A flotilha internacional que tenta levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza informou que embarcações não identificadas se aproximaram de alguns dos seus barcos antes do amanhecer de quarta-feira (1/10), enquanto o grupo se dirigia à área onde Israel mantém um bloqueio naval sobre o território, devastado pela guerra.Segundo os organizadores da missão, dois navios militares israelenses se aproximaram rapidamente e cercaram duas embarcações da flotilha, a Alma e a Sirius. Todos os sistemas de navegação e comunicação pararam de funcionar, em um episódio que Thiago Ávila, brasileiro que é um dos organizadores a bordo, classificou como “ataque cibernético” durante uma coletiva de imprensa. A flotilha conseguiu restabelecer os meios de comunicação pouco depois. Leia também Brasil Brasil “deplora” ação militar de Israel contra flotilha humanitária Mundo Colômbia expulsa diplomatas de Israel após flotilha ser interceptada Mundo Itália vai enviar segundo navio para escoltar flotilha a Gaza Mundo Brasil e outros países pedem proteção à flotilha que partiu para Gaza A Flotilha Global Sumud reúne mais de 40 embarcações com cerca de 500 pessoas a bordo, entre elas parlamentares, advogados, artistas e ativistas, incluindo a sueca Greta Thunberg, conhecida por sua atuação ambiental. O objetivo é romper o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza.“Seguimos rumo a Gaza, nos aproximando da marca de 120 milhas náuticas, perto da área onde outras flotilhas foram interceptadas ou atacadas”, disseram os organizadores em comunicado. “As ações hostis colocaram em risco civis desarmados de mais de 40 países”, acrescentaram.Manobras arriscadas e ataque com dronesA identidade dos navios que se aproximaram não foi confirmada. Um vídeo publicado no Instagram da flotilha mostra uma embarcação militar israelense realizando “manobras perigosas” perto dos barcos civis, danificando seus sistemas de comunicação antes de se afastar. A gravação mostra a silhueta de um navio militar com torre de canhão próximo às embarcações.A agência Reuters confirmou que o vídeo foi feito a partir do barco Sirius, com o equipamento e as linhas do barco correspondendo às imagens. No entanto, não foi possível verificar a identidade da outra embarcação nem a data exata da filmagem.Autoridades israelenses não responderam imediatamente aos pedidos de comentário.Nos últimos dias, a flotilha foi alvo de ataques com drones que lançaram bombas de efeito moral e substâncias irritantes sobre os barcos. Houve danos materiais, mas ninguém ficou ferido.Israel não comentou o ataque, mas afirmou que usará todos os meios para impedir que os barcos cheguem a Gaza, alegando que o bloqueio naval é legal no contexto do combate ao Hamas.Itália e Espanha enviaram navios militares para acompanhar a flotilha e prestar assistência em caso de emergência humanitária ou resgate, mas deixaram claro que não irão intervir militarmente. Drones turcos também monitoram os barcos. A Itália informou que sua marinha deixará de acompanhar a flotilha quando ela estiver a menos de 150 milhas náuticas (278 km) de Gaza.A Espanha comunicou aos participantes que seu navio de resgate está em posição para prestar socorro, se necessário, mas que não entrará na zona de exclusão imposta por Israel, pois isso colocaria em risco a segurança da tripulação e dos ativistas, segundo fonte do governo espanhol.Roma e Atenas pedem proteção para os ativistasItália e Grécia pediram nesta quarta-feira que Israel não ataque os ativistas a bordo da flotilha internacional, que se prepara para uma possível intervenção israelense com o objetivo de impedir a entrega de ajuda a Gaza. “Pedimos às autoridades israelenses que garantam a segurança dos participantes e permitam medidas de proteção consular”, afirmaram os dois países em comunicado conjunto divulgado por seus ministros das Relações Exteriores.Roma e Atenas também sugeriram aos ativistas que aceitem uma proposta de compromisso: entregar a ajuda à Igreja Católica, que se encarregaria de distribuí-la em Gaza, evitando assim um confronto direto com Israel.Autoridades israelenses têm criticado repetidamente a missão da Flotilha Global Sumud, classificando-a como uma provocação. “A recusa sistemática em entregar a ajuda mostra que o objetivo não é humanitário, mas provocador. Eles não querem ajudar, querem criar um incidente”, afirmou Jonathan Peled, embaixador de Israel na Itália, em publicação na rede X.Durante a coletiva de imprensa dos organizadores da flotilha nesta quarta-feira, Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os territórios palestinos, declarou que qualquer interceptação da flotilha “representaria uma nova violação do direito internacional e do direito marítimo”, já que Israel não tem jurisdição legal sobre as águas próximas à Gaza.Leia mais em RFI, parceira do Metrópoles.