O dia é vermelho para os ativos locais, após um ensaio de bons ventos na abertura da sessão virar para queda do Ibovespa, alta do dólar rumo aos R$ 5,40 e avanço dos juros futuros por toda a curva nesta quinta-feira (2). O movimento parecia refletir apenas o cenário externo, com expectativas por cortes de juros nos EUA esfriando após um dado desanimador do mercado de trabalho americano e diante da falta do payroll na sexta (3), devido ao shutdown. No entanto, outro assunto entrou no radar do mercado: a possibilidade do avanço de pautas locais que pressionem ainda mais as contas públicas.A bola da vez é o rumor de que o Ministério da Fazenda já estaria trabalhando nos cálculos de um projeto com o objetivo de zerar a tarifa de ônibus em todo o país. Ao Jornal do Grande ABC, o deputado Jilmar Tatto (PT) afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou ao ministro Fernando Haddad que “prepare estudos para implementar e lançar ainda este ano” um programa federal para isentar a passagem de todos os modais para transporte coletivo de passageiros, que teria custo estimado de R$ 100 bilhões por ano.O InfoMoney procurou o Ministério da Fazenda para pedir esclarecimentos e aguarda resposta.Segundo a agência Reuters, agentes de mercado passaram a precificar a concretização de projetos como o da tarifa zero, vendendo ativos locais com o receio de que iniciativas como essa possam se multiplicar com a proximidade do ano eleitoral e gerar impacto fiscal.O projeto de tarifa zero não é novo, já tendo circulado há alguns dias em Brasília, mas até então sem exercer influência sobre os preços. A situação, dizem participantes do mercado, teria mudado logo após vitória incontestável do governo na aprovação do projeto de isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil, junto com a tributação das rendas mais altas. Foi a terceira maior vitória de um projeto na história do Plenário da Câmara, e a maior por unanimidade.Ativos cedemComo resultado do temor fiscal, o Ibovespa acelerou a queda e perdeu os 144.000 pontos, na contramão de Wall Street, enquanto o dólar subiu a R$ 5,37 e os juros DI para janeiro de 2027 subiram 16 pontos-base, para 14,13%, e os de janeiro de 2035 marcavam 13,685%, em alta de 19 pontos-base, mesmo com os títuloos dos EUA (Treasuries) em estabilidade.“A proposta, estimada em R$ 100 bilhões anuais, seria financiada por novas taxações, mas mercados veem risco de expansão de gastos sem contrapartidas sólidas, o que contraria a meta de déficit zero para 2025”, avalia Norberto Sangalli, broker da mesa de alocação da Nippur Finance.Para o Itaú BBA, as receitas do governo federal permanecem em níveis elevados, com despesas mostrando sinais de aceleração marginal. “Olhando para o futuro, acreditamos que o governo está a caminho de atingir sua meta de déficit primário de -0,6% do PIB para 2025, mas atingir a meta em 2026 será desafiador”, ressaltam os analistas da casa em relatório.Sangalli, da Nippur, no entanto, opina que o impacto no curto prazo da possível proposta pode ser limitado se visto como estudo preliminar, mas em um contexto de sensibilidade fiscal, contribui para o aumento nas curvas de juros e pressão sobre o real.The post Bolsa cai e dólar e juros sobem na contramão do exterior nesta 5ª; o que explica? appeared first on InfoMoney.