramento digital como instrumento de apoio à melhoria da educação gera impactos significativos.”RODRIGO RAINHA, especialista de inovação da YduqsPensando nas desigualdades regionais, raciais e tecnológicas, Bartholomeu Silva defende que o ISP pode trazer elementos de potencialização para as redes municipais e estaduais, aumentando a profissionalização da gestão do processo de alfabetização, com acompanhamento constante, formação continuada e monitoramento de indicadores. “Nós, sociedade civil organizada, não conseguiremos nunca fazer o trabalho pelas redes, mas conseguimos fazer com as redes, levando investimentos, iniciativas e estratégias para potencializar as políticas de alfabetização públicas do Brasil”, finaliza. ExpedienteNatália PassafaroCOORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃOGeovana MirandaANALISTA DE COMUNICAÇÃOAfirmativaREPORTAGEM/TEXTOMarina CastilhoDESIGN & DESENVOLVIMENTOO post Especial redeGIFE: Tecnologia sem equidade: os novos contornos do analfabetismo no Brasil apareceu primeiro em GIFE.