No próximo dia 25 de outubro, uma travessia de quatro horas e meia pela Baía de Guanabara vai reunir cerca de 200 participantes em uma barca tradicional, a Charitas. A ação, chamada ÁGUAMÃE, é promovida pela Associação Selvagem e combina reflexão sobre a história da baía, narrativas indígenas e a urgência das questões socioambientais. O evento, gratuito e inédito, integra a Temporada França-Brasil 2025 e conta com apoio do Museu do Amanhã e da Barcas Rio.Entre os nomes confirmados para a experiência estão o pensador indígena Ailton Krenak, a editora e cofundadora da Selvagem Anna Dantes, a ativista e artista Renata Tupinambá, o músico e compositor Mateus Aleluia, o pesquisador João Paulo Lima Barreto (Tukano), especialista em medicina indígena, o líder espiritual e cineasta Carlos Papá, a antropóloga francesa Nastassja Martin, a coordenadora do Movimento Escolas Vivas Cristiane Takuá (Maxakali) e a geóloga Nuria Fernandez Castros.Além deles, dez artistas indígenas ligados às Escolas Vivas – representantes dos povos Baniwa, Guarani, Maxakali, Huni Kuin e Tukano-Dessano-Tuyuka – também participam da travessia. Eles terão acabado de concluir a Residência Casa Escola Viva, realizada no MAM-Rio entre 13 e 24 de outubro, e levarão para bordo suas práticas e visões, ampliando a profundidade das conversas. Os trabalhos resultantes da residência ganharão uma mostra no Instituto Tomie Ohtake, em 2026.A programação inclui cantos de abertura com Renata Tupinambá, debates sobre o mito de origem dos povos do Rio Negro – que conhecem a baía como “Lago do Leite”, lugar de surgimento da humanidade – e reflexões sobre nomes Tupi-Guarani que marcaram a geografia da região. Também haverá discussões sobre a água como entidade viva e em crise. O trajeto seguirá até Cocota, Niterói e Paquetá, retornando depois ao ponto inicial. Leia também: 1.Pescadores artesanais usam aplicativo para monitorar Baía de Guanabara 2.‘Pesca de resíduos’ na Baía de Guanabara vai ser ampliada Em fala prévia sobre o projeto, Anna Dantes explicou o simbolismo do encontro: “A Baía de Guanabara é um ícone da complexidade produzida no Antropoceno. É o emblema máximo de tudo o que essa pulsão de consumo capitalista pode causar, mas também é um ícone de transformação. Ela é, para nós, um lugar de origem, um útero da vida que sofre, mas que também resiste. Navegar por suas águas é navegar por todas essas camadas de tempo e significado.”A iniciativa também prevê o lançamento de um Caderno Selvagem dedicado à Baía de Guanabara, como parte da coleção editorial que reúne ensaios, falas e textos traduzidos coletivamente em várias línguas. Um filme será produzido a partir dos registros da expedição, inaugurando uma série audiovisual que seguirá até 2026.Foto: Tânia Rêgo/ABrCamadas de história e simbolismoO nome Guanabara vem do Tupi-Guarani e significa “seio de mar”, embora outra tradução seja “abraço de todos os dias” (Kua Gua Mbara Ara). Antes da chegada dos portugueses no século XVI, cerca de 80 aldeias Tupinambá ocupavam as margens da baía. Já a palavra “carioca”, também de origem Tupi-Guarani,significa “casa do senhor das brumas sagradas”.Entre os povos Dessano e Tukano, do Rio Negro, a baía é chamada “Diá Ahpiõ Dihtaru” – o “Lago do Leite” –, ponto de chegada da “canoa-cobra” que trouxe a humanidade em forma de “gente-peixe” após a travessia cósmica pela Via Láctea. Hoje, esse espaço carrega contradições: foi berçário de baleias e grande porto de entrada de africanos escravizados nas Américas. Atualmente abriga refinarias, porto e indústrias e, também por isso, é palco de conflitos ambientais.Inscrições gratuitas e mais informações, a partir de 08/10, pelo site e Instagram da Selvagem. The post Travessia mítica reúne 200 pessoas na Baía de Guanabara appeared first on CicloVivo.