O governo teve sua primeira grande vitória na Câmara na gestão de Hugo Motta (Republicanos-PB) ao conseguir aprovar o aumento da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. O apoio foi unânime, com 493 votos favoráveis e nenhum contrário. Passada a votação, o Palácio do Planalto tenta usar o resultado como impulso para sua agenda na Câmara, mas líderes do Centrão e o próprio presidente da Casa evitam se comprometer com um apoio automático para as demandas da gestão petista.“Cada votação é uma votação”, disse Motta logo após o resultado.Leia tambémShutdown deixa mercado “no escuro”, falas do Fed e isenção do IR: destaques desta 5ªInfoMoney reúne as principais informações que devem mexer com os mercados e a política nesta quinta-feira (2)Brasil e EUA organizam encontro presencial entre Lula e Trump em um terceiro paísGoverno brasileiro vê cúpula da ASEAN, que ocorrerá neste mês na Malásia, como local ideal para encontro entre os líderesDa mesma forma, apesar da aprovação do projeto do IR, considerado uma das principais apostas eleitorais para o presidente Lula em 2026, líderes do Centrão evitaram associar a pauta ao governo e creditaram o resultado aos reflexos para a população.“Não é de interesse do governo, é do Brasil”, disse o líder do União Brasil, deputado Pedro Lucas Fernandes (MA).A próxima batalha que o Planalto precisa enfrentar na Câmara agora é na Medida Provisória alternativa ao aumento do IOF, que trata da tributação de instrumentos financeiros, e teve sua votação adiada. Até integrantes da área econômica reconhecem que os atritos no Congresso estão longe de terminar.A votação da MP na comissão especial está marcada para acontecer na próxima terça-feira, na véspera de perder a validade. Se avançar no colegiado, o texto ainda precisará passar pelos plenários da Câmara e do Senado. Questionado sobre o risco de a MP expirar, Motta se limitou a dizer que o governo vai atuar para impedir isso, mas disse que a posição da Câmara vai depender do relatório que será votado.O relator da isenção do IR, o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), chegou a sinalizar que usaria o projeto para absorver parte da Medida Provisória alternativa ao aumento do IOF. Isso esvaziaria o texto do governo, considerado importante por trazer medidas de impacto positivo para a meta fiscal, mas a articulação não foi levada a frente.A ideia de parte dos líderes do Centrão era deixar a MP perder a validade e incorporar alguns pontos dela no texto do IR, mas o relatório de Lira acabou não tratando do assunto.Mesmo com as dificuldades, integrantes da equipe econômica minimizam o imbróglio com a MP e não contam com o cenário em que ela vai perder a validade ou ser rejeitada.Outra frente de entrave é o projeto que prevê corte de benefícios fiscais, que sequer tem relator definido. A avaliação é que o governo venceu a primeira etapa, mas terá de redobrar a articulação para atravessar os próximos capítulos sem desfigurar sua agenda fiscal.Mesmo com a unanimidade no projeto do IR, a aprovação aconteceu após dificuldades. Uma pressão popular, com manifestações em todas as capitais cobrando a Câmara, e a articulação do Senado, que chegou a aprovar em uma comissão uma versão alternativa do texto na semana passada, fizeram com que os deputados dessem foco no projeto.Antes disso, a votação estava travada na Câmara e o governo avaliava até enviar uma Medida Provisória para fazer com que a medida tivesse efeito ano que vem sem depender da aprovação imediata dos parlamentares.Desde o início da tramitação houve pressão de partidos do Centrão, sobretudo da União Brasil e do PP, para alterar as regras dos critérios de compensação. A ideia era retirar do texto os dispositivos que aumentavam a taxação de grandes fortunas. A alteração da medida, no entanto, não se concretizou.Trunfo político do governoPor outro lado, a aprovação unânime do projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda virou o principal trunfo político do governo Lula no Congresso desde o início do mandato. Mais do que uma vitória técnica, a votação desta quarta-feira foi interpretada dentro do Planalto como um gesto simbólico de recuperação de agenda, depois de semanas de turbulência na relação com a Câmara.O resultado permitiu ao petista não apenas resgatar a promessa de campanha de ampliar a isenção para quem ganha até R$ 5 mil, mas também criar uma vitrine eleitoral para a disputa de 2026.“Acho que o apoio popular a esse projeto colaborou muito. O diálogo aqui na Casa, com os líderes, as conversas que tivemos e a determinação do presidente Hugo Motta foram fatores muito positivos”, resumiu a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.O Planalto fez questão de dividir o crédito. Gleisi lembrou que Lula conversou pessoalmente com Arthur Lira, Hugo Motta e líderes do centrão na véspera da votação, reforçando o pedido que o relatório não fosse desidratado em plenário. A leitura interna é que a manutenção do texto, sem alterações de peso, reforça a ideia de que o governo conseguiu unir interesses díspares em torno de uma bandeira popular.The post Lula usa pressão sobre Motta para mudar agenda, mas Centrão prevê novas dificuldades appeared first on InfoMoney.