Que nome se dá à intervenção de um país em assuntos internos de outro para favorecer um líder político acusado de ter cometido uma série de crimes, o mais grave dos quais o de abolição violenta da democracia? Só há um nome possível: tentativa de golpe.É o que está em curso no Brasil desde que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, deu início às sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal que julgam Bolsonaro e os demais golpistas de dezembro de 2022 e janeiro de 2023.E com base em que Trump faz isso? Ele invoca uma lei do seu país, somente ali existente, que lhe dá poder absoluto para tal. Uma lei que até há pouco só fora aplicada para punir ditadores, terroristas e agentes de segurança autores de sucessivos assassinatos.Em carta a Lula, Trump ordenou que fosse IMEDIATAMENTE suspenso o julgamento de Bolsonaro sob pena de taxar ao extremo a compra pelo seu país de produtos brasileiros. Depois, anunciou o tarifaço de 50% e a punição de ministros do Supremo.Como ontem Bolsonaro teve sua prisão preventiva decretada porque desrespeitou as medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, Trump decidiu retaliar. Em nota, o Departamento de Estado dos Estados Unidos diz:“O juiz Moraes, agora um violador de direitos humanos sancionado pelos EUA, continua a usar as instituições brasileiras para silenciar a oposição e ameaçar a democracia. Impor ainda mais restrições à capacidade de Jair Bolsonaro de se defender em público não é um serviço público. Deixem Bolsonaro falar”.“Os Estados Unidos condenam a decisão de Moraes que impôs prisão domiciliar a Bolsonaro e responsabilizarão todos aqueles que auxiliarem ou incentivarem a conduta sancionada”.Não há uma só decisão de Moraes que não tenha sido referendada por seus colegas de tribunal. O rito da justiça está sendo cumprido com rigor. A democracia já esteve aqui ameaçada e sobreviveu. Agora, a maior ameaça é externa, com ramificações locais.Na terra de Trump, um condenado pode se candidatar a presidente da República – foi o caso dele. Se eleito, pode governar de dentro da prisão e mais tarde se autoperdoar. Aqui, porém, e na maioria dos outros países, não pode. Bolsonaro já está inelegível até 2030.Ficará ainda mais inelegível se condenado e preso pelos crimes que está sendo julgado. Trump não quer saber. Quer que a justiça brasileira suspenda a inelegibilidade, suspenda o julgamento e permita a Bolsonaro concorrer às eleições do próximo ano.Trata-se de uma trama urdida por Bolsonaro e seus filhos com o apoio do presidente mais poderoso do mundo, que se comporta como se fosse um imperador. Bolsonaro provocou sua própria prisão para que Trump de novo saísse em seu socorro, e ele saiu.Não se enganem: é mais uma escalada na tentativa de golpe. Colunas do Blog do Noblat