Em um mundo onde os celulares são quase uma extensão do nosso corpo, é comum usá-los para quase tudo. Seja para trabalhar, estudar, se comunicar ou relaxar, a verdade é que passamos quase todo o dia olhando para essas telas. E se, ao mesmo tempo em que eles nos conectam e nos divertem, também estivessem contribuindo para aquele incômodo que muita gente sente: a dor de cabeça? Embora os smartphones possam ser vilões da cefaleia, também desempenham um papel positivo no alívio do estresse, com aplicativos de respiração, meditação guiada e sons relaxantes.Em contrapartida, do brilho excessivo da tela ao tempo prolongado nas redes sociais, passando pela má postura e pelo esforço visual constante, o uso constante e até incorreto do celular está cada vez mais ligado ao aumento de dores de cabeça, segundo profissionais de diferentes especialidades da área de saúde. O TechTudo conversou com um neurologista, um oftalmologista e uma fisioterapeuta para trazer dicas práticas, baseadas em evidências médicas, de como usar o celular de forma saudável. Veja a seguir, o que ajuda, o que atrapalha e o que pode ser feito agora para evitar que seu smartphone vire um gatilho invisível para a dor.📱 Tem 'vício' em celular? Veja 7 dicas para não ficar refém do smartphone➡️ Canal do TechTudo no WhatsApp: acompanhe as principais notícias, tutoriais e reviews4 truques INFALÍVEIS para economizar bateria do celular!📝 Como recuperar dados de um celular quebrado? Veja no Fórum do TechTudo1. O que pode ajudar com o celularA dor de cabeça, especialmente as tensionais, é uma das queixas mais comuns do dia a dia. Embora muitos busquem soluções rápidas como medicamentos, a tecnologia tem se mostrado uma aliada no alívio desse mal, oferecendo alternativas não invasivas e acessíveis. Com o celular, é possível adotar diferentes práticas que ajudam a reduzir a dor e a tensão associada.Aplicativos de respiração guiada e meditação, como Calm, Meditopia e Breathe, têm ganhado popularidade por oferecerem exercícios simples de relaxamento que podem aliviar significativamente a dor de cabeça. Esses aplicativos auxiliam na prática de respiração profunda e consciente, o que ajuda a diminuir a frequência cardíaca, relaxar os músculos e reduzir a sensação de estresse. Existem também aplicativos disponibilizados por laboratórios farmacêuticos, planos de saúde ou hospitais, que ajudam a gerenciar e aliviar dores de cabeça, especialmente enxaquecas. Eles oferecem ferramentas para registrar crises, identificar gatilhos e compartilhar informações com profissionais de saúde, auxiliando no tratamento.Além dos aplicativos de meditação e respiração, outra ferramenta tecnológica que tem mostrado bons resultados no alívio da dor de cabeça é o uso de sons relaxantes, como os de canto de pássaros, chuva, mar, água corrente ou rio, e até mesmo o som de um ventilador. Esses sons ajudam a criar um ambiente calmo, abafando ruídos externos perturbadores e proporcionando uma distração suave para a mente, o que pode reduzir a percepção da dor, especialmente em cefaleias leves. Esse tipo de áudio pode ser encontrado facilmente em aplicativos ou vídeos especializados.Ouvir sons relaxantes pode auxiliar no alívio da dor de cabeçaReprodução/FreePikOutra forma de aproveitar a tecnologia para aliviar a dor de cabeça é por meio de áudios relaxantes, como podcasts, audiolivros ou meditações guiadas. Ouvir esses conteúdos sem a necessidade de olhar para a tela é uma forma de se distrair da dor e de aliviar a mente. Ao focar em algo prazeroso e relaxante, a pessoa consegue reduzir a sobrecarga visual e postural, proporcionando um alívio eficaz e natural, sem estímulos excessivos.No contexto do home office e estudos online, muitas pessoas passam horas seguidas em frente às telas, o que pode resultar em tensão muscular e cansaço visual, fatores comuns que desencadeiam dores de cabeça. Uma solução simples e eficaz é utilizar temporizadores que lembram a pessoa de fazer pausas regulares a cada 20 ou 30 minutos. Esses intervalos ajudam a evitar o esforço visual contínuo, a melhorar a postura e a aliviar a tensão muscular acumulada.Portanto, se a dor de cabeça for leve e eventual, antes de recorrer a medicamentos, pode ser válido utilizar a tecnologia para aliviar o desconforto. Agora, se a dor for forte, frequente ou o incômodo for incapacitante, pode ser necessário utilizar medicamentos ou procurar ajuda médica. Lembre-se sempre: nenhum aplicativo tem capacidade de substituir orientações de profissionais da área de saúde. A tecnologia, nesse caso, atua apenas como complemento, não como terapia. Aplicativo de meditação e para dormir: aprenda a usar o app Calm para relaxarReprodução/Helito Beggiora2. O que costuma piorar a dor de cabeça (mesmo parecendo inofensivo):O uso excessivo do celular, especialmente sem os cuidados adequados, tem se mostrado uma das principais causas de dores de cabeça, uma realidade crescente tanto entre jovens quanto adultos. Com o aumento do tempo de tela, principalmente em redes sociais e aplicativos de vídeos curtos, muitas pessoas começam a enfrentar desconfortos oculares, mentais e até posturais. Embora pareçam hábitos inofensivos, alguns comportamentos, como brilho excessivo da tela, postura inadequada e falta de pausas, podem ser grandes vilões da saúde.Um dos principais fatores é o brilho excessivo da tela. Especialmente em ambientes escuros, essa luz intensa força os olhos a se adaptarem a um nível de brilho desconfortável. Além disso, a exposição contínua à luz azul emitida pelas telas pode prejudicar o sono e gerar maior tensão ocular, contribuindo para dores de cabeça crônicas. Isso ocorre porque a luz azul pode diminuir a produção de melatonina, hormônio responsável por regular o sono. As redes sociais, com suas atualizações constantes e vídeos curtos, também contribuem para o aumento da estimulação sensorial. A rolagem infinita, a troca rápida de imagens e os efeitos visuais intensos exigem um esforço mental considerável. Isso pode resultar em sobrecarga sensorial, o que, para pessoas mais sensíveis, acaba provocando ou agravando dores de cabeça, além de estimular crises de ansiedade. A combinação de estímulos visuais e falta de pausas durante esse consumo acelerado tem sido associada a uma maior fadiga tanto mental quanto ocular.Cansaço visual pode desencadear dores crônicas de cabeçaReprodução/FreeP!kOutro fator importante é a má postura ao utilizar o celular. A síndrome conhecida como "Text Neck", ou pescoço de texto em tradução livre, é associada à inclinação constante da cabeça para baixo e pode gerar tensão nos músculos da nuca, ombros e pescoço. Essa tensão pode se irradiar para a cabeça, causando cefaleias tensionais, um dos tipos mais comuns de dor de cabeça associada ao uso prolongado do celular.A falta de pausas regulares é outro comportamento frequentemente negligenciado. Ficar horas seguidas olhando para a tela do celular sem descanso contribui para a fadiga ocular. Esse quadro se caracteriza por sintomas como visão turva, olhos ressecados, e a própria dor de cabeça. Sem pausas, os olhos não têm tempo de se recuperar, o que agrava o desconforto e aumenta o risco de dores de cabeça. Além disso, muitas pessoas ignoram os primeiros sinais de desconforto ocular, como ardência ou visão embaçada. Negligenciar esses sintomas e continuar forçando a vista só intensifica a fadiga visual, contribuindo para o agravamento das dores de cabeça.3. O que dizem os especialistas sobre as dores de cabeça e o uso constante do celularPara aprofundar a compreensão sobre como o celular pode afetar a saúde, o TechTudo conversou com profissionais da área de saúde que detalharam as principais causas e as soluções para problemas clínicos provocados pelo uso excessivo de telas. O neurologista Marcelo Masruha, diretor do Instituto de Neurociência do Espírito Santo e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNi), destaca que as cefaleias tensionais são as dores de cabeça mais comuns associadas ao uso excessivo de celulares. Essas dores surgem devido à postura inadequada e à tensão muscular."O uso prolongado das telas pode desencadear crises de enxaqueca ou agravar crises já existentes. A luz intensa e os estímulos rápidos são gatilhos comuns. Em algumas pessoas, o uso prolongado de celulares também pode provocar cefaléia e pressão ocular, pela exposição prolongada à luz azul ou pela leitura em ambientes mal iluminados"Ele também revela que as dores provocadas pelo uso do celular enviam sinais antes de crises mais graves. O neurologista afirma que incômodos que surgem ou pioram após longos períodos de tela, como dor em faixa, bilateral e com sensação de aperto; olhos ardendo, pesados, ou visão borrada; sensibilidade à luz e ao som após exposição intensa à tela, são sintomas que não podem ser ignorados. “Se esses sintomas se repetem com frequência, é um indicativo claro de que o uso do celular está contribuindo para a dor”, ressalta Masruha.O neurologista também aconselha que os usuários de celular façam pausas regulares e evitem o uso prolongado do aparelho sem descanso. Além disso, o especialista sugere que, sempre que as condições permitirem, se use o modo escuro nas telas e ambientes bem iluminados para reduzir o impacto na saúde ocular.Além de dor de cabeça, o uso prolongado pode provocar estafa mental e dores pelo corpoMariana Saguias/TechTudoOpinião semelhante tem Flavio Mac Cord, diretor da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO). De acordo com o oftalmologista, o brilho excessivo das telas pode sim piorar dores de cabeça, especialmente em pessoas com enxaqueca ou sensibilidade à luz."Em ambientes escuros, o contraste com a tela brilhante aumenta o esforço visual e pode agravar a dor", afirma. Ele também recomenda o uso do filtro de luz azul, que ajuda a preservar o ritmo do sono, e o modo escuro, que pode reduzir a carga visual.Além disso, Mac Cord destaca o fenômeno da fadiga ocular digital, também conhecida como síndrome da visão computacional. Essa condição, causada pelo uso prolongado de telas, pode levar a sintomas como ardência, olhos secos, visão embaçada e dores de cabeça, sinais claros de que os olhos estão sobrecarregados. Para prevenir esses problemas, ele reforça a importância das pausas regulares.Má postura pode agravar dores de cabeçaUm fator que aparentemente não tem relação pode ser um dos gatilhos para a dor de cabeça. A fisioterapeuta Andrea Guerra explica que a má postura ao usar o celular pode agravar as crises de cefaleia e enxaquecas: "Quando inclinamos o pescoço para baixo para visualizar o celular ou tablet, estamos pressionando toda a musculatura cervical, o que pode causar dor de cabeça, problemas na coluna vertebral e até mesmo tonturas", explica. Ela detalha que a forma incorreta de utilização das telas pode provocar a Síndrome de Text Neck. Essa condição é causada pelo uso excessivo de dispositivos móveis, como smartphones e tablets, que leva a dores e tensões no pescoço e ombros devido à má postura ao olhar para as telas. Essa postura inclinada para baixo, comum ao usar esses aparelhos, coloca uma pressão excessiva na coluna cervical, resultando em desconforto e possíveis complicações a longo prazo. “Verifica-se nessa síndrome que a tensão muscular causada pela posição da cabeça para baixo começa a causar dores na nuca de origem tensional, evoluindo para quadros de cefaleias tensionais crônicas, pegando também ombros e irradiando até para os membros superiores. Com o tempo, pode até evoluir para quadros mais graves de discopatias, como hérnia de disco”Posição com a cabeça para baixo ao usar o celular por muito tempo causa tensão muscular no pescoçoAmanda Zola/TechTudo4. Dicas práticas e acessíveisA presença do celular e demais telas no dia a dia é uma situação quase irreversível, tanto para o bem quanto para o mal. Entretanto, a boa notícia é que, com algumas mudanças simples de hábito, é possível usar seu smartphone de maneira mais saudável e prevenir as dores de cabeça. A principal mudança está relacionada à postura. A fisioterapeuta Andrea Guerra recomenda usar o aparelho em uma posição neutra, geralmente até a altura dos olhos e de preferência com algum apoio para evitar sobrecarga nos ombros e na cervical. Se o uso do aparelho por longos períodos for inevitável, ela orienta a fazer pequenas pausas e alongamentos de coluna cervical e membros superiores. Também é essencial adequar a ergonomia do posto de trabalho para evitar dores de cabeça, nos ombros e lombares. “Por exemplo, vire o queixo lentamente para a direita e para a esquerda, fazendo pequenas pausas em cada posição. Incline a orelha direita em direção ao ombro direito e permaneça nessa posição por cerca de 20 segundos; depois, repita o movimento para o lado esquerdo. Além disso, rode os ombros para trás durante 20 segundos e, em seguida, repita o movimento girando para a frente. Outra dica é a automassagem na região cervical. Essa técnica é altamente recomendada para aliviar tensões.”Em relação à visão, o modo escuro ou noturno nem sempre é a melhor opção para preservar a saúde dos olhos. De acordo com o oftalmologista Flávio Mac Cord, embora o modo escuro apresente alguns benefícios, em locais com muita luz, o contraste entre claro e escuro pode dificultar a leitura, além de exigir mais esforço dos olhos. Ele também recomenda que, em ambientes claros, o modo claro seja mais confortável para o uso do celular.No trabalho ou nos estudos é necessario fazer pequenas pausas para evitar doenças provocadas pelo excesso de telasReprodução/Unsplash/Bruce MarsOutra dica do especialista é utilizar a regra 20-20-20, ou seja, a cada 20 minutos de uso da tela, desviar o olhar para um objeto a aproximadamente 6 metros de distância por 20 segundos. Essa técnica ajuda a relaxar os músculos oculares e prevenir a síndrome da visão computacional, que é o nome dado a um conjunto de sintomas causados pelo uso prolongado de telas.“Embora não exista um tempo exato considerado seguro, a regra 20-20-20 é uma boa aliada para proteger a visão e prevenir dores de cabeça. Além disso, vale adotar alguns hábitos simples, como fazer pausas regulares, manter a tela a uma distância confortável e na altura dos olhos, ajustar o brilho conforme a luz do ambiente, piscar com mais frequência, usar colírios lubrificantes, se necessário, e manter os exames oftalmológicos em dia. Também é bom evitar o uso de telas imediatamente antes de dormir. No fim das contas, o equilíbrio é o melhor aliado”Por sua vez, o neurologista Marcelo Masruha também reforça que mudanças de hábitos podem evitar doenças e enfermidades. Ele reforça que deve ser evitado o uso prolongado e sem pausas das telas, da mesma forma que consumir conteúdos com estímulos intenso, como luzes piscantes, volume alto, multitarefas e notificações. Também deve ser evitado o uso do celular na cama, antes de dormir, e com luz direta em direção ao rosto. Já reduzir a luz azul durante o período noturno e manter uma boa rotina de sono, são hábitos que ajudam a evitar dores de cabeça e auxiliam no uso saudável dos smartphones.Ao adotar essas práticas, você pode transformar seu celular de um potencial causador de dores de cabeça em uma ferramenta que contribui para o seu bem-estar, garantindo uma relação mais saudável com a tecnologia. “Cuidar do uso do celular é também cuidar da saúde cerebral como um todo. O equilíbrio é o que preserva o bem-estar”, conclui Marcelo Masruha.Mais do TechTudoInitial plugin text