Nos últimos meses, a disputa pelo delivery de comida no Brasil esteve constantemente nos noticiários, após a entrada de novos players como o 99Food. O time de análise do BTG Pactual, porém, aponta que a concorrência em um setor irmão, o de e-commerce, vem reacelerando de maneira mais silenciosa.“As guerras dos marketplaces no Brasil entraram em uma fase mais agressiva, com todos os grandes players adicionando subsídios ou reduzindo custos para vendedores após vários trimestres em que a racionalidade prevaleceu”, diz o time de analistas, liderado por Luiz Guanais. O time do banco expõe, por exemplo, que o Mercado Livre reduziu o limite de frete grátis no Brasil para R$ 19 e cortou custos de envio para vendedores, com algumas rotas caindo cerca de 40%, acelerando a venda de produtos com tickets menores.Já a Amazon reduziu comissões e taxas do FBA em 17 categorias e agora está testando uma campanha promocional agressiva para a Black Friday e o TikTok Shop, lançado em maio, chegou a um VGV (volume bruto de mercadoria) diário de US$ 1 milhão.VEJA TAMBÉM: ASSAÍ x GPA, privatização da COPASA e PETROBRAS no radar dos analistas; hora de comprar ou vender? Confira o novo episódio do Money Picks no Youtube“A principal questão é até quando o modelo ‘pay-to-play’ seguirá no e-commerce e qual será o impacto nas margens estruturais dos líderes?”, perguntam.Para eles, as empresas de e-commerce manterão as promoções ao menos até o final de 2025 — o que, porém, deve voltar a prejudicar as margens de lucratividade. Na promoção atual da Amazon, os vendedores parceiros pagam apenas taxas de referência, tornando a plataforma um dos marketplaces mais baratos em todas as faixas de preço. “O MELI entra nessa disputa de uma posição forte, com ecossistema integrado em logística, pagamentos e mídia. Porém, a isenção de taxas da Amazon corrói parte da sua vantagem de custos, principalmente em corredores de alta densidade”, fala o BTG. Em outra frente, a Shopee mantém a liderança nas compras de baixo tíquete, oferecendo preços baixos e cupons, mas vem subindo de patamar com a entrada de mais de 800 marcas e promoções para sellers globais, como isenção de comissões iniciais. O TikTok Shop aposta na força do tráfego de criadores e em subsídios de frete, mas migra para um modelo mais pago e intensivo em anúncios, elevando os custos de aquisição de clientes para lojistas. Já a Shein abriu sua cadeia de fornecimento ultrarrápida por meio do programa Xcelerator, oferecendo produção e entrega em 5–7 dias para atrair marcas externas ao seu marketplace, o que pressiona especialmente o setor de moda no Brasil.Para o BTG, a escalada dos subsídios no e-commerce transforma o frete no novo front da guerra.“A política da Amazon desafia diretamente o poder do Mercado Livre de ditar a economia de entregas, enquanto a Shopee corre risco de perder a liderança em custos”, fala a equipe do banco.A volta da guerra deve pressionar também as varejistas brasileiras, como o Magazine Luiza (MGLU3) e a Casas Bahia (BHIA3), que têm, atualmente, menor espaço em caixa para subsidiar as compras. Além disso, em situação não muito positiva, elas vinham afirmando que continuariam priorizando rentabilidade — o que vai na contramão da disponibilização de subsídios. “Nosso foco maior continua sendo muito na expansão das nossas margens”, afirmou a diretora de relações com investidores da companhia do Magazine Luiza, em entrevista no começo do ano.