Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que a dor crônica afeta cerca de 30% da população mundial. Apesar da existência de diversos tratamentos, muitos medicamentos não são totalmente eficazes para estes pacientes.Buscando alternativas para este cenário, pesquisadores analisaram o potencial do canabigerol (CBG), um composto não psicoativo presente na planta Cannabis sativa. E, segundo eles, essa substância apresentou efeitos promissores contra diferentes tipos de dor em roedores. Canabigerol é um composto químico encontrado na planta Cannabis sativa (Imagem: Deeranana/Shutterstock)Efeitos do canabigerol ainda são pouco estudados A Cannabis sativa é bastante estudada por cientistas do mundo todo há décadas.Isso acontece porque a planta contém centenas de compostos bioativos que podem ser benéficos para o nosso organismo.As substâncias mais analisadas são o tetrahidrocanabinol (THC), responsável pelos efeitos psicoativos da maconha, e o canabidiol (CBD), que tem amplo potencial terapêutico.No entanto, existe também um outro composto menos famoso.O canabigerol (CBG) é considerado o “precursor químico” dos demais canabinoides e não provoca alterações de consciência ou outros efeitos psicoativos.Estudos ainda mostram que esta substância apresenta propriedades anti-inflamatórias e que pode ter efeito analgésico, apesar destes efeitos ainda serem pouco estudados.Leia maisCanabidiol tem efeito contra dor crônica e depressão em animaisNova fonte de canabidiol é descoberta em planta no BrasilCanabidiol reduz crises em casos graves de epilepsia, aponta estudo da USP Compostos da planta podem trazer benefícios para a nossa saúde (Imagem: Bukhta Yurii/Shutterstock)Diminuição da dor foi observada em diversos cenáriosEm artigo publicado no portal The Conversation, os professores Guilherme Carneiro Montes e Bismarck Rezende, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), apresentam os resultados de um estudo experimental realizado com roedores. Eles testaram animais mais sensíveis à dor devido à falta de oxigênio durante a gestação ou nascimento. Essa condição, chamada de hipóxia-isquemia pré-natal, pode aumentar a sensibilidade à dor ao longo da vida, gerando um grande desafio no manejo seguro de analgésicos. Durante o experimento, foram testados três modelos de dor nesses roedores e, em todos eles, foram avaliados o efeito da administração oral de CBG, na concentração de 50 mg por quilo de peso corporal. Os resultados foram considerados animadores. No teste da placa quente, colocamos os camundongos sobre uma superfície aquecida a 52°C. Esse tipo de dor é processada pelo Sistema Nervoso Central, ou seja, não é apenas um reflexo periférico. O estímulo precisa ser percebido, processado no cérebro e resultar em uma resposta comportamental. Aqueles tratados com CBG demoraram mais tempo para reagir ao estímulo, como lamber a pata, sacudi-la ou tentar pular da placa quente, indicando que houve um efeito analgésico central.Artigo publicado no The ConversationDescobertas podem ajudar na criação de novas terapias contra dores crônicas (Imagem: littlestocker/iStock)Outro modelo utilizado foi o teste da formalina, que simula um tipo de dor aguda equivalente à picada de formiga, que é mais intensa nos primeiros cinco minutos e depois evolui para uma dor inflamatória local. A resposta observada permite distinguir duas fases: uma inicial, causada pela ativação direta dos nervos sensoriais (fase neurogênica), e outra mais prolongada, associada à inflamação. O tratamento com CBG reduziu significativamente a dor em ambas as fases.Também avaliamos a eficácia do composto em um modelo de dor crônica do tipo neuropática, causada por lesões nos nervos ou na medula espinhal, e que não depende de um estímulo físico externo. Esse tipo de dor costuma persistir por meses e é de difícil controle, estando presente, por exemplo, em casos de neuropatia diabética ou dores pós-cirúrgicas. Nesse modelo, o CBG também foi eficaz: reduziu significativamente a sensibilidade à dor após cerca de 10 dias de tratamento contínuo.Artigo publicado no The ConversationAinda de acordo com os pesquisadores, a substância não prejudicou a locomoção dos animais, algo que pode ser comum em remédios contra a dor, uma vez que eles geram efeitos como sedação, fraqueza muscular ou dificuldade ao se movimentar. Apesar dos resultados promissores, os professores destacam que são necessários mais estudos para confirmar a eficácia deste novo tipo de tratamento contra a dor também em humanos.O post ‘Primo’ do canabidiol pode aliviar dores crônicas, revela estudo apareceu primeiro em Olhar Digital.