A cientista e ativista global Jane Goodall, que transformou seu amor de infância pelos primatas em uma busca vitalícia pela proteção do meio ambiente, morreu aos 91 anos, informou nesta quarta-feira (1) o instituto que ela fundou.Goodall faleceu de causas naturais enquanto estava na Califórnia em uma turnê de palestras, disse o Instituto Jane Goodall em uma postagem nas redes sociais.“As descobertas da Dra. Goodall como etóloga revolucionaram a ciência, e ela foi uma defensora incansável da proteção e restauração do nosso mundo natural”, afirmou o instituto no Instagram. Leia mais Morre Jane Goodall, responsável por revolucionar o estudo dos primatas Quem foi Gilsinho, intérprete da Portela, que morreu aos 55 anos Escolas de samba lamentam morte Marquinho PQD, compositor de sambas-enredo A primatologista que se tornou conservacionista transformou seu amor pela vida selvagem em uma campanha de décadas, que a levou de uma vila litorânea na Inglaterra até a África e depois ao redor do mundo, em uma busca para compreender melhor os chimpanzés e o papel dos humanos em proteger seu habitat e a saúde do planeta como um todo.Goodall foi pioneira em seu campo, tanto como mulher cientista na década de 1960 quanto por seu trabalho estudando o comportamento dos primatas. Ela abriu caminho para várias outras mulheres seguirem o mesmo percurso, incluindo a falecida Dian Fossey.Ela também aproximou o público da vida selvagem ao se associar à National Geographic Society para mostrar seus amados chimpanzés por meio de filmes, TV e revistas.Goodall rompeu normas científicas da época, dando nomes em vez de números aos chimpanzés, observando suas personalidades distintas e incorporando relações familiares e emoções em sua pesquisa. Ela também descobriu que, assim como os humanos, eles utilizam ferramentas.“Descobrimos que, afinal, não existe uma linha nítida que divida os humanos do resto do reino animal”, disse em uma palestra TED em 2002.Conforme sua carreira evoluiu, ela mudou o foco da primatologia para a defesa do clima, após testemunhar a devastação generalizada dos habitats, pedindo ao mundo ações rápidas e urgentes contra as mudanças climáticas.“Estamos esquecendo que fazemos parte do mundo natural”, disse à CNN em 2020. “Ainda existe uma janela de tempo.”Em 2003, foi nomeada Dama do Império Britânico e, em 2025, recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade dos Estados Unidos.Rumo ao QuêniaNascida em Londres em 1934 e criada em Bournemouth, no litoral sul da Inglaterra, Goodall sonhava há muito tempo em viver entre animais selvagens. Ela dizia que sua paixão pelos animais, despertada pelo presente de um gorila de pelúcia dado por seu pai, cresceu à medida que mergulhava em livros como “Tarzan” e “Dr. Dolittle”.Ela deixou seus sonhos de lado ao terminar a escola, por não poder pagar uma universidade. Trabalhou como secretária e depois em uma produtora de cinema, até que o convite de uma amiga para visitar o Quênia colocou a selva — e seus habitantes — ao seu alcance.Após juntar dinheiro para a viagem de navio, Goodall chegou ao país da África Oriental em 1957. Lá, um encontro com o famoso antropólogo e paleontólogo Louis Leakey e sua esposa, a arqueóloga Mary Leakey, colocou-a no caminho de trabalhar com primatas.Sob orientação de Leakey, Goodall fundou a Reserva de Chimpanzés de Gombe Stream, mais tarde renomeada Centro de Pesquisa de Gombe Stream, às margens do Lago Tanganica, na atual Tanzânia. Ali, ela descobriu que os chimpanzés comiam carne, travavam guerras ferozes e, talvez mais importante, criavam ferramentas para capturar cupins.“Agora precisamos redefinir ferramenta, redefinir homem ou aceitar chimpanzés como humanos”, disse Leakey sobre a descoberta.Embora tenha interrompido a pesquisa para conquistar um doutorado em Cambridge, Goodall permaneceu anos na selva. Seu primeiro marido e colaborador frequente foi o cinegrafista de vida selvagem Hugo van Lawick.Por meio da cobertura da National Geographic, os chimpanzés de Gombe Stream logo se tornaram conhecidos do público — o mais famoso deles, batizado por Goodall de David Greybeard, por sua faixa prateada de pelos.Quase trinta anos depois de chegar à África, ela percebeu que não poderia apoiar ou proteger os chimpanzés sem enfrentar a dramática destruição de seus habitats. Compreendeu que precisaria olhar além de Gombe, deixar a selva e assumir um papel global maior como conservacionista.Em 1977, ela fundou o Instituto Jane Goodall, uma organização sem fins lucrativos dedicada a apoiar as pesquisas no local, bem como esforços de conservação e desenvolvimento na África. Desde então, o trabalho se expandiu pelo mundo, incluindo iniciativas de educação ambiental, saúde e advocacia.Ela construiu um novo papel para si mesma, viajando em média 300 dias por ano para se reunir com autoridades locais em diversos países e conversar com comunidades e grupos escolares. Continuou viajando até o fim da vida, participando da Climate Week em Nova York na semana passada.Mais tarde, ampliou o instituto para incluir o programa Roots & Shoots, voltado à conservação e educação de crianças.Foi uma mudança radical em relação ao seu trabalho inicial, de longos dias observando chimpanzés.“Nunca deixa de me surpreender que exista essa pessoa que viaja e faz todas essas coisas”, disse ela ao New York Times em 2014, durante uma viagem ao Burundi e de volta a Gombe. “E essa pessoa sou eu. Não parece ser eu.”Autora prolífica, publicou mais de 30 livros com suas observações, incluindo o best-seller de 1999 “Reason for Hope: A Spiritual Journey”, além de uma dúzia voltada para o público infantil.Goodall sempre disse que nunca duvidou da resiliência do planeta nem da capacidade humana de superar desafios ambientais.“Sim, há esperança… Está em nossas mãos, nas suas mãos, nas minhas mãos e nas de nossos filhos. Depende realmente de nós”, afirmou em 2002, incentivando as pessoas a deixarem “a menor pegada ecológica possível”.Ela teve um filho, conhecido como “Grub”, com van Lawick, de quem se divorciou em 1974. Van Lawick morreu em 2002. Em 1975, casou-se com Derek Bryceson, que morreu em 1980.Macacos sequestram filhotes de outra espécie e intrigam cientistas