A menos de 40 dias da COP30, que acontece em Belém do Pará, o setor empresarial se reúne de forma estruturada, em um marco histórico, para levar iniciativas concretas que podem ser adotadas e aplicadas por diferentes países nas suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas).Na liderança dessa comitiva, criada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e batizada de SB COP30 (Sustainable Business COP30), está Ricardo Mussa, ex-CEO da Raízen (RAIZ4) e uma das principais referências do Brasil nos temas da transição energética, bioenergia, agronegócio e sustentabilidade.“Essa é uma iniciativa para juntar o setor privado para ser representado na COP, que surgiu do B20 [grupo de engajamento empresarial do G20]. Esse grupo aprendeu que trazer o setor privado para a mesa facilita as discussões”, disse, no Money Minds.LEIA TAMBÉM: O Money Times liberou, como cortesia, as principais recomendações de investimento feitas por corretoras e bancos — veja como acessar No ano passado, durante o G20 realizado no Brasil, Mussa foi convidado a liderar o grupo de transição energética. A iniciativa foi bem-sucedida, com 72% das recomendações sendo aceitas pelos negociadores no documento final. “A partir disso, o pessoal da COP ‘copiou’ esse modelo do B20 para o SB COP”, afirma.Foi criada, então, uma organização que reúne o setor privado do mundo inteiro em torno da discussão climática, considerando que o segmento é responsável por cerca de 80% das emissões globais.“Tenho como meu chefe associações da indústria e comércio de mais de 60 países — como a CNI do Brasil, a US Chamber dos EUA, a Business Europe da Europa e outras confederações — representando mais de 40 milhões de empresas. É uma representação muito grande do setor privado mundial para participar e ajudar nas discussões da COP, algo que nunca existiu.”O legado do SB COP e as dificuldades nas discussõesO líder da iniciativa reforça que a SB COP não pertence ao Brasil e terá nova liderança na COP31, prevista para acontecer na Turquia ou na Austrália. Atualmente, o país do Pacífico está na frente na disputa para sediar o evento.“A vantagem é reunir o setor privado de forma organizada para ser representado na COP junto à ONU, com amplo reconhecimento da entidade. A parte difícil é coordenar esse grupo gigante, mas a parte boa é que você tem representatividade. Você senta à mesa e o outro lado te escuta”, afirma Mussa.O executivo explica que há duas entregas principais antes do evento. A primeira é um documento com recomendações para os negociadores, refletindo a visão do setor privado. A segunda é uma curadoria de projetos e cases de sucesso do setor privado mundial, exemplos que podem ser seguidos. Sobre os documentos, ele ressalta aprendizados de experiências passadas:“Quando participei do B20 na Indonésia em 2022, entregamos um documento com 68 recomendações na semana da negociação. Ninguém leu, e não serviu para nada. Aprendendo com isso, percebemos que é melhor focar em poucas recomendações, ser mais enfático. Agora, entregamos apenas três recomendações por força-tarefa, com antecedência, para influenciar os negociadores. Um documento entregue no fim de agosto”, relembra.Na semana passada, durante a Semana do Clima em Nova York, o grupo apresentou 23 prioridades para transformar a agenda climática em realidade.Expectativa x realidadeMussa comentou sobre a diferença entre o B20 e a SB COP e sobre a expectativa de que as recomendações sejam atendidas:“No início do trabalho da SB COP, fiquei super animado, pensando em repetir o sucesso do B20. Para minha equipe, estabeleci uma métrica de sucesso: o percentual do que fosse entregue no nosso documento deveria aparecer na recomendação final. Na primeira reunião da ONU, na Alemanha, percebi que isso não iria funcionar. Com 198 países e decisões por consenso, é difícil influenciar o documento final.”Com isso, a estratégia mudou. Observou-se que, em 30 anos de discussões sobre mudanças climáticas, muitas empresas estão testando, errando e tendo casos de sucesso. Decidiu-se, então, criar um concurso com os melhores casos de sucesso do mundo e analisar o que tornou esses projetos bem-sucedidos. Grandes consultorias — como McKinsey, BCG, BEM, Deloitte, PwC, Systemic, Accenture e INY — aceitaram contribuir com conhecimento, formando o “Knowledge Park”.O SB COP conta com diferentes forças-tarefas: transição energética, economia circular e materiais, bioeconomia, sistemas alimentares, empregos e habilidades verdes, financiamento climático e cidades sustentáveis e resilientes.Ricardo Mussa critica as COPs tradicionais, nas quais governos convocam o setor privado apenas para anunciar compromissos de longo prazo. “Chega uma COP e anunciam vários projetos novos. Muitos morrem porque não têm retorno econômico. Em vez de lançar um projeto para 2050, vamos olhar para o que funciona e focar nisso. Vamos ser pragmáticos.”Segundo ele, mais de 1.000 projetos foram enviados, e o top-50 foi selecionado pelo setor privado. “A maior contribuição é mostrar o que funciona. E o maior legado é organizar melhor o setor privado para participar da discussão.”O que é uma COP?As COPs, sigla para Conferência das Partes, surgiram com a Rio-92, quando foi assinada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC). A primeira COP aconteceu em Berlim, em 1995.“A COP30 é a trigésima COP da história e a primeira feita no Brasil. Quando pensamos nos problemas da humanidade, nunca tivemos um problema tão global, talvez nem a Covid. No caso do clima, não adianta um país se isolar. A Noruega, por exemplo, está eletrificando rapidamente sua frota, mas isso sozinho não resolve o problema. É uma questão genuinamente global”, afirmaPor isso surgiram as COPs: eventos nos quais os países discutem medidas de combate às mudanças climáticas.“A dificuldade é que 198 países precisam chegar a um consenso. Um país insular no Caribe tem o mesmo voto que a China ou Índia, com 1,4 bilhão de habitantes. Com esse modelo, é difícil chegar a um acordo, e a tendência é baixar a régua”, destaca.Dessa forma, das COPs saem metas e legislações que se refletem em políticas públicas nos países, voltadas à implementação dos acordos.“Por isso tem o Acordo de Paris, que foi há 10 COPs, onde se acordou uma série de metas a serem cumpridas. Quando eu digo que estamos atrasados no cumprimento das metas, quero dizer que o mundo está atrasado”.