O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, na quarta-feira (9), que irá aplicar uma tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil. Segundo o líder norte-americano, a taxa entra em vigor a partir de 1º de agosto.No anúncio feito em sua rede social, a Truth Social, Trump atribui a cobrança, além de uma relação que diz ser injusta com o Brasil, à postura do STF (Supremo Tribunal Federal) em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu na ação penal que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.Após o aviso de Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a resposta brasileira será dada “à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica”, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo chefe do Executivo em abril. Leia Mais Tarifaço pega Brasil de surpresa; país não era alvo prioritário Arsenal de retaliações brasileiras inclui patentes e tributação de múltis À CNN, Nobel de Economia critica Trump por usar tarifas como “arma” A tarifa imposta ao Brasil é a mais alta divulgada pelos Estados Unidos a uma série de países recentemente. A CNN ouviu especialistas em relações internacionais para entender os próximos passos na relação entre os dois países em meio ao imbróglio causado pela mensagem de Trump.Tarifa pode ser reduzida?Questionada pela reportagem, a professora de Relações Internacionais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Regiane Bressan disse que acredita na possibilidade que Brasil e Estados Unidos negociem uma eventual redução no valor da tarifa.“Eu apostaria todas as minhas fichas que os EUA vão voltar atrás. Não faz sentido nenhum essa tarifa. À medida que eles sobretaxarem os produtos brasileiros, a indústria norte-americna vai sofrer”, avalia a especialista, que vai além: “Não acho que vai chegar 1º de agosto para eles reverterem isso”.Para o professor de Relações Internacionais da UFF (Universidade Federal Fluminense) e de Harvard Vitelio Brustolin, apesar de as tarifas impostas por Trump serem utilizadas como uma forma de punição a outros países, há margem para negociação no caso brasileiro.“O Brasil vai tentar negociar a redução argumentando que é deficitário em relação aos Estados Unidos. Então, nas questões comerciais, existe margem para o Brasil argumentar”, reitera o especialista. No entanto, ele argumenta que “nas questões que envolvem o funcionamento do país, da Suprema Corte, isso não tem como negociar”.A consultora de Investimentos Estrangeiros no Brics Laís Nascimento corrobora a tendência de um acordo entre os países.“Como foi observado nos últimos meses sobre o desenrolar das tarifas, a tendência é a negociação. No caso do Brasil, o impacto econômico se limita a setores específicos dada a diversificação das exportações brasileira, parte do produto exportados são commodities que podem ser redirecionadas para outros países, como a China”, pondera a consultora.Recorrer à OMC é uma opção?Como a CNN mostrou mais cedo, o presidente Lula avalia acionar a OMC (Organização Mundial do Comércio) contra a tarifa anunciada pelos EUA.O argumento do governo brasileiro é de que não há motivação técnica para o tributo, já que a balança comercial é deficitária para o Brasil, e desrespeita o princípio da concorrência igualitária.Na visão de Bressan, o desgaste da instituição nas últimas décadas diminui as chances de a OMC costurar uma solução para o impasse.“Infelizmente, a OMC está totalmente fragilizada. Se estivéssemos no final dos anos 1990, início dos anos 2000, ela teria evitado isso. A OMC restringe os países de tomar medidas dessa forma”, explica a professora.Embora o órgão esteja enfraquecido, Brustolin, por sua vez, defende que o Brasil deve, sim, recorrer a ele.“O Brasil deveria fazer isso, mesmo a OMC não funcionando por não ter mecanismo de apelação, justamente por conta da falta de indicação de juízes pelos EUA. Recorrer à OMC não daria resultados práticos, mas seria simbólico da posição do Brasil neste momento. Seria um ato que ficaria registrado na história”, sustenta Brustolin.Já Nascimento relembra que a China acionou a OMC em meio ao impasse tarifário de Washington com Pequim.“O mais provável é que siga o padrão e resolva na mesa de negociações. A OMC é um recurso importante para o desenvolvimento e fortalecimento do comércio internacional e que pode atuar na resolução das divergências”, declara a especialista.Relação Brasil-EUA fica abalada?Apesar de acreditar que a relação entre os dois países, aliados históricos, fica abalada depois do anúncio de ontem, Bressan destaca a competência da diplomacia brasileira para lidar com a maneira de agir do presidente norte-americano.“A relação se abala, mas a diplomacia brasileira está muito bem preparada. Ela sabe quem é o Trump e como atuar de forma muito pragmática. O diálogo não foi afetado. A situação é com Trump, que atua de maneira deliberada, autoritária. Cabe à diplomacia atuar de maneira pragmática, mas eficiente, para que haja reversão dessa medida”, afirma a especialista.O episódio, conforme analisa Brustolin, é um dos “mais graves” na história da relação entre as duas nações.“Esse episódio é parte de um conjunto. Vemos que os EUA não têm um embaixador aqui no Brasil desde a saída da embaixadora que aqui estava antes da eleição de Trump. Lula e Trump estiveram no G7, mas não houve reunião bilateral. Existe, sim, em certa medida um abalo na relação entre os dois países e isso deve se manter, pelo menos, até quando forem mantidas as tarifas. Não é algo que deve ser permanente, mas é algo que entrou para a história”, acrescenta o professor.Por fim, Nascimento sugere que os produtos brasileiros terão novos destinos caso a diplomacia não resolva a questão.“Caso as tarifas se mantenham, a tendência é o Brasil buscar novos mercados e fortalecer relações com a China e o Brics, que atualmente são importadores de commodities brasileiras. A União Europeia também pode ser destino das commodities brasileiras através do acordo com o Mercosul, caso ele seja ratificado”, conclui a consultora.Economista repercute nova taxa imposta por Trump ao Brasil | CNN NOVO DIA(Com informações de Gabriela Boechat e João Nakamura)