Com a diminuição da poluição no rio Sena, peixes que haviam desaparecido estão voltando à capital francesa e seus arredores, à medida que a qualidade da água melhora. No entanto, outras espécies estão sendo expulsas por invasores de crescimento acelerado, como os gobídeos vindos do leste europeu.A conclusão foi divulgada em um censo anual realizado no fim de julho pelo hidrobiologista Franck Renard e sua equipe, a pedido do SIAAP, sindicato responsável pelo saneamento da região metropolitana de Paris.A técnica utilizada é eficaz: aos pés da Torre Eiffel, em um pequeno barco a motor equipado com gerador, os pesquisadores mergulham uma haste que emite uma corrente elétrica por alguns segundos. O impulso atrai e paralisa os peixes em uma área de cerca de dez metros quadrados, permitindo capturá-los facilmente com uma rede.Essa técnica é autorizada apenas para fins de pesquisa e os peixes são soltos após o registro. Após duas horas de coleta, Renard separa os espécimes por espécie em baldes com água e os mede. A operação é completada com censos em outros pontos do Sena e em um de seus afluentes, o rio Marne.Já na primeira manhã de trabalho em Paris, uma boa notícia: foi capturado um chabot, pequeno peixe histórico do Sena, classificado como vulnerável na Europa e que só sobrevive em águas de boa qualidade. A espécie havia desaparecido nos anos 1970, quando os níveis de nitrogênio e fósforo eram elevados devido ao despejo de esgoto.Outras espécies também estão retornando, como o lúcio, peixe de grande porte, muito apreciado por pescadores amadores. “O lúcio é uma espécie guarda-chuva: se ele está bem, significa que muitas outras também estão”, explica Charlie Rozpeczny, da União dos Pescadores de Paris, que acompanhava o censo.Hoje, há entre 35 e 40 espécies no Sena e no Marne, o dobro do que havia há 30 anos. Nos anos 1970, eram apenas três, segundo o SIAAP.Espécies exóticas invasorasDesde então, as técnicas de descontaminação melhoraram e os despejos industriais diminuíram significativamente. O Sena foi oficialmente declarado próprio para banho em julho.Por outro lado, espécies exóticas invasoras começaram a ocupar o rio, prejudicando os peixes nativos. “A população de chabots voltou a diminuir nos últimos cinco ou seis anos”, observa Renard.O “culpado” é o gobídeo, identificado pela mancha preta na nadadeira dorsal. Esse peixe compete diretamente com o chabot por alimento, devora ovos e se reproduz muito mais rapidamente. “Quatro anos atrás, não víamos nenhum. Agora, só tem isso”, lamenta o biólogo.Renard atribui a chegada dos gobídeos ao canal escavado nos anos 1990 para navegação comercial entre o Danúbio, de onde vêm, e o Reno. Isso permitiu que os gobídeos se espalhassem por diversos rios da Europa Ocidental, nadando ou presos nos tanques de lastro dos navios. Leia também Mundo Despoluição: primeiros banhistas se aventuram no rio Sena, em Paris São Paulo Moradores ignoram poluição e pescam peixe na Billings: “Dá pra comer” São Paulo Vídeo: poluição mata toneladas de peixes no minipantanal paulista Distrito Federal Piora índice de poluição na água de rio atingido por lixão que desabou Embora o Sena esteja mais limpo, o aquecimento global representa outra preocupação. “As ondas de calor podem afetar as plantas aquáticas, como os herbários, e acelerar a decomposição da matéria orgânica”, explica Jérémy Duché, agente da AAPPMA (Associação de Pesca e Proteção do Meio Aquático) em Levallois-Perret, município ao noroeste de Paris.Esse processo enriquece excessivamente a água, e em caso de poluição, como o transbordamento de esgoto, pode ocorrer a eutrofização: “isso reduz o nível de oxigênio na água e pode causar a morte de peixes”, alerta Duché.Algumas espécies são mais vulneráveis, como o lúcio, muito sensível à falta de oxigênio, a ablete e as carpas, que podem desenvolver doenças como a virose da primavera, favorecida por grandes variações de temperatura.O Sena, que deságua no Canal da Mancha, tem cerca de 775 km de extensão e atravessa principalmente a região parisiense.