Portugal merece mais. Merece um Estado que não se arraste em papéis carimbados, que não obrigue o cidadão a repetir dez vezes a mesma informação, que não se esconda atrás de processos que parecem existir apenas para alimentar a própria máquina. Se pensarmos sobre os caminhos que são necessários percorrer até chegar ao destino, mais parece que a sociedade portuguesa vive num labirinto de corredores onde cada porta dá para outra porta, nunca para a saída.É contra esse labirinto que o Governo promete agora agir. No almoço realizado no Hotel Palácio no Estoril, depois de uma manhã de conversas intensas na Leadership Summit Portugal, o Ministro Adjunto e da Reforma do Estado, Gonçalo Saraiva Matias, assumiu um diagnóstico sem rodeios: «Este é talvez o aspeto que mais nos atrasou nas últimas cinco décadas».A referência era clara — a burocracia. Uma teia que prende cidadãos, empresas e até os próprios funcionários públicos. «Eles também são vítimas do sistema, estando na primeira linha da insatisfação», reconheceu o ministroSala cheia, no Hotel Palácio, no Estoril, para ouvir as novas medidas para a reforma do Estado Uma estratégia transversal até 2026Saraiva Matias revelou que o Governo aprovou uma estratégia de reforma transversal, que será implementada até julho de 2026. A missão é ambiciosa: «avaliar, caso a caso, quais as entidades e funções que devem ser mantidas, fundidas ou mesmo extintas». realçou. O objetivo é atualizar uma máquina administrativa que, na sua estrutura essencial, permanece praticamente inalterada há meio século.O ministro enquadrou este plano como um processo de limpeza estrutural, destinado a cortar duplicações, encurtar circuitos e aproximar o Estado da realidade de quem o procura. Admitiu que será um exercício politicamente delicado, já que implica rever funções que se cristalizaram ao longo de décadas, mexendo em resistências internas e hábitos enraizados. Mas considerou que a alternativa — manter tudo como está — é insustentável num país que quer ser competitivo, inovador e justo.A reforma do Estado será construída em torno de três pilares: simplificação, digitalização e pessoas. O ministro foi claro: «Não vale a pena digitalizar processos antiquados». Isto só fará sentido depois de redesenhados os processos, garantindo que a tecnologia serve para facilitar e não apenas para replicar obstáculos. Inteligência artificial e o CTO do EstadoUm dos pontos centrais desta estratégia é o papel da inteligência artificial, vista como ferramenta decisiva para automatizar tarefas, eliminar redundâncias e dar mais rapidez às respostas da Administração Pública.Nesse contexto, o Governo aprovou já a criação da figura de um Chief Technology Officer (CTO) do Estado, com a «missão de garantir a interoperabilidade entre os diferentes sistemas públicos». O objetivo é acabar com a duplicação de pedidos de documentos, fazendo com que a informação circule entre os serviços de forma automática e segura. O ministro destacou que esta função terá um papel estratégico, capaz de articular ministérios, definir prioridades tecnológicas e impor padrões comuns.Reformas legais e combate ao ‘sufoco burocrático’O pacote de medidas inclui ainda reformas legais profundas. Estão em cima da mesa alterações à contratação pública, aos licenciamentos e ao Código de Procedimento Administrativo.Saraiva Matias frisou que simplificar processos é tão importante como garantir transparência e eficácia: «Não vale a pena aprovar leis que travam a vida das empresas e dos cidadãos, criando camadas e mais camadas de obstáculos. A reforma tem de ser feita na lei, no processo e na tecnologia».O ministro destacou a Estónia como exemplo de modernização do Estado: «Eles já o fazem. Se eles conseguem, também Portugal pode fazê-lo». O modelo estoniano, baseado na desmaterialização quase total dos processos e numa cultura de interoperabilidade digital, é visto como referência, mas Gonçalo Saraiva Matias garantiu que Portugal terá de encontrar o seu próprio caminho, adaptado à realidade nacional.Filipe Vaz, CEO da Temacentral, e Gonçalo Saraiva Matias, Ministro Adjunto e da Reforma do Estado, sentaram-se lado a lado. O ministro respondeu a algumas questões da plateia sobre o que tinha sido dito. Um compromisso para os próximos anosA mensagem final do governante foi de compromisso: libertar cidadãos e empresas do «sufoco burocrático» e colocar o Estado a funcionar de forma mais eficiente, justo e próximo. A reforma do Estado, garantiu, não pode ser mais uma promessa adiada.Com a data de julho de 2026 como horizonte, o ministro deixou claro que o sucesso desta transformação dependerá da colaboração entre ministérios, da capacidade técnica instalada e da abertura dos cidadãos a novos modelos de interação digital. «A burocracia atrasou-nos durante décadas. Agora temos de ser capazes de virar a página», concluiu. Aceda à galeria de imagens completa aqui.Todos os conteúdos estão disponíveis na Líder TV e nos canais 165 do MEO e 560 da NOS. O conteúdo «A burocracia atrasou-nos durante décadas. Agora temos de virar a página», diz Gonçalo Saraiva Matias aparece primeiro em Revista Líder.